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domingo, 16 de dezembro de 2007

“Placebo justiça”

Uma das principais queixas, tema habitual de conversa, prende-se com a justiça ou, melhor, a falta dela. É raro não sentirmos um sentimento de desconforto face a inúmeros acontecimentos do dia a dia que se abatem sobre nós. Às vezes até parece que é o próprio mundo!
A leitura de uma notícia sobre um autarca muito mediático, que foi acusado de corrupção e extorsão, permitiu uma pequena reflexão sobre as diferentes formas de fazer justiça. Na notícia, o arguido ou suspeito afirma “não estar preocupado, porque há pelos menos duas justiças que funcionam, a divina e a de Fafe”. Nem mais! Apesar de tudo confessa que acredita “mais” na divina. “Se estou inocente, a justiça divina tem de funcionar”.
Tenho dúvidas quanto à operacionalidade da última.
Recordo os meus tempos de jovem, em que face à sensação de injustiça de que era alvo (não esquecer que os jovens são muito sensíveis a estas matérias), haver sempre alguém pronto a “resolver” o problema invocando a divina providência. Entretanto, enquanto esperava pelo desfecho (!), o assunto ia desaparecendo.
Quanto á “justiça de Fafe” não me parece ser a mais correcta, apesar de ainda abundar em certos momentos. O já citado autarca parece que acredita nela, mas coloco-a atrás da outra. Receio de que lhe possam aplicá-la? Quem sabe!
A justiça humana, praticada com base em leis, normas e princípios, também, tem os seu quês. E não são poucos! São vários os relatos e muito mais as pessoas que se sentem injustiçadas pelas decisões e atrasos. Só o facto de ter que enfrentá-la intimida qualquer um, para não falar da ameaça, tão frequente, com os recursos aos tribunais, por situações que muito mais tarde acabam por se provar serem injustas e descabidas. Os autores das queixas até “sabem” utilizá-las como forma de denegrir e de azucrinar a paciência, e destruir a personalidade do alvo, provocando-lhes doença e mal-estar que perdura tempos infinitos. Às vezes até temo, por eles, quando, em alternativa, começam a invocar a justiça da “moca”. Tento demovê-los e, diga-se de passagem, sem fé nenhuma, invoco a tal justiça divina, como uma forma de placebo. Talvez funcione. Aparentemente ficam mais calmos, o tempo vai passando e muitos dos problemas acabam por ser resolvidos.
A justiça divina pode ajudar os inocentes, mas, no caso dos culpados tenho muitas dúvidas. Até hoje não foi proferida nenhuma sentença válida (as proferidas através dos tribunais inquisitórios não contam). Talvez estejam à espera que o “arguido” chegue “lá” para lhe comunicar pessoalmente a decisão e respectivo castigo...
A frase, proferida pelo autarca, “se estou inocente, a justiça divina tem de funcionar”, afinal, não me parece ser tão absurda como isso! Claro que se não estiver “inocente”, então, tem tempo de sobra para saber a verdadeira e “divinal” decisão...

2 comentários:

Bartolomeu disse...

"Recordo os meus tempos de jovem, em que face à sensação de injustiça de que era alvo (não esquecer que os jovens são muito sensíveis a estas matérias), haver sempre alguém pronto a “resolver” o problema invocando a divina providência. Entretanto, enquanto esperava pelo desfecho (!), o assunto ia desaparecendo."
Caro Professor, que não restem dúvidas, no nosso belo e soalheiro portugalzinho, é a justiça divina que prevalece, tal como o caro professor refere nos dois paragrafos que transcrevi do seu texto... enquanto se vai esperando que a justiça dos tribunais actue, passa o tempo e naturalmente tudo se vai esquecendo e consequentemente desaparecendo, ficando a justiça aplicada.
Os pretegueses são bué de ratos!!!

Sherr disse...

sempre do lado da força , sempre do lado da verdade