A divulgação ontem do Relatório do FMI a partir de um
conjunto de medidas noticiadas pelo Jornal de Negócios gerou uma grande tempestade política. Caiu na rua que nem uma bomba. A
forma como o país conheceu a opinião do FMI não correu bem. Foi fuga de
informação ou encomenda para que fosse assim? O que tenha sido só poderia
causar um terramoto de reacções. Até não faltaram declarações ministeriais a
manifestar a sua não concordância em relação a pressupostos assumidos no
Relatório e outras a elogiar o trabalho realizado.
Pensemos no cidadão comum, o que pensará de todo este
espectáculo, como pode ter confiança e esperança. O país anda atordoado com a
austeridade e vive amedrontado com a incerteza do futuro.
Agora que se conhece o cardápio dos cortes que o FMI defende
para “refundar” o Estado Social, é fundamental que seja feito um debate alargado com
todas as forças vivas da sociedade, mas que
deverá começar a montante sobre
que Estado é que queremos ter. Devemos começar por aqui, sejamos capazes de o fazer. O debate é muito necessário, só assim será possível obter uma base alargada de consenso absolutamente necessária...
13 comentários:
Estou a ouvir David Justina na 8.
Embora não concorde com várias coisas que ele diz, estou a ouvi-lo com gosto e atenção. Desde logo, porque ele sabe (em grande medida) do que está a falar.
Debate? receio que o tempo de debate já tivesse passado. De facto, está instalado um terrorismo social que não augura nada de bom. Faz-me impressão coo é que os políticos não se apercebem o que se está a passar.
a esquerda anda desesperada e nunca irá debater nada.
seguro já o disse muitas vezes.
querem sangue e mártires
"O debate é efectivamente muito necessário,"
Concordo inteiramente.
Mas não deve ser feito a partir de um parecer técnico, mesmo que esse docummento tenha a chancela do FMI,... nosso senhor.
O Governo nunca deveria ter permitido a divulgação pública do documento antes de o discutir com os consultores e retirar dele, se assim entendesse, as medidas que entende dever submeter a debate público.
Os portugueses não devem discutir um documento que, supostamente, não sabem em que medida correspondem ao entendimento do governo sobre as matérias nele abordadas.
"corresponde" sff
No dia em que se conhece que o desemprego na Grécia atingiu os 26,6 % , ( Em Outubro de 2011 eram 19,7% ), e em que este país ultrapassou a Espanha com a taxa mais elevada de jovens sem trabalho , que chega agora aos 56,6 % ,propor um debate não será apenas dar a escolher ao condenado se quer morrer na forca ou na fogueira ?
«...é fundamental que seja feito um debate alargado com todas as forças vivas da sociedade, mas que deverá começar a montante sobre que Estado é que queremos ter.»
Cara Drª. Margarida, confesso não entender o sentido desta sua ideia.
"que Estado é que queremos ter.?" ou, que governo é que queremos ter? Ou, a esta altura dos acontecimentos, asfixiado como se encontra pela Troica, o FMI, o BCE, a moeda única, o Estado terá alternativa de poder ser outro Estado, seja governado por este ou por outro qualquer governo.
Parece-me (parece-me, não, tenho a certeza) que cada dia fazem mais sentido, as palavras de Isabel Jonet.
Cara Margarida, o grande debate sobre as funções do Estado, um debate alargado que mobilizasse a sociedade civil e a incitasse a participar nele, que fosse buscar a nata da sociedade em cada um dos sectores para dar o seu contributo, esse movimento de excelencia e fundamental para as próximas décadas do país, esse debate não foi feito. Perdeu-se, aliás, uma oportunidade de ouro para o fazer. Não sei se agora ainda há tempo para isso. É um debate longo, de vários meses (até porque as soluções não são instantaneas e requerem o seu tempo de estudo e maturação) e, parece-me, neste momento já não há tempo para ele.
Caro Bonaparte
Seria bom que os cortes não se transformassem num caso TSU, inviabilizando uma reforma do Estado que é necessário fazer. ´
Caro Floribundos
Tenhamos esperança que haja bom senso e que o interesse do país se sobreponha a um discurso político/partidário que está em marcha a pensar nas eleições autárquicas.
Caro Rui Fonseca
Por causa justamente do documento técnico do FMI é ainda mais necessário fazer um debate. O governo deve fazer o seu trabalho, ter uma proposta política para apresentar ao país, mas não apenas uma lista de cortes que se resuma à redução de pessoas, redução de salários e pensões e redução de prestações sociais.
Reformar o Estado e repensar o Estado Social não se ponde confundir com medidas de austeridade. As reformas devem ser pensadas para um futuro que se quer de prosperidade, nos planos social e económico, em que o país seja capaz de produzir riqueza e de a redistribuir de forma equitativa e justa.
Cortes assentes na redução do rendimento das famílias conduzirão a uma maior quebra no consumo, com impacto negativo na actividade económica. Como vamos conciliar a austeridade, as reformas e o crescimento económico? Esta é também uma grande questão.
Caro manuel.m
Sem debate, o que é que podemos esperar? O debate, os estudos técnicos, a proposta do governo ao país levam um ano de atraso. E agora?
Caro Bartolomeu
Faz sentido despedir 60 mil a 120 mil funcionários públicos - repare no absurdo do intervalo - sem se discutir que Estado é que queremos ter? Quais são as funções que serão abrangidas por esta redução?
Faz sentido cortar pensões e prestações sociais sem cortar nas estruturas públicas e rever o funcionamento destas estruturas?
Estes são apenas dois exemplos da falta de sentido que tem a ausência da discussão do essencial: que Estado é que queremos ter?
Poupanças temos todos que fazer, inclusive o Estado, todos temos que tomar consciência que só podemos gastar o que produzimos, incluindo o Estado, e que precisamos de trabalhar mais e melhor para produzirmos a riqueza que precisamos para manter um país decente. Mas não basta ter PIB, a redistribuição da riqueza é uma das funções mais importantes do Estado. Este é um dos pontos fundamentais a discutir, não pode ser uma resultante, deve ser um objectivo. Infelizmente são milhões de portugueses que não podem poupar porque vivem em situação de carência económica grave.
Caro Zuricher
Tem toda a razão. Somos bons a acumular erros!
O debate, graças à acção da comunicação social, será boicotado...
Mas, um dia, aquele partido que se denomina socialista, vai ter de fazer cortes similares aos que o relatório do fmi refere (a realidade a isso vai obrigar). Nesse momento, o frenesim da comunicação social vai virar a agulha e mostrar ao cidadão qualquer coisa como o seguinte: se não cortarmos 50.000 - 100.000 funcionários, é toda estrutura, composta talvez por uns 700.000 funcionários e suas famílias, que pode colapsar. Jornalistas e comentadores, encarregar-se-ão de recordar que seria irresponsável, ignorar esse evidência...
Os cortes passarão então a ser necessários para assegurar a sobrevivência do Estado Social. O povo, mais conformado, viverá menos revoltado.
http://jornalismoassim.blogspot.pt/2012/12/saber-comunicar-o-glamour-da-esquerda.html
Tem toda a razão, cara Drª. Margarida. Faz toda a lógica que as decisões A tomar, sejam préviamente discutidas com seriedade, tomando em linha de conta a palavra que todos os agentes políticos e privados e públicos, tenham a dizer acerca das matérias em apreço.
Mas a minha pergunta é: como?
Se os decisores sofrem de surdez aguda e vivem alheados da realidade?!
Ser preciso, é. É mesmo indispensável e justificável, no mínimo porque vivemos num regime democrático, porém não existe forma de obrigar os decisores a debater e sobretudo a escutar.
Comparativamente, somos uma grande família em que os pais decidem de acordo com as directrizes dos vizinhos do lado e se estão a borrifar para a opinião dos filhos e dos avós.
Assim, não ha debate possível, a alternativa é mesmo a de mudar o governo, o que também não é fácil, na medida em que, quem tem poder para o fazer, não faz e ele (governo) também não.
Desculpem, mas não me lembro de tema nenhum que tenha sido objecto de tais debates e que daí tenha resultado alguma sequência. Também não sei se o mesmo se passou noutros países. O que há, noutros países, é programas de reforma pensados, ponderados, levados à prática e mantidos até se verem os efeitos, agregando para a sua execução, e correcção permanente, as várias forças políticas essas sim, mobilizadores dos cidadãos. O que desmobiliza é a permanente alteração dos rumos que deviam ser firmes, o que desacredita é o "está tudo errado", vamos "refundar", "repensar" ou "revolucionar", uma e outra e outra e outra vez.Quando afinal não há plano nenhum e fica tudo atónito quando aparece alguma coisa escrita.
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