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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Stôres

"...Onde antes estava a aula da terceira língua ou mais um tempo de Geografia passou a estar Área de Projecto, Formação Cívica e muitas outras actividades que supostamente ensinarão emoções, afectos, sexualidade e a comer verduras. E é sobre este universo edulcorado que os professores vão ser avaliados. Alguma vez os professores teriam de começar a ser avaliados. E como a escola há muito que deixou de ter como principal propósito ensinar estranho seria que na avaliação dos professores se valorizasse essa sua competência. Perante estas fichas os professores foram colocados diante de uma evidência: de professores passaram a entretedores..."
Brilhante o texto de Helena Matos no Público e também no Blasfémias

9 comentários:

Tonibler disse...

É curioso que ainda outro dia discutia aqui o desperdício que é (era??) perder horas de matemática para andar a dar português e filosofia a alunos das áreas de ciências e, no meu critério, quero que se lixem a hora extra de Geografia e a terceira língua que, pelos vistos, são muito caras à Helena Matos.
Eu concordo que a educação está cada vez pior, mas o sítio de onde partimos é muito mau, não é bom, ao contrário do que o texto indica.

António Viriato disse...

Caro Pinho Cardão,

Há demasiado tempo que demasiada gente aponta erros, elabora diagnósticos e verbera actuações das autoridades educativas. Porém, sem qualquer efeito positivo. Não só não se consegue emendar o que está mal, como, pior do que isso, com frequência, o que está mal passa a ficar pior. Como mudar isto, então? Esta é a simples mas inexorável questão! E um dia teremos de responder perante as sacrificadas gerações mais novas…

Um abraço e bom início de semana

FranciscoSantos disse...

Quando se fala de Avaliação é preciso ter em atenção os seguintes aspectos:

* qualquer avaliação tem por base a comparação entre uma situação que é observada e um referencial que é desejado ou esperado;

* a avaliação tem como objectivo verificar não só o desvio entre o observado e o desejado, mas sobretudo identificar os constrangimentos que impedem que se atinjam os objectivos, de forma a corrigir esses constrangimentos;

* toda e qualquer actividade humana pode e deve ser avaliada;

* o conceito de avaliação persegue objectivos formativos e cooperativos, ao contrário do conceito de classificação que persegue objectivos sancionatórios e competitivos.

Esclarecidos estes pontos torna-se mais fácil entender porque é que a transposição do SIADAP, e das suas cotas pretensamente meritocráticas, tem pouca ou nula aplicação à carreira docente, sobretudo quando a retórica aponta para um objectivo de melhoria da qualidade do ensino.
Se considerarmos que o trabalho docente tem que ser um trabalho cooperativo entre professores, a benefício dos seus alunos, não se devem introduzir mecanismos que induzem a concorrência e a competição, ao invés de estimular a cooperação e o apoio entre pares. Nesse sentido, definir à partida que apenas uma pequena cota em cada escola, em cada departamento, pode obter as menções classificativas mais elevadas, leva a que não exista qualquer vantagem em cooperar com os colegas, que passam a ser olhados como concorrentes pelo bem escasso que é a promoção na carreira.

A título exemplificativo imagine-se um titular do 8º escalão, a quem ainda faltam alguns anos para atingir o topo da carreira e a quem um professor mais novo solicita uma ajuda. Imagine-se que nesse departamento poderá haver uma cota para um Excelente e que alcançar essa classificação permitirá ao professor titular antecipar a subida de escalão já no próximo ano lectivo. Alguém achará mal que ele não forneça ao mais jovem toda a informação de que dispõe, garantindo assim a eliminação de um concorrente à atribuição do Excelente?
Em que é que isto contribui para a melhoria da qualidade do ensino? E das aprendizagens dos alunos? E para o progresso profissional do professor mais novo?
http://fjsantos.wordpress.com/2008/02/18/o-siadap-as-cotas-e-a-melhoria-do-trabalho-docente/

PA disse...

desculpem, mas não contem comigo para o comentário do tipo politicamente correcto.

há verdades que doem, mas têm de ser ditas.

quem é bom, não receia a avaliação.

há professores em portugal, que de professores só têm o nome.

lixo com eles. apenas são professores pq não conseguiram outra inserção profissional no mercado de trabalho, ou porque têm os seus negócios/empresas paralelos e ser professor garante-lhes uma reforma da função pública.

uma vez assisti, a um seminário com o então, secretário de estado, dr. abílio morgado, creio, e fiquei muito esclarecida a propósito de um estudo feito pelo Professor António Caetano sobre a avaliação do sucesso escolar dos alunos, nos 10 anos em que se receberam fundos comunitários para a formação contínua de professores. Uma vergonha nacional !
Os módulos de formação eram seleccionados pelos senhores professorzinhos, de acordo com o número de créditos que proporcionavam para a progressão na carreira. Foram milhões de euros deitados para o lixo. Já que o insucesso escolar dos alunos aumentou.
E eram módulos de jardinagem e coisas do género, que davam umas brutas almoçaradas a formadores e a formandos.

em portugal há muito tempo que se anda a brincar com a educação.
vai-se pagar caro.
Já se está a pagar, melhor dizendo.
:-(

sandra costa disse...

«Alguma vez os professores teriam de começar a ser avaliados.»

Os professores sempre foram avaliados, mal ou bem, mas sempre foram avaliados.

Eu não tenho medo da avaliação, Pézinhos n'Areia, mas tenho medo deste tipo de avaliação que agora nos querem impor.

Não tenho medo da avaliação porque fui sempre avaliada na minha Licenciatura, entrei em estágio com todas as cadeiras feitas (na FLUP nenhum aluno de estágio pode ter cadeiras por fazer); fiz um ano completo de estágio integrado com aulas assistidas e avaliadas por colegas, orientadora da escola e metodólogo da Faculdade; defendi um trabalho de Seminário teórico-prático no final do Estágio; fui avaliada em duas acções de formação contínua de Informática (quem sempre definiu os conteúdos das acções não foram os professores - eu nunca fui tida nem achada sobre as minhas necessidades de formação); fui avaliada com a menção de Satisfaz (sempre achei que para ter o Bom não devia ser eu a propor-me) em todos os relatórios de reflexão crítica da avaliação de desempenho que tive de entregar como contratada e para subir de escalão e, finalmente, fui avaliada num Mestrado em História Contemporânea, cuja dissertação ganhou um prémio nacional.

Eu não receio ser avaliada, receio esta avaliação que nos responsabiliza a 100% pelos maus resultados dos alunos e pelo abandono escolar e assim nos coarcta na acção de avaliar - os professores serão penalizados na sua avaliação se não houver progresso nos resultados dos alunos. Não acham que é tão fácil contornar isto? Não acham que é isto que o Governo das Estatísticas quer? Isto é que é fomentar a qualidade do ensino?

Receio esta avaliação que pode (já está) aniquilar o trabalho cooperativo entre professores; que nos vem submergir numa quantidade de papéis e transformar em burocratas; que nasce a meio de um ano lectivo, sem que todos os documentos legais que a devem suportar estejam aprovados, que vê prazos inscritos em decretos regulamentares a ser suspensos por despachos e os prazos destes a serem anulados por notas informativas no site da DGRHE; e podia continuar...

E, Tonibler, não compreendo porque considera desperdício a lógica filosófica e a língua portuguesa para os alunos de ciências... Pensei que já se tinha chegado à conclusão, a título de exemplo, que um dos problemas dos resultados a Matemática é, de facto, os níveis de (in)compreensão dos enunciados por parte dos alunos...

Finalmente, tenho pena que o 4R tenha perdido algum relevo enquanto espaço de debate sobre a educação, tanto mais que tem nos seus "quadros" uma das vozes que eu, pessoalmente, gostaria de ouvir sobre o momento actual da Educação. Houve dias e dias conturbados, já este ano, em que passei por aqui e nada li sobre a educação e pensei para mim mesma: parece que nada se passa, não há vozes que, mesmo que não sejam alternativas, possam ser importantes...

Pinho Cardão disse...

Cara Sandra:
Excelente reflexão a sua.
Quanto ao alheamento do 4R dos problemas da educação,creio não ser bem assim.
Fomos dos primeiros a debater e a criticar a TLEBS e continuámos, até o assunto ter sido "resolvido"; temos sistematicamente criticado a desvalorização da filosofia no secundário, disciplina que considero fundamentalíssima; temos criticado o ensino do português e da matemática; temos criticado o método, creio que se chama global, de aprender a ler, um fracasso total; temos criticado o ensino lúdico, que não leva a nada; temos criticado os métodos pedagógicos do Ministério da Educação; temos criticado a ausência de grandes escritores portugueses no programa de português; temos criticado o facilitismo das passagens de ano. Eu, pessoalmente, sou pelas reprovações puras e duras quando os alunos não aprendem nem querem aprender. Sou pelos exames e pela exigência. E penso que a escola é para quem quer aprender e não para quem quer perturbar.
Tudo isto, e mais, tem transcorrido pelas textos do 4R.
Como vê...

Tonibler disse...

Cara Sandra,

Esse é um dos "mitos urbanos". OS alunos não entendem os enunciados porque nunca viram matemática escrita em português. Isto porque os professores deles não a sabem exprimir em português.

Caros outros,

Avaliação de professores é uma redundância inútil. De que me ser ve ter professores "maravilhosos" se os alunos deles não sabem nada? Há exames aos alunos, avalie-se os professores pelos resultados que os alunos têm.

FranciscoSantos disse...

«Eu, pessoalmente, sou pelas reprovações puras e duras quando os alunos não aprendem nem querem aprender.»

«Há exames aos alunos, avalie-se os professores pelos resultados que os alunos têm.»

Sou professor há anos suficientes para saber que não posso nem devo "reprovar quem não quer aprender". É que a essência da minha profissão (bem sei que os professores são uma quase-profissão porque não exercem o seu ofício em regime liberal, excepto os explicadores) é ensinar e não excluir.
Tenho para mim que enquanto professor a minha obrigação é levar a luz do conhecimento a quem não sabe, para que um dia todos vejam.

Evidentemente que tanto o dr. Pinho Cardão (provavelmente também os restantes colaboradores do 4R, que leio com atenção) e o tonibler, se fossem meus alunos teriam a mesma dedicação didáctica e pedagógica, pelo que teria que usar de todos os meios ao meu alcance para lhes explicar que uma Escola Pública de Massas existe para ensinar todos os cidadãos e não para os seleccionar.
A selecção é uma tarefa de outras organizações sociais, das empresas, dos mercados.
Se querem uma escola selectiva, uma escola que exclua em vez de incluir, devem propor claramente o fim da Escola para Todos. E assumir politicamente essa opção, que é tão legítima como a que está inscrita na Constituição e na Lei de Bases.

Tonibler disse...

Caro FSantos,

Honestamente, acho que não temos nada a ver com isso. O profissional é você, não sou eu. Aquilo que nos diz respeito é se os alunos chegam a saber mais ou menos. Por isso acho ridícula esta avaliação de professores porque, na prática, a avaliação está feita.