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sábado, 2 de fevereiro de 2008

Cem anos de Regicídio...

Contou-se ontem o centenário do Regicídio. Para além de uma missa em São Vicente de Fora – que todos os anos se celebra – o Presidente da República teceu elogios ao estadista que tivemos, perante o silêncio de uma Assembleia da República que se revelou incapaz de perceber e transmitir uma dimensão moral daquilo que estava em jogo.
Tal facto parece ser lamentável e prejudicial, numa época em que os países desenvolvidos e em desenvolvimento – como acontece, por exemplo, com a República Russa – se agarram ao seu activo histórico, não apenas por ser a referência que têm, mas sobretudo porque pretendem individualizar-se, congregar as suas populações no esforço nacional e impor-se em relação aos vizinhos e na cena internacional.
Algumas coisas foram ultimamente escritas (ou lembradas) sobre o rei D. Carlos I, homem de excepcional preparação, a qual lhe potenciou qualidades raras de intelecto, artísticas, de energia física e de afabilidade e de humor. Foi vítima, juntamente com o príncipe herdeiro, de um sistema político falido com dois partidos em permanente dilaceração, perante um espectáculo ruinoso da economia e finanças portuguesas. Da encomenda da sua morte estão sérias investigações por fazer.
Seria arriscado confundirmos aquilo que está em causa – a supressão de um estadista e do seu sucessor, patriotas portugueses – com preferências pelo sistema monárquico ou pelo sistema republicano. Mais uma vez, é o nosso País e todos os portugueses que perdem, sempre a favor de uma teimosia, fraqueza ou desinteresse em reconhecer méritos a portugueses já desaparecidos. D. Carlos I tinha força e inteligência, qualidades que bem precisamos na recuperação da auto-estima nacional e na melhoria do estado do País.

6 comentários:

Suzana Toscano disse...

Margarida, muito oportuno o seu post. As datas históricas devem ser lembradas para que constituam uma oportunidade de reflexão, de estudo e de divulgação da história e das suas teias tão complexas. Seria tempo de olhar o fim da monarquia sem preconceitos, quer para que se reparem eventuais injustiças, quer para que se tornem mais nítidos os factos que levaram à sua queda. A ética republicana teve um fundamento, pois que se recupere e renove, sob pena de também a monarquia entrar na galeria dos saudosismos estéreis. Aprende-se muito com a história, pena é que seja uma disciplina esquecida ou menorizada e se condenem os que por ela se interessam a futuros desempregados. Não é só a memória que dá alma a um povo, é a capacidade de olhar a história de um modo esclarecido, corajoso, para dela tirar as devidas lições.

Tonibler disse...

A política pela violência física foi um factor que se perdeu precocemente em Portugal. Hoje faz muita falta à nossa consciência colectiva termos tidos mais alguns políticos mortos pela bala ou em guerras civis.

António de Almeida disse...

-Pior, muito pior do que A.R. recusar um voto de pesar, foi um grupo de cidadãos, uma tal associação promotora do livre pensamento, organizar uma romagem ao túmulo dos assassinos, mas ainda mais grave, a C.M.Castro Verde, entidade oficial, homenagear Alfredo Costa. Podem consultar na webpage da autarquia. Aprovação de métodos, ou tolice provinciana para dar nas vistas?

Tavares Moreira disse...

Margarida,

Muito bem lembrado por si este dramático episódio da nossa história contemporânea - uma nota de fanatismo jacobino a manchar um cenário de luta política em que, à míngua de outros argumentos - mata-se, assassina-se!!
Tal como A. Almeida, confesso que me impressionou a iniciativa da C. M. Castro Verde de homenagear um assassino pelo simples facto de ter sido assassino!
Como resiste ainda esta secular menstruação jacobina na estrutura esclerótica de alguns políticos da nossa praça, é matéria e motivo para séria inquietação...
Poderá o SNS, apesar de em decomposição, encontrar ainda panaceia gratuita para esta maleita?

Nuno Castelo-Branco disse...

A complexidade da situação constitucional portuguesa durante o reinado de D. Carlos, está magistralmente explicada por Rui Ramos na sua obra alusiva ao monarca. Sendo hoje comandados por gente que entre a leitura de um Tio Patinhas, o passar dos olhos sobre a Flash! ou a Caras e uma trinca numa patanisca, não admira o estado de total ignorância em que o vulgo se encontra. Todos os preconceitos propagandeados pela banditagem do felizmente defunto p.r.p. e pelo sucessor Estado Novo, ainda medram. Ninguém quer saber. É que a questão, mexe com os privilégios instalados. na óptica dos nossos Donos, os lugares mais apetecíveis do Estado terão sempre de ser sua propriedade exclusiva. mesmo os que sendo os poderes fácticos, não são de forma alguma elegíveios: juízes fazedores da moral quotidiana, chefes das polícias e forças armadas, magistrados dos Supremos. E isto para não falarmos de quem nos controla a bolsa, como bancos, etc. É fartar, vilanagem!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Cara Suzana
Foi pena que esta data histórica não tenha sido motivo não só de uma reflexão positiva mas também para uma reconciliação história ente dois regimes que integram a história que nós somos. A história não se amputa e fazê-lo é uma prova de menoridade.

Caro Dr. Tavares Moreira
Concordo que é motivo de inquietação dar vivas a assassinos. Um acto perverso que não merece ser compreendido. Apenas há que lamentar. Alguma coisa não vai bem! Aliás, muita coisa vai mal...

Caros Comentadores
A violência é um fenómeno marcante das histórias dos povos, que pode e deve ser lembrada não como um exemplo a seguir mas para dela retirarmos as devidas lições para um presente e um futuro melhor.