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quinta-feira, 19 de maio de 2005

Instabilidade e desperdício

Passada a euforia das eleições, a novidade dos nomes que seriam escolhidos para esta ou aquela pasta, a denúncia mais ou menos escandalosa deste ou daquele acto do anterior governo, eis que a dura realidade volta a abater-se sobre o País.
Descemos nos últimos 5 anos 13 lugares no "ranking" da competitividade; o desemprego aumenta assustadoramente e não se vislumbra como voltar a inverter a situação; o défice, essa "maníaca preocupação" por tantos desdenhada, aí está com redobrada violência...
Julgariam as pessoas que os males desaparecem só por não os querermos encarar? Que misteriosa força deveria intervir para nos evitar o esforço, o trabalho e a persistência que aos outros foi indispensável? Não há optimismo nem esperança que valha a quem cruza os braços ou persiste em manter comportamentos que conduziram a tão mau porto.
Um dos factores identificados como muito negativo é a instabilidade das políticas e a interferência política nos serviços públicos. A Administração Pública, esse inevitável bode espiatório das nossas desgraças - e com bastante razão - é permanentemente sujeita às flutuações de orientação e a mudanças dos quadros dirigentes. Que empresa resistiria a esse ritmo de sobressaltos?
Sendo este um facto de mediana evidência e talvez um dos problemas de mais fácil resolução, seria de esperar que se pusesse termo à prática sistemática de escolher como primeiro alvo de actuação política a mudança mais ou menos generalizada dos dirigentes de topo, procurando preservar alguma estabilidade e permitir a continuação do trabalho realizado. No mínimo, seria de elementar sensatez avaliar o desempenho dos responsáveis e só em caso de ele ser insatisfatório se proceder àsubstituição.
Mas não.A que assistimos agora, uma vez mais? À fase das demissões e das nomeações, listas e listas de novos gestores, dúvidas ameaçadoras sobre a permanência dos que ainda não terminaram as suas comissões de serviço, enfim, uma instabilidade generalizada e uma desautorização em todas as frentes.
Fala-se dos objectivos que estavam previstos e do que não foi realizado? Fazem-se balanços das actividades e pontos de situação dos institutos e direcções gerais? Não fala. Fala-se de nomes, de perfis, de curricula dos indigitados, alguns apresentados como evidentes porque já tinham estado nos mesmos cargos, outros porque despontaram entretanto para a política e já ganharam notoriedade suficiente para serem "indigitáveis".
Fazemos de conta que os lugares são apenas isso - lugares, espaços a ocupar. O pior é que não são, é suposto corresponderem a uma actividade com sentido útil para os cidadãos, é suposto terem assegurado funções concretas e - o mais importante - é de admitir que houvesse a preocupação em garantir que essa função fosse desempenhada com a máxima competência.
Sempre considerei lamentável e politicamente condenável esta falta de respeito pelas instituições (e já em falo das pessoas em causa) e pelos cidadãos que julgavam que os "seus" serviços públicos estavam bem entregues.
É que, das duas, uma: ou estavam lá as pessoas certas, a cumprir bem a sua missão, e então é uma irresponsabilidade grave mudá-las só para satisfazer clientelas políticas do momento; ou quem tinha assumido o cargo não estava a ter os resultados que se exigiam, e por isso são substituidos.
Em qualquer dos casos, era essencial que se fizesse e desse a conhecer essa avaliação para fundamentar as decisões e dignificar os cargos dirigentes e a função dos serviços.
Assim, nesta dança de cadeiras e neste turbilhão de nomes, ficamos todos a perder - os que sairam, porque não se fez justiça ao seu trabalho; os que entram, porque sabem que o que vão fazer não será valorizado. E o País porque continua a ver degradar-se a qualidade dos serviços e a assistir impotente e de certa forma conformado ao desbaratar de tanto trabalho pago com o dinheiro dos contribuintes.

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