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sábado, 28 de janeiro de 2017

Custa a acreditar

Nos últimos dois dias de telejornais, já depois de terminada a original novela de produção, montagem e interpretação nacional denominada TSU, voltamos à normalidade local. Foi por isso que vimos a dirigente do BE sentenciar que "uma má decisão do PSD deu origem a uma boa decisão do Governo" sendo que o malvado erro do PSD foi votar a favor da virtuosa proposta do mesmo BE. Uma boa decisão -votar contra o BE - seria deixar passar uma má decisão do governo que o BE apoia para governar. E, claro, terminou, condescendente, que o melhor era "deixar a direita perdida no seu labirinto".
Por seu lado, o PCP reclama que foi a "luta e a mobilização dos trabalhadores" que impediu a aleivosia governamental e não reconhece qualquer mérito à tenebrosa direita sem a qual a medida teria passado. Foi também nestes dias, ontem, que ouvimos o líder da UGT dizer que não admite a conversações à mesa da concertação social a CGTP  para discutir a novel descida do PEC, porque isso seria "premiar o infrator" que não assinou o acordo agora aditado para "não sujar as mãos" ao que a CGTP respondeu com desprezo que realmente não tem "as mãos sujas" com acordos seja com que governo for, incluindo com este, que apoia para governar.
Hoje, dia da Cimeira dos Países da Europa do Sul, ouvimos o Primeiro Ministro defender "mais Europa, mais integração, mais união" enquanto o BE lamentou que não se tenha aproveitado para exigir o fim do Tratado Orçamental e o PCP celebra ao longo de todo o ano a gloriosa revolução russa de 1917, como símbolo reafirmado da eterna liberdade e justiça dos povos.
Do outro lado do Atlântico, o Presidente Trump, esse promissor exemplo de alguém "fora do sistema" criado pelas televisões em concursos tipo Lago dos Tubarões ou qualquer coisa parecida, assina em direto para as televisões decretos presidenciais que pensávamos impossíveis,  com o gozo de quem desmancha Legos ao pontapé. E o cenario inclui os aplausos de um grupinho que o rodeia, muito composto para a imagem. 
E em tudo isto, nas suas relativas dimensões, nos custa a acreditar.
















9 comentários:

Unknown disse...

Enquanto tudo isso acontece o mundo "pula e avança" rumo a um Mundo Novo que pode vê-lo/lê-lo aqui:
http://paraisoehades.blogspot.pt/2017/01/opoder-e-os-homens-hahomens-que-de-modo.html

Carlos Sério disse...

"o malvado erro do PSD foi votar a favor da virtuosa proposta do mesmo BE"

A POLÍTICA DO BOTA-ABAIXO E AS DIVISÕES NO PSD

Ao contrário do que os acólitos de Coelho não param de propagandear depois do episódio da TSU, o PSD, com esta sua nova táctica parlamentar do bota-abaixo, votando contra e ao lado do PCP, BE e PEV e negando a sua doutrina e prática política anterior, não coloca o governo em posições parlamentares delicadas como esperaria mas, isso sim, coloca-se a si próprio em situações muito desconfortáveis.

O PS poderá propor a votação parlamentar, por exemplo, um voto de congratulações e incentivo à Cimeira dos países do Sul do euro ocorrida ontem em Lisboa.
Qual seria nestas condições o sentido de voto do PSD?
E, como esta, outras propostas de cariz semelhante poderiam ser apresentadas pelo PS a votação no Parlamento o que colocaria o PSD em conflito consigo próprio e numa situação muito desconfortável. De um lado, a sua posição de bota-abaixo, do outro a fidelização à sua matriz ideológica.
Para que lado penderia a sua votação? Se votasse contra, reafirmava e era coerente com a táctica política do bota-baixismo desacreditando contudo a sua doutrina, se votasse a favor, desdizia a sua nova táctica mas mantinha a sua coerência ideológica.
Será que tal comportamento não acentuará mais ainda as divisões que já se manifestam no seio do PSD?


Anónimo disse...

Cara Suzana, claro que não custa a acreditar. O que está a acontecer em vários domínios é a evolução natural dum monte de tropelias feitas nos últimos trinta anos. Parece-me, aliás, que ao longo dos anos fui aqui falando nalguns dos resultados do que era, então, futuro e é agora presente. Nada de extraordinário.

Algumas notinhas sobre pontos específicos seus.

1) Cimeira dos Países do Sul: é paradoxal numa cimeira desse cariz vir alguém defender "mais Europa". São precisamente essas cimeiras (como as dos quatro de Visegrado ou a dos fundadores da CEE) que enfraquecem a UE como um todo ao pôrem a nú as diferenças de interesses dos vários países. Por outro lado essas cimeiras são perfeitamente naturais no contexto do que é a UE, um ajuntamento contra-natura semelhante a atirar para dentro do liquidificador açuçar, água, azeite, beterraba, argila e uma pitada de petróleo. Do liquidificador sairia uma mistela que tornaria inaproveitavel qualquer dos ingredientes. A UE assemelha-se a isto, sempre se assemelhou e portanto estas cimeiras não são minimamente surpreendentes.

2) PCP e a Revolução Russa de 1917: é esperado que a celebrem. Não deixo de me interrogar, porém, sobre o que aconteceria se algum partido decidisse comemorar o dia em que Hitler ou Mussolini alcançaram o poder. É um caso de imprensa branca e imprensa negra. Nada mais.

3) Decretos de Trump: porquê impossiveis? O bom senhor nunca escondeu ao que vinha e foi votado pelos cidadãos Americanos com base nas suas propostas. De resto, no geral, nem vejo nada de extraordinário no que tem decretado até ao momento. Agora, e isto é relevante, para perceber convém ir mais longe do que a imprensa generalista. Por exemplo, esta coisa dos imigrantes, a que a imprensa tem chamado "Muslim Ban" não só não é um ban aos muçulmanos como tem as suas origens na administração Obama. Entre vários outros pormenores.

All in all? Nada de novo debaixo do Sol. Os eventos sucedem-se conforme o esperado.

Rui Fonseca disse...


Estimada Susana Toscano,

Nesta sua reflexão só não concordo com o título.

Porque o que refere era, e continua a ser, muito previsível.
Os extremos tocam-se, concluiu há muito a filosofia popular.
Para justificarem as suas irredutíveis posições os argumentos são os que forem precisos.
Para os comunistas e ex-comunistas, Putin é um razoável sucessor de Estaline. E, consequentemente, Trump um aceitável compagnon de route.

Domesticamente, os contorcionismos exibidos denunciam a mesma tendência.

Suzana Toscano disse...

Caro Carlos Sério em que consistiu afinal o milagre do " alargamento do arco da governação"? Repare que o problema não ê o PSD votar ao lado do BE, do PCP e do PEV, o problema é que esses aliados votam contra o PS! E posso concluir do seu comentário que afinal há questões essenciais em que o PS tem muito mais afinidades com o PSD do que com a composição em que se funda para governar. Não há habilidade nenhuma em unir-se no que concordam, a dificuldade, em qualquer coligação ou aliança, está precisamente em saber até que ponto vai a tal convergência que exige que cada um ceda o seu espaço. E não deixa de ser curioso ver a enorme preocupação com que o PS analisa as "incoerências" do PSD, deviam até estar muito contentes se isso for mau para o adversário.
Caro Zuricher o que é falso é ignorar que os países que criaram a UE são todos iguais e não têm interesses divergentes, como tem acontecido sobretudo desde a crise. Por isso acho que pode ser positivo este tipo de Cimeiras, pelo menos é melhor do andar cada um a gemer para seu lado na sua pequenez relativa. Falei nas celebrações do PCP porque não haverá retrato mais dissonante dos partidos com pergaminhos democráticos e europeus, que se afirmaram politicamente na luta contra os que admiravam e ambicionavam internacionalizar o modelo soviético. O PCP que ergue a bandeira a Revolução Soviética foi gloriosamente recuperado para o lado dos que governam pelo Partido Socialista europeu e democrático. Claro que esta pequena incoerência não preocupa ninguém.
Quanto ao Presidente Americano, espero e admito que se vá temperando com a realidade do funcionamento das instituições democráticas americanas, mas impressiona-me realmente como assina decretos uns atrás dos outros, arvorando um poder próprio que não pensei ser tão fácil de impor.
Caro Rui Fonseca, tem toda a razão, por isso nunca gostei de extremismos, tantas vezes mascarados de legitimação democrática como se o voto não fosse apenas um pressuposto do exercício democrático.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Temos que passar a acreditar naquilo que há uns dias, meses ou anos atrás seria impensável? Está tudo a mudar. Só alguns estão preparados para isso, os que justamente decidem criar a sua pós-verdade, até que os outros acreditem e os sigam. Custa a acreditar, sim.

Anónimo disse...

Caras Margarida e Suzana, perdoar-me-ão mas não percebo onde pretendem chegar com a crítica aos decretos do presidente Trump. É uma questão de forma? As Executive Orders sempre foram usadas por todos os presidentes desde George Washington. É uma questão de conteúdo? O Presidente Trump está a fazer o que sempre disse que faria e nem sequer mais do que aqueles que o antecederam.

Perdoem-se se aparento alguma súbita curteza de vistas que me impede de perceber o vosso espanto mas efectivamente não vislumbro os seus motivos. Ou será que o que é diferente com o presidente Trump é o destaque negativo que a imprensa está a dar-lhe, inédito nos US? Muito pior do que com Bush filho, até.

Suzana Toscano disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Suzana Toscano disse...

Caro Zuricher, tem toda a razão quanto à guerra aberta que a comunicação social desencadeou, ao ponto de, decorridas as primeiras semanas, já se começar a ver o exagero em que caíram, correndo o risco de cair em descrédito, por muito criticáveis que seja a linha desafiadora do novo Presidente. É certo que o modo desabrido e muito pouco confiável com que as medidas são anunciadas fazem temer uma mudança muito pouco diplomática, mas é um facto que foi o que Trump prometeu e por isso mesmo a sua eleição foi tão receada. Houve o caso absurdo da "procuradora geral demitida" que afinal era uma funcionária da administração Obama que resolveu fazer política por conta própria enquanto aguardava substituição. A nomeação do novo juiz para o supremo, tão envolta em suspense por causa do radicalismo que aí viria, afinal era para substituir um juiz que era conhecido pelo seu conservadorismo radical. Enfim, ontem ouvi a notícia dada em tom de escândalo que um antigo primeiro ministro norueguês tinha sido interrogado à entrada nos EUA por causa do carimbo no passaporte de uma ida ao Irão. Ora, há muito tempo que quem tem carimbos de visitas a alguns países tem que explicar por que motivo lá foram. Não digo que é bem ou mal, o que sei é que não é novidade trumpiana e até hoje não tinha sido notícia. Enfim, aguardemos que acabem os excessos de um lado e de outro para podermos perceber realmente o que está a mudar do lado de lá do Atlântico e na Europa. Duvido muito que seja para nossa tranquilidade e esperança num mundo melhor.