1. A divulgação pelo BdeP, na corrente semana, do
resultado das contas externas para 2016, revelou uma surpreendente melhoria do
saldo externo global (Balança Corrente + Balança de Capital): um superavit de €
3.154,4 milhões, superior em quase € 1.000 milhões ao registado em 2015 (€
2.233,3 milhões).
2. A melhoria do saldo global ficou a dever-se,
inteiramente, ao forte aumento do saldo da Balança Corrente – que atingiu €
1.556,3 milhões contra € 123,9 milhões em 2015 – posto que se verificou uma
diminuição do saldo da Balança de Capital, de € 2.109,4 milhões em 2015 para €
1.596,1 milhões em 2016.
3.
No tocante à Balança Corrente, registaram-se as
seguintes variações:
(i)
A rubrica Bens e Serviços apresentou um
superavit de € € 4.065,2 milhões, superior em € 900 milhões ao de 2015;
(ii)
A rubrica Rendimentos (Primário + Secundário), exibiu
um défice de € 2.518,9 milhões, inferior em € 522,5 milhões ao de 2015.
4. Cumpre destacar, nos Bens e Serviços, o forte
aumento do superavit dos Serviços, que passou de € 12.435,5 milhões em 2015
para € 13.140,8 milhões em 2016 (+ € 705,3 milhões), mais do que explicado pela
melhoria na rubrica Turismo, que registou um excedente de € 8.830,6 milhões,
superior em € 991,7 milhões ao de 2015.
5. Quanto aos Bens, o défice (crónico, recorde-se),
foi pouco inferior ao de 2015: € 9.075,6 milhões em 2016 face a € 9.270,1
milhões em 2015.
Neste caso, a acrescida
“bonanza” dos preços do petróleo explicará a totalidade da diminuição.
6. Comecei por dizer que este resultado, bem melhor
que o esperado, surpreendeu pela positiva, destacando o que se passou com a
diminuição do saldo negativo dos Rendimentos: em Julho este saldo negativo
evidenciava ainda um agravamento de € 1.200 milhões em relação ao ano anterior
e, no final do ano, como referido em 3., o saldo negativo registado caiu € 522,5 milhões!
7. Como interpretar estes números globais tão favoráveis?
Uma explicação plausível consistirá no facto de a restituição de
rendimentos às Famílias, via OE, não ter sido, em termos líquidos, tão
expressiva como se pensará, em consequência da punção fiscal, nomeadamente em
sede dos impostos indirectos.
8. A Balança de Pagamentos constitui o termómetro mais
fiável do carácter mais ou menos expansionista da política económica (a
orçamental, no caso em apreço), não se engana...
9. Basta notar que em 2015 o superavit da Balança
foi inferior ao de 2014 em € 375 milhões, apesar da “bonanza” dos preços do
petróleo e dos fortes ganhos no Turismo…o que reflectiu o expansionismo da
política orçamental, após a saída da Troika…
10. Veremos o que nos reserva o ano 2017...
5 comentários:
Sr. Dr. Tavares Moreira:
O que refere terá algo a ver com isto?
Austeridade em Portugal “neutralizou em parte” efeitos positivos das reformas
Concluiu o Instituto de Investigação Económica Alemão (DIW)
Estes alemães são uns verdadeiros crânios.
Como conseguiram descobrir isto?
Fantástico!
Se tivessem cá vivido entre 2011 e 2014 tinham descoberto mais facilmente, com saber de experiência feito.
https://eco.pt/2017/02/22/austeridade-em-portugal-neutralizou-em-parte-efeitos-positivos-das-reformas/
Caro Manuel da Silva,
Boa noite.
Não me parece que exista conexão entre o teor do Post e a opinião que refere (e á qual não dou grande crédito, para lhe ser franco).
A inversão do insustentável desequilíbrio das contas com o exterior, que chegou a atingir 10% do PIB em 2010 e que colocou em risco a solvabilidade externa do País, foi uma das conquistas mais importantes das políticas que tem sido habito designar por "austeridade".
Tão importante que, com toda a evidência - neste Post apresentada - os novos responsáveis pela política económica não pretendem dela abdicar...
Sr. Dr. Tavares Moreira:
Muito obrigado pela sua resposta.
Eu não ponho em causa, nem a situação limite a que chegámos em 2010 (embora não reduza as razões da mesma à acção de uma pessoa, como por razões de mera luta político-partidárias muitas pessoas fazem, por pior que essa pessoa seja, e já vimos o suficiente para crer que é), nem a necessidade de fazer sacrifícios, praticar austeridade.
A questão que o estudo do Instituto Alemão põe é ligeiramente diferente, são os efeitos negativos da austeridade que podem levar à anulação de parte dos seus benefícios.
O que entre nós ficou popularizado pelo então 1.º ministro por «sim, queremos ir além da Troika».
Fiz-lhe a pergunta porque, quer se goste ou não, e sem discutir outros aspectos menores agora aqui para este caso, este governo fez um «pot pourri» de austeridade q. b. e estímulo ao consumo interno q. b.
Ou os bons resultados que se têm conseguido, especialmente a partir da 2.ª metade de 2016: défice; desemprego; aumento do investimento privado, excedente comercial, crescimento homólogo, etc, devem-se a outros factores externos à opção, talvez mesmo externos ao país?
Caro Manuel Silva,
Existem diversos factores, internos e externos, que contribuíram para que o desempenho da economia e das finanças públicas tenha, em 2016, excedido as expectativas dos analistas (e do próprio governo).
Mesmo que o desempenho da economia não tenha sido famoso - não foi, de facto, quando comparado por exemplo com o desempenho médio da zona Euro (+1,9%) - a verdade é que, por ter ultrapassado as espectativas, que eram baixas, a impressão que fica é positiva.
Quanto às medidas de política adoptadas em Portugal, embora algumas delas não sejam do meu agrado, também não posso deixar de reconhecer que, pelo menos por enquanto, não colocaram em causa os equilíbrios fundamentais e não obstaculizaram o desenvolvimento de sectores que estão na vanguarda da actividade - turismo, exportações.
Aguardemos que assim continue a ser.
AFINAL, QUEM ANDOU COM O “PASSO ERRADO”?
O QUE DIZIA PINHO CARDÃO EM A 1 DE JUNHO EM 2016, AQUI NO IV REPUBLICA: “Depois dos continuados avisos do Conselho das Finanças Públicas, depois das repetidas chamadas de atenção da UTAO, Unidade Técnica de Apoio Orçamental, depois dos sucessivos alertas do Banco de Portugal, depois das contínuas prevenções da União Europeia e do Banco Central Europeu, é agora, e mais uma vez, a OCDE a dizer que as opções políticas e económicas do governo só podem trazer mais défice, mais dívida, menos investimento, menor crescimento e, assim, mais desemprego.
Perante a situação, o 1º Ministro não arrepia caminho. O que não admira, pois há muito que enterrou a cabeça na areia. Não ouve, nem vê que marcha a destempo e com passo errado.”
E, TAVARES MOREIRA A 08 DE FEVEREIRO DE 2016: “Acresce que, segundo a generalidade dos analistas, a margem para erro (“fiscal buffer”) deste 0E/2016 aparenta ser quase inexistente, o que coloca um risco bastante elevado de incumprimento dos objectivos orçamentais, máxime o défice de 2,2% do PIB.
Tem a palavra a economia: quererá esta aguentar, pacificamente, mais esta prova de desconsideração, pagando a elevada factura que lhe é imposta, ou, pelo contrário, pretenderá “vingar-se” do Estado, impondo a necessidade de um OE Rectificativo lá para o Verão?”
E, ANTES, A 26 DE JANEIRO DE 2016: “Em minha opinião, o Projecto de Plano Orçamental é uma daquelas aventuras que, apesar de calculadas (o Plano é sempre uma aventura calculada, como dizia o velho Pierre Massé, pai do planeamento económico em França), contém uma dose de “wishful thinking” que nos vai trazer problemas, já este ano.”
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