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segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Programão encalhado...o que fazer?

As notícias que vão chegando dão conta de que o célebre Programão, que aqui temos denunciado convictamente como erro de política, já terá conhecido “melhores” dias.
Multiplicam-se as declarações que dão conta de um crescente desconforto por parte dos candidatos ao negócio ou partes dele, sustentando a necessidade de uma revisão muito considerável, para cima, dos custos projectados...
A escassez e o encarecimento do crédito, que se têm vindo a acentuar, aditaram ao Programão uma nova faceta: para além de constituir um erro – um tremendo erro – das opções de política face à necessidade de correcção dos desequilíbrios da economia, parece que o Programão está agora desprovido de meios para prosseguir, emperrou ou encalhou na insuficiência de recursos financeiros e no custo cada vez mais elevado dos que ainda estarão acessíveis.
Os grandes ideólogos do Programão – JS, ML, MP e outros – guardam um curioso e rigoroso silêncio...

Insistir nesta altura dos acontecimentos com a peregrina ideia de lançar uma infindável sucessão de obras públicas seria não apenas um erro e uma temeridade, mas um verdadeiro atentado contra a economia nacional: iria virtualmente secar os parcos recursos para os restantes sectores da economia, sufocando a actividade económica – PME’s sobretudo – e agravando rapidamente os já enormes e irreversíveis desequilíbrios que afectam o desempenho da economia e comprometem o presente e o futuro...
Estamos pois num ponto de viragem: depois dos ribombantes anúncios quanto às virtudes e ao arranque em força do Programão, a regra agora passou a ser silêncio sepulcral...silêncio que neste caso aparenta ser a forma de disfarçar um enorme embaraço perante uma realidade incontornável...
É caso para perguntar o que vai ser feito:
- Das 10 concessões rodoviárias prometidas para o curto prazo se nem a segunda conseguiu ainda avançar?
- Do TGV?
- Do novo Aeroporto?
- Dos N novos hospitais, incluindo o novo IPO?
- Da nova travessia do Tejo?
- Do grande projecto da Frente Ribeirinha do Tejo?
- Das grandes obras projectadas para a zona Oeste, a título de compensação pelo cancelamento da Ota?
- De tantas outras promessas de grandes investimentos, anunciadas a esmo?

Por quantos anos será necessário congelar esta parafernália de grandes obras – e que novas prioridades estabelecer perante uma realidade que veio subverter brutalmente a “ordem” até agora vigente - ou que veio por a nu uma incapacidade até agora menos perceptível?
Estará o Estado disponível para aceitar os custos e os riscos financeiros de todo o Programão, emitindo dívida directa com o seu impacto no orçamento?
Quando vai haver coragem para confessar sem rodeios esta nova realidade?
Quanto mais tarde pior será, é o que me parece...

11 comentários:

PA disse...

há quem diga que nas crises há oportunidades a aproveitar.
temos que perceber e segurar as oportunidades que estão à nossa espera.

never give up ....


:-)

cumprimentos.

Anónimo disse...

Caro Tavares Moreira, e, para o estado emitir dívida, dado todo o serviço da dívida existente, avais existentes e globalmente a situação da economia Portuguesa, que remuneração teria o estado que oferecer para esta ser atractiva para os investidores? Quais os riscos de default algures mais adiante? E cumprir os critérios da moeda única no que respeita ao ponto dívida pública?

Será possivel que o governo embarque na emissão de dívida à doida para financiar um programa de obras públicas já de si idiota qb? Pelo menos no que toca a transportes o programa dá ideia que alguém se lembrou de desenhar riscos num mapa e pouco mais. Nas outras vertentes não tenho tanta noção, claro.

Tonibler disse...

Caro Tavares Moreira,


Alguma coisa se irá arranjar para fazer um grande número do qual se possa desviar uma irrelevante percentagem para que os políticos deste país não tenham que passar pela ignomínia de viver com as "letras" da função pública.

O PSD (ou o PPD/PSD, como diz o outro) poderia assumir o compromisso, perante o eleitorado, de congelar todos estes investimentos públicos no caso de ser governo mostrando aos agentes financeiros, e não só, que o negócio acarreta mais riscos do lado do governo que aqueles que pensam, que a posição do estado português na matéria não é estável. E quando isso irá acontecer? É o assumes...

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira

Apenas como complemento do que a anota:

A Irlanda, Republica da Irlanda, declarou já encontrar-se em recessão.
O principal debate político está (pasme-se) nos seguintes temas:

a) Interrupção do plano de onbras públicas. Faço notar que este país, ao contrário do nosso apostou forte no software, pelo que tem uma rede viária, no minímo pré histórica e pouco adequada aos níveis de desenvolvimento que tem actualmente.
b) Fim do ensino superior gratuito ou quase. Pagamento de propinas que reflictam o custo real do ensino.
c) Utilização do superavit orçamental, se bem que, nesse caso e pelas projecções que o governo realiza, no próximo o déficit será de -5%.
d) Utilização do fundo de reserva, cerca de 20 bilhões (americanos), para manter a economia a fluctuar.
e) Restrições ao acesso às prestaçoes sociais, a todas as prestções sociais, restrinjindo aos mais carenciados. pagamento de acordo com a capacidade contribuitva.

É-lhe familiar?
Cumprimentos
João

Tavares Moreira disse...

Caro Zuricher,

O Estado emitir dívida pode sempre, depende das opções...o mercado dirá depois como aprecia essa dívida, pedindo o justo spread sobre o benchmark dos "bunds".
Convém notar que esse spread tem vindo a subir mesmo sem necessidade de financiar o Programão...

Caro Tonibler,

Mais uma vez o PSD ou PPD/PSD teria que ser chamado à baila claro... para desculpar o infractor...
Mas essa já não pega, meu Caro - embora creia que vá ser usada, até à saciedade.
Começo a convencer-me que meu Amigo terá mesmo uma relação "secreta" com as agências de comunicação sistémicas...

Caro João,

Interessante exemplo, o que aponta!
Ainda não me é familiar mas admito que venha a sê-lo dentro de algum tempo.

Tonibler disse...

Caro Tavares Moreira,

Não foi para desculpar o infractor, foi uma sugestão para a profilaxia da infracção, quer dos infractores que foram, quer dos que vão ser. E como acho que o PPD/PSD ainda não desistiu, é perfeitamente legítimo que venha à baila.

Tavares Moreira disse...

A legitimidade do seu comentário não está nem poderia estar em causa, Caro Tonibler...
Basta conhece-lo como o conheço deste "level playing field" em que nos encontramos com tanta frequência para não ter dúvidas acerca dessa legitimidade...
O que está em causa é que esse tipo de comentários tem um efeito fundamental: desculpar o infractor!
E desculpa o infractor distraindo a atenção do essencial da questão - que foi, é e continuará a ser o equívoco monumental do Programão como opção de política económica...

Tonibler disse...

Por isso, caro Tavares Moreira, iniciei o meu comentário dizendo que não for o programão será outra coisa que envolva um número qualquer grande.

Tavares Moreira disse...

Car(íssim)a Pèzinhos,
Last but not the least...uma referência ao seu comentário que, sendo sucinto, é também sábio.
O que hoje se tem passado nos mercados de títulos um pouco por todo o Mundo é uma vibrante ilustração da sua asserção.
Mas é ao mesmo tempo uma resposta frondosa aos que se apressaram - uns por desejo há muito reprimido, outros por "herd behaviour" - a sentenciar a morte do sistema de mercado!
Espero em breve editar um POST sobre este mesmo tema.

Ruben Correia disse...

No meio de tão distintos comentadores e postador, apenas gostaria de acrescentar o meu profundo repúdio pela inqualificável "compensação" que está prevista para os municípios da região Oeste, que ascende a mais de 2 mil milhões de euros(!). Como vivo nas Caldas da Rainha, e tenho assistido nos últimos anos ao seu assinalável crescimento populacional (com o consequente aumento de betão por metro quadrado), não posso deixar de me perguntar porque razão vamos ser compensados?! E qual o racional de trocar um aeroporto por esquadras, escolas e hospitais?
Toda esta situação é francamente injusta para as restantes regiões do País, menos "abençoadas" porque mais distantes da nossa generosa capital. Que compensações têm Bragança, a Beira Interior ou o Alentejo por também não terem aeroporto?

Em relação ao programão no geral, a evolução do total da dívida nacional (acima dos 270 mil milhões de dólares) deve receber um importante aumento, que mais tarde alguém pagará.

Tavares Moreira disse...

Caro rxc,

Bem vindo a este forum de debate aberto.
Quanto ao seu repúdio, parece-me que meu amigo o poderá poupar por agora...ou me engano muito ou a prometida compensação para os municípios do Oeste não passará disso mesmo, de uma promessa!
Não vejo como, nos próximos anos, haja condições para ultrapassar o estado de promessa...