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domingo, 20 de outubro de 2013

"Síndrome de cadáver ambulante"...

No final do século XIX, um médico francês, de sua graça Jules Cotard, descreveu o estranho caso de uma mulher que acreditava não ter cérebro e que pediu para ser cremada porque já estava morta. A senhora sofria de uma doença caracterizada por delírios negativos, acreditando na sua não-existência. Outros casos foram entretanto relatados em que as pessoas acreditam estar mortas, ou terem partes do seu corpo que não são suas, partes que já morreram. É uma situação pouco comum, felizmente, e que se encaixa dentro das inúmeras síndromes curiosas que atingem o ser humano. Neste caso, síndrome de Cotard, como ficou conhecido, pudemos ver a dificuldade e a complexidade entre a noção do ser e do não-ser. O cérebro tem mecanismos complexos, e nalgumas circunstâncias comporta-se de uma forma tão estranha como a descrita, também conhecida pela síndrome do "cadáver ambulante". Alguém que sente que está morto e anda por aí qual alma errante sem saber o que fazer. Os mecanismos começam a ser entendidos e são objeto de atenção por parte dos investigadores, havendo formas de a tratar. De qualquer modo, deve ser horrível ter essa sensação. Nem imagino quanto.
Ter consciência de si próprio, da sua identidade, é algo complexo, que tem um substrato neurológico perfeitamente identificado.
Se neurologicamente começamos a compreender este fenómeno estranho, cuja designação "cadáver ambulante" assusta o mais afoito de todos, o mesmo não acontece com o seu equivalente social, a falta de identidade e a passividade de muitos que se passeiam meio "zombies" face às malfeitorias e faltas de respeito devido a mecanismos sociais e económicos que atingem as comunidades. Há uma nítida desfiguração, uma verdadeira patologia social e dilapidações induzidas, que são capazes de transformar bons cidadãos em unidades sofredoras às mãos dos que não têm escrúpulos e não respeitam os direitos dos outros. Olho em redor e vejo cada vez mais que a sociedade, doente, alterada nos seus mecanismos reguladores e disciplinadores, está a provocar uma epidemia de "cadáveres ambulantes" que se passeiam dolorosamente sem saber o que fazer. Trata-se, na minha opinião, de um equivalente social da famosa síndrome que Cotard identificou no final do século XIX, sociedade de "cadáveres ambulantes". "Cadáveres ambulantes" que sofrem por se verem nessa situação e que são frutos da arrogância, da falta de respeito e da exploração por parte de seres que merecem ser erradicados, e eliminados, antes que nos ponham a todos, homens e mulheres de bem, a pedirem para ser cremados, porque já estão mortos...

3 comentários:

MM disse...

E como se consegue?!...

Suzana Toscano disse...

Humm, corremos o risco de ter uma epidemia, mas qual será o tratamento, já que a prevenção implicava mudança nos comportamentos dos outros?

Massano Cardoso disse...

Partindo o "focinho". Resulta sempre, embora não dure sempre. Mas enquanto o pau vai e vem folgam as costas...