Mal desanoitecia a humanidade e já o homem procurava, ansiosamente, a solução para os seus problemas e doenças. Olhava em redor, via o que os animais faziam, recordando também, sem sombra de dúvida, a sua velha condição de pré-hominídeo, e, desta forma, deverá ter começado a colectar e a cultivar tudo o que tivesse acção “farmacológica”.
A apetência para o mundo químico natural e, muitíssimo mais tarde, para o artificial é uma constante na nossa história. Desde sempre que procurámos e usámos produtos para curar, para matar, para “falar com os deuses”, para divertir, para amar, para odiar, para fornicar, para dormir, para acalmar, só para falar de algumas finalidades.
Certos tipos de comportamentos anti-social, pondo em risco a segurança e o bem-estar de terceiros, acompanham-se de medidas farmacológicas destinadas a combater essas tendências. Casos de comportamentos “sociopáticos” chegam a levar alguns doentes a procurar auxílio e tratamento. É do conhecimento geral que indivíduos com pulsões sexuais, tipo pedofilia, por exemplo, chegam a solicitar que lhes façam castração química e, noutros casos, em certos países, são as próprias autoridades que a determinam. Outros, consoante as suas tendências agressivas, solicitam que os tratem de forma a não prejudicar os que amam. Há aqui, aquilo a que podemos chamar uma tendência para a emergência de uma “farmacologia moral”. Psiquiatras já começaram a debater estas matérias questionando se será lícito enveredar por essa via, ou seja, tornar as pessoas mais “humanas”. O aparecimento deste conceito já desencadeou reacções desde a aceitação até ao repúdio, porque estaríamos a condicionar o comportamento de um indivíduo, entrando pelo campo da moral. O que é certo é que hoje em dia muita gente anda “calminha” devido aos tranquilizantes. O número de pessoas que os “engolem” é verdadeiramente astronómico, condicionando as suas maneiras de ser e de estar. Às vezes ponho-me a pensar o que aconteceria se as mesmas deixassem de tomar a medicação. Libertar-se-iam pulsões e agressividades difíceis de controlar? Quem sabe! Mas não vou tão longe como um professor meu que, há muitos anos, se lembrou que já era altura de propor o prémio Nobel da Paz à indústria farmacêutica produtora de tranquilizantes!
Voltando à “farmacologia moral”, o autor da ideia, segundo a qual deveríamos produzir fármacos para tornar as pessoas mais “humanas do que inteligentes”, abre o caminho para um controlo comportamental dos cidadãos. Imaginem a produção de uma “pílula Gandhi” ministrada a uma população para a tornar mais pacífica e mais humana? Aparentemente até seria interessante, dada a violência em crescendo no nosso país e também noutros. Já estou a ver o Hugo Chavez com um discurso gandhiano 24 horas após a tomada da primeira pílula! E se descobrissem fármacos que modificassem a forma de funcionamento do cérebro humano fazendo com que as pessoas não fossem corruptas, usando para o efeito a “pílula Baltazar Garzón”, ou transformando os sacanas e vigaristas em pessoas carinhosas e caridosas com a “pílula Madre Teresa de Calcutá”? Claro que há um problema no meio disto tudo. Era preciso que as tomassem! A não ser que as “pílulas morais” fossem substituídas por “vacinas morais”. Aqui o caso mudaria de figura. Em princípio os efeitos das vacinas seriam irreversíveis. Já há algumas experiências na produção de vacinas contra o tabaco e contra as drogas. Agora, vejam o que aconteceria se descobrissem vacinas contra a corrupção, contra a mentira, contra a sacanice, contra a demagogia, contra a falta de carácter e as aplicassem a muitas pessoas que andam por aí. Devia ser o bom e o bonito se um futuro “Plano Nacional de Vacinação” passasse a incorporar as novas vacinas!
Nada impede que um dia a par da farmacologia clínica, emerja uma “farmacologia moral” e, até, quem sabe uma “farmacologia política”! Bem. Mesmo que tal acontecesse o mercado paralelo encarregar-se-ia de produzir e contrabandear “drogas ilícitas” suficientemente excitantes, capazes de despertar emoções tipo corrupção e mentiras e, até, a agredir, a ofender e a matar!
Enfim! O melhor é tomar um analgésico. Sempre ajuda a aliviar as dores de cabeça provocadas por tantas iniciativas...
A apetência para o mundo químico natural e, muitíssimo mais tarde, para o artificial é uma constante na nossa história. Desde sempre que procurámos e usámos produtos para curar, para matar, para “falar com os deuses”, para divertir, para amar, para odiar, para fornicar, para dormir, para acalmar, só para falar de algumas finalidades.
Certos tipos de comportamentos anti-social, pondo em risco a segurança e o bem-estar de terceiros, acompanham-se de medidas farmacológicas destinadas a combater essas tendências. Casos de comportamentos “sociopáticos” chegam a levar alguns doentes a procurar auxílio e tratamento. É do conhecimento geral que indivíduos com pulsões sexuais, tipo pedofilia, por exemplo, chegam a solicitar que lhes façam castração química e, noutros casos, em certos países, são as próprias autoridades que a determinam. Outros, consoante as suas tendências agressivas, solicitam que os tratem de forma a não prejudicar os que amam. Há aqui, aquilo a que podemos chamar uma tendência para a emergência de uma “farmacologia moral”. Psiquiatras já começaram a debater estas matérias questionando se será lícito enveredar por essa via, ou seja, tornar as pessoas mais “humanas”. O aparecimento deste conceito já desencadeou reacções desde a aceitação até ao repúdio, porque estaríamos a condicionar o comportamento de um indivíduo, entrando pelo campo da moral. O que é certo é que hoje em dia muita gente anda “calminha” devido aos tranquilizantes. O número de pessoas que os “engolem” é verdadeiramente astronómico, condicionando as suas maneiras de ser e de estar. Às vezes ponho-me a pensar o que aconteceria se as mesmas deixassem de tomar a medicação. Libertar-se-iam pulsões e agressividades difíceis de controlar? Quem sabe! Mas não vou tão longe como um professor meu que, há muitos anos, se lembrou que já era altura de propor o prémio Nobel da Paz à indústria farmacêutica produtora de tranquilizantes!
Voltando à “farmacologia moral”, o autor da ideia, segundo a qual deveríamos produzir fármacos para tornar as pessoas mais “humanas do que inteligentes”, abre o caminho para um controlo comportamental dos cidadãos. Imaginem a produção de uma “pílula Gandhi” ministrada a uma população para a tornar mais pacífica e mais humana? Aparentemente até seria interessante, dada a violência em crescendo no nosso país e também noutros. Já estou a ver o Hugo Chavez com um discurso gandhiano 24 horas após a tomada da primeira pílula! E se descobrissem fármacos que modificassem a forma de funcionamento do cérebro humano fazendo com que as pessoas não fossem corruptas, usando para o efeito a “pílula Baltazar Garzón”, ou transformando os sacanas e vigaristas em pessoas carinhosas e caridosas com a “pílula Madre Teresa de Calcutá”? Claro que há um problema no meio disto tudo. Era preciso que as tomassem! A não ser que as “pílulas morais” fossem substituídas por “vacinas morais”. Aqui o caso mudaria de figura. Em princípio os efeitos das vacinas seriam irreversíveis. Já há algumas experiências na produção de vacinas contra o tabaco e contra as drogas. Agora, vejam o que aconteceria se descobrissem vacinas contra a corrupção, contra a mentira, contra a sacanice, contra a demagogia, contra a falta de carácter e as aplicassem a muitas pessoas que andam por aí. Devia ser o bom e o bonito se um futuro “Plano Nacional de Vacinação” passasse a incorporar as novas vacinas!
Nada impede que um dia a par da farmacologia clínica, emerja uma “farmacologia moral” e, até, quem sabe uma “farmacologia política”! Bem. Mesmo que tal acontecesse o mercado paralelo encarregar-se-ia de produzir e contrabandear “drogas ilícitas” suficientemente excitantes, capazes de despertar emoções tipo corrupção e mentiras e, até, a agredir, a ofender e a matar!
Enfim! O melhor é tomar um analgésico. Sempre ajuda a aliviar as dores de cabeça provocadas por tantas iniciativas...
3 comentários:
Excelente e inspirado tratado farmaco-moral, caro Professor!
;)
Quanto à sugestão que apresenta, não vejo de que forma seria possível que a primeira toma da pílula, ou da vacina, fosse coincidente. De outra forma, o efeito pretendido talvez não ocorresse. ;)
Desde ha muito que a questão da descoberta do efeito farmacológico das plantas, pelo homem primitivo me vem martelando o raciocínio.
Chego mesmo a reflectir se terá sido em algumas circunstâncias o acaso, ou se terá ocorrido num estágio longíncuo de que só as gravuras rupestres possam prestar testemunho, a intervenção de consciências superiores.
A verdade é que o uso muitas vezes eficaz (poderá tambem a eficácia depender da capacidade de diagnóstico) de plantas, é ainda comum sobretudo em zonas mais recônditas do país.
A prová-lo (se fôr necessário provar algo neste campo) verificamos que anualmente o Congresso de medicinas Populares que se realiza em Vilar de Perdizes, apadrinhada pelo padre Fontes, regista um número imenso de visitantes.
É um fenómeno, quanto mais, porque se vive uma época de informação acessível em que se emitem alertas relacionados com a saúde pública e onde é dado conhecimento dos avanços da ciência médica.
Estamos indefectívelmente perante uma tendência natural que ultrapassou os tempos e se mantem enraizada, a par do religioso e do profano na genética humana.
Bom caro Professor, seja como for, esta humanidade que nos desilude a cada instante, iria ficar monótona, se a estereótipassem químicamente em três classes: Gandhi - Baltazar - M. Teresa.
;)))
Em três é como quem diz! Milhares e de milhares de classes... Para todos os gostos e feitios.
Caro Professor:
Excelentes medicinas essas que mudariam a humanidade.
Mas, como diz, viria logo o antídoto, as tais drogas ilícitas de que fala.
No início, em nome do bem comum, essas drogas seriam proibidas. Depois, uns tantos barões encarregavam-se de as distribuir em novos Casais Ventosos. A seguir,para não haver distracção na luta contra os barões, liberalizava-se o consumo, pois era desperdício de tempo actuar sobre o cliente final. Depois vinha uma Autoridade que criava uma página na NET em que, por motivos pedagógicos, apregoava junto da miudagem os bons efeitos da substância...
Enfim, caro Professor, não pareço lá muito fã da mèzinha!...
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