Escreve-se imenso sobre as ditas figuras públicas. Penso que é excessivo, não porque não mereçam, mas por provocar conflitualidades e indisposições. Para os próprios isso não deve ser coisa de maior, preferem dar pouca importância, ou, até, ignorar as “atenções”, a relembrar aquele estranho princípio com o qual nunca concordei, “não interessa que falem mal de mim, desde que falem”. Não sei se esta afirmação terá algum valor.
Compreendo que temos de falar dos outros, sobretudo os que têm responsabilidades. Há quem aceite tudo o que fazem e dizem, e há os que nem os podem ver nem mesmo com “molho de tomate”. Aqui está outra criação nacional. “O molho de tomate” é utilizado para confecionar muitos alimentos. Deve ser verdade atendendo às carradas de frascos e mais frascos que a minha empregada compra todas as semanas.
Voltando à vaca fria, mais um dito precioso tipo gastronómico, e logo eu que não aprecio carnes frias, existe entre aqueles dois extremos, os aduladores e os predadores, um vastíssimo conjunto de pessoas com sentimentos e opiniões diversas para todos os gostos.
Algumas pessoas babam-se, é o termo correto, para tocar noutras ou para tirar fotografias, as quais irão ser a “prova provada” da sua importância, nestes casos por contágio direto ou por terem respirado os mesmos miasmas. Pessoalmente admiro mais os putos que colecionam cromos da bola.
As pessoas têm necessidade de ser reconhecidas e/ou admiradas. Acho muito bem, assim como é positivo que os seus admiradores ou adeptos possam apreender comportamentos, princípios ou estilos de vida que lhes permitam ser melhores e mais “humanos”… Nesta base, considero útil que os “toquem”, que “recolham” as suas assinaturas ou “tirem” as famigeradas “selfies”. No entanto, reparo que muitas dessas individualidades não preenchem muitos dos requisitos e têm comportamentos ou maneiras que não sei se serão ou não adequados à formação das pessoas. Sinceramente, nunca tive esta espécie de apetite, prefiro pessoas pouco conhecidas ou mesmo visceralmente desconhecidas, mas que encerram tesouros do tamanho do mundo. Não sei se é por isto ou não que sou amiúde “atacado pelo bichinho” de contar histórias, a maioria das quais tiveram, ou têm, como protagonistas “gente simples e mortal”…
3 comentários:
Imortal, só esta nação valente em cujas praias um nobre povo, pariu heroicos marinheiros que partiram em busca e á conquista de mares e mundos sonhados, imaginados, mas que efetivamente se revelaram reais.
Será sina ou missão, esta enovelada "estranha forma de vida" que nos caracteriza e define ( )
Só compreendo a idolatria por figuras públicas, frequentemente transitórias, por, como refere, uma necessidade da espécie humana, talvez decorrente de outra imposição dos dos genes da espécie, nunca satisfeito com os deuses que fez crescer e multiplicar.
E, afinal, somos cada um de nós, senhores dos nossos destinos? Temos livre arbítrio, ainda que limitado.
Ortega y Gasset afirmava que, cito de cor, o homem é ele e as circunstâncias.
Penso que o homem é tão só a resultante que enfrenta no mar das circunstâncias em que é lançado no exacto momento em que, de entre muitos milhões de espermatozóides ejaculados, um atinge um óvulo que no período se soltou e ficou por pouco tempo à espera.
Einstein, provavelmente o expoente máximo dos limites atingidos pela inteligência humana nos tempos modernos, fez-se a ele mesmo ou foi apenas a resultante de um acaso primordial que lhe traçou o percurso durante toda a sua vida? O génio fez-se ou aconteceu por mero acaso?
E o filho dele, o Eduardo, com esquizofrenia revelada aos vinte anos? Fez-se
ou resultou do momento primordial do acaso incontornável de um encontro entre muitos milhões possíveis?
Não, não há génios, há acasos incontornáveis. Escolher no mar das circunstâncias implica optar sendo que a resultado, sempre incerto da opção, é sempre condicionado pela resultante do acaso primordial.
Saltando da ciência para o espectáculo, CR7 é um génio?
Não é. O homem nasceu com habilidades decorrentes de uma ejaculação de uns cento e cinquenta milhões de espermatozóides do sr. José Dinis Aveiro à procura de um óvulo da D. Maria Dolores dos Santos que nos começos de Maio de 1984 estava em posição de espera dele, circunstância que o lançou no mar das circunstâncias.
Tornou-se um deus, consagrado em estátua, que o tempo destruirá para dar lugar a outras estátuas de novos deuses.
A espécie humana é, naturalmente, religiosa. E nunca regateou pagar por isso. Frequentemente com a vida, em nome dos deuses.
E porquê? Porque sabe que é muito transitória a sua existência e ínfima a sua compreensão do universo. E adora ver quem nasceu para ser capaz de um pequeno pulo, um pulinho apenas, e momentâneo, acima do solo a que todos estamos irremediavelmente amarrados.
Gostei, Rui Fonseca.
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