Reconheço que o fim de um dia de calor asfixiante passado em campanha eleitoral não será a altura mais indicada para fazer reflexões muito lúcidas. Mas, chegados que estamos a meio do período eleitoral, há uma impressão que é muito marcante e que não ajuda em nada os quixotescos entusiastas da participação activa na vida política, em que me incluo. Trata-se da generalizada descrença das pessoas na possibilidadede resolverem os seus problemas ou verem melhorar as suas condições de vida através da acção dos políticos.
Se bem que, de um modo geral, as pessoas sejam amáveis e cordatas e raramente se manifestem hostis, é no entanto muito frequente dizerem que "não ligam", que "tanto faz um Partido ou outro" ou mesmo "eu não me interesso por política". Quando abordadas individualmente, são em regra simpáticas, mesmo quando dizem que são de outro partido ou que não querem propaganda porque não lêem. Mas, se estão em grupo, ou do outro lado da rua, ouve-se com muita frequência o "são todos iguais", "se lá se apanham já não querem saber da gente" ou o tão temível mas cada vez mais frequente "são todos uns vigaristas".
Não há só um descrédito crescente, há uma desconfiança brutal e ao mesmo tempo um conformismo de quem não espera nenhuma solução. Para essas pessoas, em que se incluem muitos jovens, "eles", os que governam, são criaturas distantes, oportunistas e talvez mesmo indignas de lhes falarem. Nem percebem mesmo como nos misturamos com "eles", os governados, num acto de arrogância e falta de vergonha por nos assumirmos "na política".
É claro que há muitos bons momentos, como diz o Prof. Massano Cardoso no texto anterior, de convívio, de descoberta do País que somos, de belezas e horrores em que não tínhamos reparado. Mas que há desânimo também, isso há, sobretudo porque não se vê que a política esteja a ser reabilitada.
1 comentário:
A política não pode ser reabilitada enquanto a lei disser que todos os que não são funcionários públicos, políticos profissionais ou advogados ricos são incompatíveis com o desempenho de cargos públicos. E aqui não há volta a dar-lhe, porque quem aproveita 'o crime' é quem tem o poder de alterar o estado de coisas. Pior, com a tentativa de fechar a duração dos cargos públicos a coisa só tem tendência a agravar-se
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