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terça-feira, 19 de agosto de 2008

A auto-ilusão de Sócrates!...

“A agenda económica do Governo tem como objectivo aumentar, de forma sustentada, o crescimento potencial da nossa economia para 3%, durante esta legislatura. Só com o crescimento da economia poderemos resolver o problema do desemprego e combater as desigualdades sociais. Portugal deve ter como objectivo recuperar, nos próximos quatro anos, os cerca de 150.000 postos de trabalho perdidos na última legislatura”.
Programa do XVII Governo Constitucional (2005 a 2009)- Capítulo I- Uma estratégia de crescimento para a próxima década, página 9.

Aqui, o Programa de Governo tinha coerência: condicionava a resolução do desemprego ao crescimento da economia, tinha como meta um crescimento de 3% e, nesse contexto de crescimento económico, tinha como objectivo a redução de 150.000 no número de desempregados. Sócrates por várias vezes repisou o assunto, referindo o objectivo de recuperar os postos de trabalho perdidos entre os primeiros trimestres de 2002 e de 2005, os tais “cerca de 150.000”, na realidade 173.000.
Embora as afirmações fossem não deixassem dúvidas quanto ao objectivo, perante as reticências colocadas, foi o próprio Vieira da Silva, na altura, a confirmar: “está-se a falar em recuperar postos de trabalho destruídos nos últimos três anos”.
Ora nos 1º trimestres de 2002 e de 2005, períodos de referência de Sócrates, a taxa de desemprego era, respectivamente, de 4,5% e de 7,5%. No 1º trimestre de 2008, era superior, 7,6%, tendo descido para 7,3% no 2º trimestre deste ano. Em termos absolutos, o número de desempregados era de 238.000 em Março de 2002, 413.000, em Março de 2005, e 427.000, em Março de 2008( 410.000, em Junho de 2008).
Onde estão, pois, os 130.000 postos de trabalho que Sócrates diz ter recuperado?
E como o poderia fazer, se a recuperação dos 150.000 anunciados só seria possível com um crescimento médio de 3%, valor, e Portugal tem vindo a crescer muito abaixo?
Sócrates embarcou definitivamente no mundo da ficção, para não dizer da mentira. Recorrendo a truques de prestidigitação tosca e primária, não engana a assistência, acabou por se iludir a si mesmo. Acontece que a realidade do país se vai afastando cada vez mais das ilusões de Sócrates. A avaliar pelo que diz, Sócrates governa um país que não existe!...

12 comentários:

Rui Fonseca disse...

"E como o poderia fazer, se a recuperação dos 150.000 anunciados só seria possível com um crescimento médio de 3%, ...?"

Fácil. Se o crescimento do emprego se fizer à custa do decréscimo da produtividade.

Lamentavelmente essa foi a ratoeira em que caiu a economia portuguesa de há uns anos a esta parte.

Claro que isso não é possível no sector dos transaccionáveis porque aí a produtividade é decisiva. Ora se alguma coisa tem corrido bem tem sido o crescimento da exportações.

Não me parece que acerca deste assunto se possa ser tão acertivo analisando apenas alguns indicadores macro.

O que me parece mais importante é reconhecer que as correcções estruturais necessárias para carrilar a economia passam por um aperto que ou é dado pelo lado dos salários ou pelo do desemprego.

Não me parece, caro Pinho Cardão, que se possa considerar que é má a situação quando o pior ainda está, muito provavelmente, para vir.

Se nas próximas legislativas o PS tem a maioria relativa (ou o PSD) teremos um bico de obra se não se entenderem acerca daquilo que importa realizar com o acordo de ambos.

Se duvidas, pergunta ao PR.

Rui Fonseca disse...

Emenda - Por favor leia-se "assertivo" e não o que lá está.

Tonibler disse...

Primeiro, não há qualquer influência do governo na criação de emprego. Quanto muito poderíamos falar em pouca destruição, mas há muito que a real economia portuguesa pouco liga àquilo que o governo faz ou deixa de fazer.
Segundo, Sócrates não foi eleito por ser honesto. Não me parece que alguém a quem seja perguntado porque é que votou no Sócrates, que a resposta seja "porque é honesto". Sócrates foi eleito, quanto muito, porque ainda não tinha provado a desonestidade como acontecia com a concorrência. É Sócrates menos honesto que aquilo que era em 2005? E isso interessa?

Numa coisa tem razão, Sócrates governa o país que não existe. Melhor, o país que ele governa não é Portugal, é uma parte cada vez (felizmente) mais pequena de Portugal e que, com o tempo, se espera que funcione em circuito fechado.

Ruben Correia disse...

Pode governar um país que não o real, mas o Orçamento de Estado, esse todos sabemos que tem origem em algo muito real, nos nossos impostos.
Tendo em conta que o OE representa uma parte não negligenciável do PIB nacional, convinha que o Pinócrates começasse a fazer algo pelo país real (e não apenas o dos PINs, Magalhães e discursos auto-elogiosos com o powerpoint em background). Ou melhor, deixe de esbanjar o dinheiro dos outros e de gozar com quem está em dificuldades.

Pinho Cardão disse...

Caro Rui Fonseca:
Claro que o crescimento do emprego pode ser o resultado de um decréscimo da produtividade. Se dez produziam vinte e passam a produzir cinco, para retornar aos vinte são precisos quarenta: o emprego quadruplica. Não é disso que falamos, até porque, apesar de tudo, tem havido um aumento, embora lento, da produtividade.
Mas se a produtividade aumenta, por efeito de racionalizações empresariais, com aquisição de equipamentos e tecnologias modernas, e da melhor formação do pessoal, tende a cair o emprego, ou por inadaptação às novas condições, ou por não se encontrar mercado para a produção potencial. Este é um dado, que não pode ser ignorado, e tem que ser assumido. Só no médio prazo é que a economia gera novos empregos por efeito das reestruturações empresariais.
Paralelamente, e num prazo mais curto, e em circunstâncias iguais, um crescimento razoável da actividade económica também pode levar ao aumento do emprego.
Não é todavia este o quadro em que nos encontramos. No país virtual em que julga estar, Sócrates propagandeia o caso único no mundo em que, a par de uma drástica mudança de paradigma na actividade económica que diz estar em curso, simultaneamente consegue criar mais postos de trabalho e diminuir o desemprego. Claro que os números desmentem totalmente o que Sócrates diz.
Ficava-lhe melhor assumir o desemprego, como reflexo da modernização da economia e, sobretudo, criar as condições para que ela se faça.
E encontrar os mecanismos de protecção social compatíveis com o aumento do desemprego, até que os efeitos das reestruturações, ou a melhoria da cena internacional, tragam uma expansão da actividade.

Caro Tonibler:
O meu amigo diz que não há qualquer influência do governo na criação de emprego. Há que distinguir. O Governo pode ter uma influência directa e indirecta. Directamente, pode admitir pessoal e criar emprego. Não o deve fazer, pois funcionários é o que há mais.
Indirectamente, pode criar condições para a expansão da economia e criação de emprego. Através de adequadas e correctas políticas públicas. Como a política fiscal. A actual, pelo emaranhado de normas, pela morosidade das decisões, pelas elevadas taxas dificulta a atracção de investimentos e a criação de emprego. Como a política de licenciamentos. Como se pode coadunar a actividade privada com um condicionamento “industrial”, através do licenciamento, que não será menor, embora revista outras formas, do que no tempo de Salazar? E poderia continuar.

Caro RXC: De facto, em anterior post, também classifiquei as afirmações de Sócrates como brincadeira de mau gosto…

Tonibler disse...

Caro Pinho Cardão,

Quando há cerca de um mês disse que tinha pago IRC, levei com uma gargalhada na cara e apontaram para mim como o "tal" que tinha pago. Não há problema fiscal nenhum em Portugal, os investimentos estrangeiros não pagam nada e os portugueses têm tantos incentivos, promoções, formas de fugir que ninguém paga.

O único problema que existe é a canalização dos impostos pagos pelos particulares e da dívida pública para coisas sem qualquer valor económico, mas isso é da vontade do povo. Sempre gostámos de mandar amendoins aos macacos, mesmo quando a lógica e os avisos nos dizem para não alimentar os animais.

Rui Fonseca disse...

Caro Pinho Cardão,

Fixaste a tua apreciação, que agradeço, apenas à parte primeira do meu comentário.

Penso que o mais importante do assunto, contudo, não é o marketing político à sua volta mas o assunto em si mesmo: o desemprego. E esse, caro amigo, vai ser difícil reduzir nos tempos mais próximos porque, provavelmente, vai aumentar.

Esse é que é o problema grave que o país vai enfrentar.

De que, evidentemente, o PM não fala.

Mas podemos falar nós, não?

Pinho Cardão disse...

Caro Rui:
É o que temos vindo a fazer.
Quanto ao 1º Ministro, como pode falar e agir sobre uma coisa de que ignora ou nega a existncia?

Rui Fonseca disse...

"É o que temos vindo a fazer. "

Não me parece, meu caro.

A discussão acerca de uma promessa de criação de emprego e a sua releitura, oportunista ou não, não resolve a questão fundamental: a economia portuguesa enfrenta uma situação de endividamento do Estado e das famílias que não augura nada de bom. Tavares Moreira relembrou isso mesmo aqui no Quarta República já muitas vezes.

A situação é de tal maneira complicada que o reajustamento necessário vai implicar o congelamento dos salários (já que a sua redução é impensável) ou o aumento do desemprego, com todas as suas terríveis consequências.

Nestas circunstâncias, não há governo nenhum, se for minoritário, que possa resolver os problemas com que o país se defronta e que se agravarão com o adiamento das soluções.

Esta é uma posição.

A outra, é a do Ângelo Correia e do Mendes Bota: Que governe quem ganhar.Até lá há que fazer barulho.

A terceira, não sei, porque quem sabe está calado.

Qual é a tua?

Pinho Cardão disse...

Caro Rui:
Com a oposição "civilizada" do PSD,e o apoio dos media, o PS pode fazer tudo. Mas não faz.Porque, no fundo, prevalecem as suas forças mais conservadoras.
O PSD sòzinho, no Governo, pouco poderá fazer; a oposição do PS é sempre de terra queimada e, com o PS, está a generalidade dos media.
A enorme crise que atingia a Alemanha há uns anos foi bem resolvida com um pacto inteligente entre as duas maiores forças partidárias.
Acontece que em Portugal o sentido de Estado é muito diferente.

Anónimo disse...

Caros amigos, andando arredado nesta época estivel voltei a estar por perto e deparo-me com este tópico interessantissimo e com os comentários que lhe são feitos. Perdoar-me-ão, sobretudo os caros Pinho Cardão e Rui Fonseca mas eu não consigo evitar-me de esboçar um sorriso misto de cinismo e complacência. E isto, porque estamos a falar de Portugal, daí que grande parte das soluções apontadas sejam mera utopia.

Todavia acho bem e louvo-vos aos dois, aliás, por o fazerem. É óptimo haver quem seja mais optimista do que eu e consiga falar com alguma esperança em coisas como

- "reconhecer que as correcções estruturais necessárias para carrilar a economia passam por um aperto que ou é dado pelo lado dos salários ou pelo do desemprego",
- "Ficava-lhe melhor assumir o desemprego, como reflexo da modernização da economia e, sobretudo, criar as condições para que ela se faça",
- "Indirectamente, pode criar condições para a expansão da economia e criação de emprego. Através de adequadas e correctas políticas públicas. Como a política fiscal".

Citei apenas três mas mais há.

Sobretudo, falar nestas coisas aplicadas a Portugal, ao caso Português. É um problema de governo e do PM que se aproxima a passos largos da esquizofrenia total - passe o exagero -, sem qualquer dúvida mas mais, é um sério problema de mentalidade, falta de cultura e sentido de Estado - que é vertical, de alto a baixo na sociedade Portuguesa -, total incapacidade dos actores para se sentarem e discutirem por forma a alcançarem um consenso. O tal que o Pinho Cardão lembrou na Alemanha. Enfim, tudo isto é irreal em Portugal, é utópico, simplesmente não acontece. E, aliás, nem é preciso ir à Alemanha. Aqui ao lado - embora forçado - o Presidente do Governo assumiu e usou a palavra crise para se referir à situação do Reino, preocupando-se, simultaneamente, em propor algumas soluções - muitas delas com o apoio do PP de Mariano Rajoy - para atenuar os efeitos da crise. E, lembremo-nos, Espanha é o país que durante a sua reestruturação chegou aos 25% de desemprego. A tal reestruturação necessária que leva à perda de emprego no presente para ganhos no médio e longo prazos e a que os meus amigos aludiram. Jamais em Portugal isso acontecerá, não há ninguém com coragem política para isso e, aliás, com os media que temos, só impondo a censura jornalistica tal coisa seria remotamente possivel de fazer. Embora, enfim, tenhamos mais um problema: Espanha teve a estrutura social para garantir as prestações sociais aos desempregados que o Pinho Cardão não descura. Será que Portugal tem?

Que solução? Sinceramente penso que não haverá nenhuma solução política e o PM continuar a viver no mundo do fantástico consolida em mim esse pensamento. O mundo continuará a girar, os problemas económicos e financeiros com que nos deparamos continuarão a ser empurrados com a barriga e um belo dia as inexoraveis forças do mercado imporão a sua voz. Nessa altura - mais dois, três anos? Menos? Pouco mais? Não sei - as reformas imprescindiveis serão feitas. Mas a que custo... a que custo... Eu já não estarei cá - cá, em Portugal - para as viver, Graças a Deus, mas lamento quem vier a vive-las e a senti-las na pele.

Pinho Cardão disse...

Caro Zuricher:
Em boa verdade, tem praticamente toda a razão no que diz!...