1. Foi hoje amplamente divulgada uma notícia, que me pareceu algo estranha confesso, segundo a qual fonte da Presidência da República teria manifestado preocupação pelo facto da vida privada dos assessores do Presidente poder estar em processo de “vasculhamento” pelo Governo ou agentes deste dependentes.
2. Como digo acima esta notícia pareceu-me algo estranha pois não percebo muito bem como é que um assunto desta natureza e gravidade, a ter algum sopro de fundamento, possa ser tratado em esquema de praça pública...
3. Não sei quem deu a notícia, como é que foi obtida, se tem fundamento ou não, pouco me interessa neste momento – não me pareceu uma ideia brilhante, independentemente de quem tenha partido, mesmo que tenha sido de produção maquiavélica como com não rara frequência sucede...
4. Mas mais curiosa e bizarra, na minha análise pelo menos, foi a reacção de S. Exa. o PM ao dizer que “não comentava disparates de Verão”...
5. É claro que ao dizer o que disse o PM não apenas se contradiz, comentando o que diz não comentar, como comenta de uma forma que se afigura particularmente agressiva para a Presidência...
6. Estamos em presença do que se poderá apelidar de “falsa habilidade” de linguagem: não resistindo a um comentário e comentário particularmente ácido, o PM começa por dizer que não comenta...
7. Faço votos para que este episódio não vá mais longe, pois os portugueses já têm a sua conta de sacrifícios devidos a erros graves na condução das políticas, deviam ser poupados a estes espectáculos quase deprimentes...
8. Poupem-nos por favor...
12 comentários:
Meu caro Tavares Moreira:
A tirada do PM e o que lhe está subjacente só não são bizarros porque as declarações de Vitalino e Junqueiro, prestadas há dias, tiveram o objectivo claro e calculado de procurar condicionar a actuação do Presidente da República.
A fundamentar estas posições do PS está uma acusação implícita, a meu ver gravíssima: a de que o Presidente da República tem quebrado e dispõe-se a quebrar o dever de neutralidade perante as forças partidárias, dever que especialmente se lhe impõe neste momento pré-eleitoral.
Por isso, o que nem o sol de verão na moleirinha deve levar a escamotear é o seguinte: ou o PM e Secretário-Geral do PS concorda com as acusações de Vitalino e Junqueiro ao ´Público´ de há uns dias atrás, e deve assumi-lo com toda a clareza, denunciando já agora em que concretos factos baseia a quebra de neutralidade presidencial e não se acobertando naquelas figuras; ou, não subscrevendo as declarações de Vitalino e Junqueiro deveria então publica e seriamente desautorizá-las.
Porque preferiu comentar a patetice de hoje no ´Publico´ e omitiu qualquer referência ao que disseram aqueles dirigentes, parece não restarem dúvidas sobre o que pensa realmente o PM e Presidente do PS.
E isso é que é, na minha opinião, grave.
Mas quem não se habituou a estas formas baixinhas de fazer política, que se confirmam alguma coisa é que, na lógica do funcionamento actual dos partidos políticos, Vitalinos e Junqueiros são indispensáveis.
No dia em que sejam dispensados por não quadrarem num novo paradigma, mais sério, mais elevado de fazer política, atenção que estará para breve a 4ª República.
(Lembrando-me do movimento anti-ponto de exclamação de que nos falou o Prof. Massano Cardoso, cometi a proeza de não utilizar um só, apesar das exclamações a que o assunto apela. Congratulo-me. Um verdadeiro teste ao meu auto-controlo).
É capaz de estar cheio de razão, caro Ferreira de Almeida, mas isso não eleva o nível deste patético episódio de inferior política, antes o rebaixa ainda mais na minha perspectiva...
Já se sabe do que gastam esses medíocres protagonistas da cena política portuguesa, mas admito que o tipo de resposta devesse ser outro...
Quanto à declaração de Sexa, continuo na minha: comentou, comentou e comentou...começando por dizer que não comentava!
É a banha-da-cobra em todo o seu esplendor!
Caro Tavares Moreira
Tenho para mim que uma das razões porque estamos nesta situação (existem outras e que são comuns aos restantes pa+ises europeus) é esta atitude de persistente apagar do passado que desemboca na falta de memória que se cultivou desde o 25/04/74.
Nada mais sintomático deste comportamento que a mudança do nome da Ponte em Lisboa.
Serve o intróito para recordar o seguinte:
Este Governo encenou uma pantomina em torno do cálculo do défice assim que tomou posse. Com a colaboração de vários, pode justificar o não cumprimento das promessas eleitorais que tinha realizado.
O comportamento político pode até ser normal, mas revela o carácter: apenas a lei limita os meios de actuação política, nesse sentido, segue o que o incontornável Dr Pina Moura afirmou sobre a ética.
Aliás, a semana final da camapanha para as europeias é revelador.
Quatro anos e meio de poder e um desespero equivalente ao tempo no exercício da função, são ingredientes explosivos.
Como povo temos, colectivamente, mau perder, outros têm mau vinho...
Retiro do caso a ilacção, partilhada por muitos, que vamos ter uma campanha muito, mesmo, muito dura e pouco ética, mas dentro da legalidade..
Cumprimentos
João
Caro João,
Com mais 1/2 dúzia de minutos de "reflexão" em torno deste tema, começo a pensar que estamos à beira de um cenário em que o comportamento dos incumbentes corre o risco de ser dominado pela teoria "perdido por 10, perdido por 100"...
Desatando numa sucessão de episódios em que vão disparar para todos os lados sem qualquer preocupação de danos colaterais...
Vai ser o bom e o bonito, como se dizia há uns anos...
E quando diz "dentro da legalidade" faz-me recordar uma outra frase muito usada na minha juventude quando se enfrentrava uma refrega desportiva ou doutro tipo: "Vale tudo menos arrancar os olhos"...
Muito melhor assim: o Bloco Central morreu antes de nascer.
Caro Tavares Moreira,
É a silly season no seu melhor. Eu confesso que fiquei estupefacto com a ligeireza que foi tratado este pseudo-watergate à portuguesa! Mais curioso ainda, foi o facto dos comentadores de serviço terem falado do caso e se terem esquecido que não houve qualquer desmentido do sucedido por parte da Casa Civil ou mesmo até, da Presidência da República. Do meu ponto de vista, este caso merece uma de duas decisões. Ou exonerar o membro da Casa Civil em caso de falsa declaração e a PR fazer um desmentido, ou transformar isto no caso de polícia que a situação merece caso seja verdadeira a acusação.
Quanto ao nosso PM, parafraseando Ferreira Leite," não comento comentadores".
Caro António Balbino,
Não se precipite, não conclua tão rapidamente...não conhecerá muito bem os políticos, quer-me parecer.
Olhe que os políticos são bem capazes de, a seguir a grandes manifestaçõs de ódio, encontrar excelentes pontes de entendimento...quiçá motivos de encantamento recíproco.
Ainda temos muito para ver...
Caro André,
A solução melhor, se bem me parece, é calarem-se de uma vez por todas e encerrarem o episódio...
Se vão ser capazes dessa atitude de elementar bom-senso já tenho as minhas dúvidas pois bom-senso é matéria-prima em fase de esgotamento...
Caro Dr. Tavares Moreira
Tinha escrito, lá no meu sítio Do Portugal Profundo, esta noite com esse título - "o Bloco Central morreu antes de nascer" -, onde procuro demonstrar a sua impossibilidade prática.
Em minha opinião, que lá no meu blogue explico melhor, o Bloco Central - que tenha visto demasiados PSD's almejarem e que se denunciam numa oposição frouxa e complacente - precisa de duas premissas para poder ser edificado: a derrota marginal do PS e a renúncia de Sócrates à direcção do partido.
Ora, Sócrates, com os últimos movimentos internos e externos (visando a Presidência!...), evidencia que não pretende deixar a direcção do PS, mesmo em face de uma derrota significativa, para deixar o poder a uma segunda figura (mesmo, como António Costa, chamuscado por uma derrota em Lisboa) que aceitasse ser segundo na coligação.
Creio que o PS socratino não alcançará 25% em Setembro e que a derrota suave do PS não se verificará. Nesse quadro, Sócrates talvez (talvez...) caia por pressão interna. Mas, nesse quadro, também é possível que PSD e PP tenham maioria na Assembleia. E se não tiverem, de qualquer modo, o PSD deve governar sózinho, atingindo maioria mais tarde, devido a bom governo.
O Bloco Central depende de Sócrates aceitar aquilo a que chamo a solução Schroeder e ele está a demonstrar que não a aceita.
Mais: confio na Dra. Ferreira Leite e tenho-a defendido contra os cantos de sereia sistémicos e a quinta coluna imersa nos entendimentos (e negócios) socratinos. E a sua clareza de escolhas, passe o episódio preto, parece ser mais um argumento que nos livra do Bloco Central.
Nunca se sabe. Mas os sinais que temos de ler são: o Bloco Central morreu antes de nascer.
Os sinais também dizem que a estratégia da complacência deve ter um limite institucional. Aliás, moral e politicamente, essa estratégia não é, nem nunca foi, compatível com Sócrates. É perigoso dormir com o inimigo, mesmo em quartos separados.
Caro Balbino Caldeira,
Compreendo e respeito sua análise...embora não tão certo quanto ao desfecho final do imbróglio eleitoral (terei de apresentar meu prognóstico até final do corrente mês, ainda estou trabalhando no tema...).
Parece-me em qq caso que o actual incumbente-mor se me não engano muito estará fora de qq arranjo pós-eleitoral...por razões transcendentais...
E sem a esclarecidíssima visão do grande estadista é possivel que o terreno fique mais propício a construções políticas menos típicas.
Quem sabe se, por exemplo, soluções estruturadas, um pouco à imagem dos produtos financeiros complexos que até há algum tempo fizeram moda...
Dr Balbino Caldeira
Sem entrar no mérito da sua análise, porque não é o objecto do presente comentário, deixe-me, apenas avançar os "comentários/pressupostos"
a) O limiar da defenestração imediata do Licenciado José Sócrates é igual ou inferior a 30% dos votos expressos nas legislativas
b) Entre 30 e 38% dos votos expressos nas legislativas, o prazo de validade do referido licenciado (enquanto chefe do PS) pode variar entre 6 meses e dois anos.
Como, para este cálculo entram vários factores que, dependendo da sua grandeza, assim infuenciam a permanência, apenas enumero alguns dos mais importantes:
1)resultados dos outros partidos
2) abertura a coligações
3) capacidade para gerar consensos dentro do partido.
4) cumprimento dos prazos constitucionais que limitam a capacidade de dissolução da AR.
c) O que quase lhe garanto é que, no cenário do PS ser o vencedor, com maioria relativa, o PM não ultrapassa os dois anos e meio. Porque se as condiçoes económicas internas e externas evoluirem no sentido mais optimista, em 2011 seremos abalados por uma crise financeira originada na incapacidade em cumprir os comprimissos internacionais,que fará cair o governo do licenciado Sócrates.
Cumprimentos
João
PS.:
Vamos ver se o acto previsto para o dia 27/09/09 não decorrerá sob o signo de uma fortissíma "tempestade" financeira.
Cumprimentos
João
Caro Tavares Moreira,
Talvez se conseguisse equilibrar a balança de pagamentos com a exportação de falta de bom-senso. É um facto que há competidores de peso como a Venzuela, mas vale sempre a pena tentar...
Esse infelizmente é um "bem" não transaccionável, caro André...em termos de negócio teria de ser tartado como o lixo tóxico, ou seja pagarmos para quem o queira receber...
E assim o resultado em termos de balança seria o agravamento do défice e ainda mais dívida...
Parece-me que a solução poderia talvez passar por convencer estas criaturas a rumarem a Piongyang, para realizar acções de formação em democracia representativa...
Deviam voltar (?) de lá mais afinados depois de alguns anos de trabalhos forçados como remuneração pela formação democrática ministrada aos norte-coreanos.
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