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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Por onde andarão os resíduos?

Uma revista enfiada no meio de um jornal convidou-me a folheá-la com uma certa rapidez. De repente deparo-me com um artigo intitulado “A solução para os resíduos industriais perigosos” da autoria do diretor-geral da ECODEAL.(a)
Atendendo à problemática da coincineração, que ainda perdura, decidi ler com muita atenção o seu conteúdo.
O autor descreve uma unidade CIRVER (centro integrado de recuperação, valorização e eliminação de resíduos perigosos). Acompanhei de perto a definição e a discussão destes centros que constituem uma forma diferente de tratar a maioria dos resíduos industriais perigosos sem recorrer à incineração. De facto, o que fica por queimar é muito pouco. Recordo que, na altura, os defensores da coincineração não admitiam haver melhor solução do que a queima nas cimenteiras.
Os CIRVER foram, na altura, e ainda recentemente, desvalorizados e denegridos como alternativa à coincineração. No entanto, constituem uma eficientíssima solução. De acordo com o artigo, “Portugal possui atualmente das melhores instalações da Europa para o tratamento dos seus resíduos perigosos”. Nem mais! As técnicas utilizadas, a vigilância, a segurança e a qualidade de todos os procedimentos, assim como a validação do sistema de monitorização, o acesso aos eleitos locais, e a outras autoridades regionais, às instalações e à documentação são de realçar e de louvar. Transparência total!
Esta unidade tratou num ano e meio 84 mil toneladas. No entanto, a empresa, segundo Manuel Simões, defronta-se com os seguintes aspetos que passo a transcrever:
“As quantidades de resíduos industriais perigosos rececionadas pela ECODEAL estão abaixo das 254 mil toneladas referidas no estudo do mercado que serviu de base ao concurso público e ao dimensionamento e construção da ECODEAL.
A ausência total de resíduos em algumas das unidades construídas por obrigação do concurso público regulado pelo Decreto-Lei nº3/2004.
Este desvio nas quantidades rececionadas de resíduos e a ausência de resíduos em algumas unidades, levou a que a ECODEAL tenha pedido às autoridades competentes medidas no sentido de melhorar a fiscalização da correta gestão de resíduos perigosos em Portugal, adotar o princípio europeu da proximidade e da autossuficiência na eliminação de resíduos, melhorar os procedimentos de controlo da efetiva recuperação/valorização de resíduos e em definitivo trabalhar para defender a cara e moderna infraestrutura de tratamento de resíduos que tanto dinheiro e tempo custaram ao país”.
Curioso! Por onde andarão os resíduos industriais perigosos? Não existem? Têm que existir. Mas se existem não deveriam ser encaminhados para os CIRVER? O que fica para queimar é uma pequena fração. Será que os altos responsáveis governamentais irão esclarecer os portugueses relativamente a este assunto? Ou será que irão aproveitar o efeito da passagem do tempo? Com o tempo, muitos sentem que os músculos perdem a força, os ossos fragilizam-se, os cérebros tornam-se menos ativos e até os corações se “amanteigam” perante os argumentos e a força dos mandantes, esquecendo-se de uma luta em que as dúvidas científicas, a propósito dos efeitos nefastos no meio ambiente e na saúde dos cidadãos, foram “vencidas” pelos “argumentos” políticos e judiciais.
É certo que alguns do que andaram na luta contra a coincineração desapareceram a recordar o “desaparecimento” atual de muitas e muitas dezenas de milhares de toneladas de resíduos. Afinal, tudo desaparece. É uma mera questão de tempo. Até os resíduos!

(a) “A solução para os resíduos industriais perigosos”. Manuel Simões in País Positivo – Fevereiro -´10 – Nº 34, página 100.

16 comentários:

Catarina disse...

Até a meio do seu texto pensei: Finalmente! Finalmente algo funciona em Portugal a cem por cento! Os portugueses estão livres dos resíduos nefastos à sua saúde! Já estava a ficar toda orgulhosa de tamanha façanha! Afinal... : (

Anónimo disse...

No dia em que os CIRVER receberem as quantidades de RIP que têm capacidade de tratar, como o meu caro Professor bem sabe, há um outro negócio que se afunda.

Catarina disse...

???? : )

Massano Cardoso disse...

Como a Catarina não percebe, o melhor é explicar: os resíduos são queimados nas cimenteiras como "combustível" alternativo e as ditas não pagam, e ainda recebem por cima. É como meter gasolina no depósito do carro e receber dinheiro por cima. Um excelente negócio!

Catarina disse...

Compreendo! Tipo negocio da china?!
Obrigada.

Anónimo disse...

Mil perdões, Catarina, pelo meu comentário que me apercebo agora justificava todas as interrogações. Mas o Professor deu a imagem perfeita.

Catarina disse...

Precipitei-me com essas interrogações todas! Deveria ter feito o que estou a fazer neste momento que é ler mais sobre o assunto na Net! : ) Fico sensibilizada com a atenção!

Luís Bonifácio disse...

Caro Salvador

Os resíduos estão na porta ao lado da Ecodeal.
Têm uma politica comercial bastante mais agressiva e com preços que podem chegar a - 25% dos praticados pela ecodeal.

Anónimo disse...

Uma pergunta senhor Salvador Massino Cardoso

Por que razão deixou de escrever em português?

Fernando Correia

Bartolomeu disse...

Não conheço "por dentro" a problemática, no entanto, permito-me conjecturar se, para além do "benefício" que representa para as cimenteiras, a incineração, versus «as técnicas utilizadas, a vigilância, a segurança e a qualidade de todos os procedimentos, assim como a validação do sistema de monitorização, o acesso aos eleitos locais, e a outras autoridades regionais, às instalações e à documentação. A transparência total!» praticadas nos CIRVER, não oferecerão aos produtores dos residuos uma "margem" superior de... anonimato.

Bartolomeu disse...

Fernando, o nome do senhor, é Massano... em português... em italiano... talvez seja Massino... talvez... isto a bem dezere, neste mundo , tudo é possível.

Catarina disse...

Caro Bartolomeu, quero confidenciar-lhe uma coisa e ao mesmo tempo pedir-lhe uma explicação – talvez esteja mais disponível para o fazer: tenho a “mania” que sou poliglota... uma daquelas pequenas veleidades que ainda alimento. Ao ler o texto to Prof. compreendi o significado de cada palavra (quando chegou ao comentário do Caro JM ... bem isso já foi outra estória...! : ) ). Agora perante o comentário do senhor Fernando... surgiu-me uma dúvida. Mas não foi em Português que o caro Prof. se expressou?! : )

Bartolomeu disse...

Cara Catarina,
cada um com suas "manias"!
Pessoalmente, sinto-me subjugado a várias: Acho-me intelectual, erudito, aristocrata, diplomata, ético, académico, humanista, altruísta e poliglota também.
Ao Senhor Salvador... lamentávelmente, não identifico qualquer uma destas "manias".
Cá para mim (e só aqui entre nós, Catarina) vai ver que o Senhor Salvador não é Professor coisíssima nenhuma e o que faz é copiar os textos que publica de um qualquer blog desses que se encontram a esmo na blogosfera.
;)))

Catarina disse...

Se calhar é isso! E depois, intencionalmente ou não, lá se vai esquecendo de certas consoantes... Mas que dá um aspecto erudito aos textos, lá isso dá! E um certo modernismo também! Denota espírito jovem que não tem receio de abraçar estas modernices que aparecem... : ) : )

Bartolomeu disse...

Seja como fôr... consoante as consoantes que se omitem, seja ou não intencional, soam sempre as consoantes, mesmo que não se encontrem.
N'acha, Catarina?

Catarina disse...

Eu cá por mim, acho! : )