1. Arnaud de Montebourg , um dos candidatos à
nomeação para a corrida à Presidência da República de França, pelo PS – conotado com a ala esquerda do partido e
ex- Ministro de Hollande, de quem se
afastou por discordâncias quanto à política de reformas económicas e à política
orçamental - revelou na semana finda as principais linhas da sua candidatura.
2. Montebourg avança com um programa que ele
próprio qualifica de “patriotismo económico”, incluindo medidas como (i) o
favorecimento das empresas nacionais nos concursos públicos, (ii)
restabelecimento dos controlos de fronteiras e (iii) uma política comercial
destinada a enfrentar sobretudo a China, um princípio de guerra comercial.
3. Para além disso e como é evidente, fustiga a
política orçamental de alguma contenção seguida pelo governo de Hollande,
chegando mesmo a dizer que esta política vai abrir a porta da Presidência à
extrema direita, se não for agora nas próximas eleições.
4. Ele preferia um Estado que investisse fortemente
em infraestruturas públicas, sem preocupações quanto aos impactos orçamentais
de tal política.
5. As semelhanças com a retórica económica do
Presidente Trump são absolutamente notáveis e mais notável ainda é o facto da
divulgação das ideias de Montebourg ter suscitado grande entusiasmo nas
fileiras do PS, tendo passado de candidato tido como perdedor para candidato com hipóteses de obter a
nomeação.
6. Como este Mundo está a mudar e como, a final, as
esquerdas, pelo menos a francesa, que dizem abominar a retórica política de
Trump, acabam por lhe seguir o guião do patriotismo económico !!!
7. Decorrendo amanhã a 1ª volta das primárias do PS
francês com vista à nomeação do candidato à Presidência, veremos quais as reais chances de Montebourg vir a ser
o candidato.
2 comentários:
UMA OUTRA LEITURA SOBRE OS PROPÓSITOS DE DONALD TRUMP
O que irrita e enfurece verdadeiramente a elite social, política, económica e financeira mundial, não são tanto as declarações e propostas mais condenáveis de Donald Trump, como o seu projecto de expulsar os 11 milhões de imigrantes ilegais latinos ou as suas declarações sobre o "engano" da mudança climática ou ainda a sua afirmação de que o matrimónio tradicional, formado por um homem e uma mulher, é "a base de uma sociedade livre", mas o que ele se propõe executar na esfera financeira, económica e social e que constitui realmente uma real ameaça à ordem neoliberal mundial, ao establishment, às elites financeiras, económicas, políticas, intelectuais e mediáticas mundiais.
É por esta razão, que assistimos através dos meios de comunicação social, à agitação em que vivem no momento as forças do establishment, do “pensamento único”, da América à Europa, e da fúria com que investem contra o novo Presidente dos USA.
A ordem neoliberal tem como um dos seus principais fundamentos a desregulação dos mercados, económicos e financeiros.
Acontece que Donald Trump se propõe contrariar tais princípios.
Deseja o restabelecimento da Ley Glass-Steagall. Aprovada em 1933, em plena Depressão, esta lei separou a banca comercial da banca de investimentos com o objectivo de evitar que a primeira pudesse fazer investimentos de alto risco, sendo revogada na presidência de Clinton. Donald Trump propõe-se, por outro lado, aumentar significativamente os impostos dos Hedge Funds, que segundo ele ganham fortunas na especulação financeira. Ora, todo o sector financeiro se opõe absolutamente ao estabelecimento destas medidas.
Ao denunciar a globalização económica Donald Trump investe uma vez mais contra a ordem neoliberal estabelecida e cultivada até aqui pela comunidade europeia e pelos USA, pela senhora Merkel e por Obama.
Ele denuncia a globalização económica e considera que a economia globalizada está falhando a cada vez mais gente, recordando que, nos últimos 15 anos, nos Estados Unidos, mais de 60.000 fábricas tiveram que fechar e quase cinco milhões de empregos industriais bem pagos desapareceram.
Afronta igualmente a ordem neoliberal e os pressupostos da globalização, ao manifestar-se a favor do Brexit, e ao pretender taxar os produtos importados e ao denunciar, os tratados comerciais NAFTA e TPP.
Um outro atentado à ordem neoliberal por si anunciado é o propósito de mudar os fundamentos da Nato.
Ora, a Nato passou a constituir a partir dos anos 80, o suporte militar da ofensiva económica, da expansão económica, da nova ordem neoliberal. Pretender retirar a Nato deste objectivo é para o establishment neoliberal uma profunda derrota e algo inaceitável de todo.
As guerras provocadas pela expansão económica do neoliberalismo, como as do Iraque, da Síria e da Líbia estão fora dos propósitos de Donald Trump. Uma aproximação à Rússia e um eficaz combate ao Daesh são decisões igualmente contrárias às ambições da ordem neoliberal.
Por outro lado, quando Donald Trump afirma que “os outros países são livres de seguirem o seu caminho, de pensarem de modo diferente” ele rejeita assim a hegemonia do “pensamento único”, da expansão hegemónica ideológica do neoliberalismo o que constitui sem dúvida um ataque severo, uma autêntica heresia, aos dogmas neoliberais e às ambições das elites económicas, financeiras, políticas e mediáticas dos USA e da UE.
A neoliberal Marisa Matias deveria ler este excelente texto com toda a atenção: para ver se é capaz de entender o que realmente significa esta nova ordem económica mundial, e não se deixar arrastar para as inconsequentes e contraditórias campanhas de rua contra Donald Trump!
Pela minha parte, subscrevo, não a 100% mas em % bastante elevada, as considerações deste comentário.
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