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quinta-feira, 13 de setembro de 2007

A boçalidade do argumento

Começaram a proliferar os comentadores, com sustentadas análises sobre o desaparecimento da pequena Madeleine, agora na suspeita de que foram os pais os assassinos.
Hoje, um articulista que vem escrevendo diariamente no DN, ex-inspector da Judiciária, certamente à falta de outras razões, atira dois argumentos profundamente grosseiros e boçais para sustentar a culpabilidade dos pais, com base nas incoerências e contradições do seu comportamento.
Essas incoerências e contradições que o articulista genialmente descobriu advêm do facto de os Mc Cann professarem a religião católica.
A primeira relaciona-se com o facto de os Mc Cann irem rezar à Igreja da Luz. Para o arguto analista um católico não precisa de ir à igreja. O argumento é de peso, e transcrevo: “se Deus estará em todo o lado, não seria necessária a chave da igreja, porque as conversas com Ele podem ser mantidas em qualquer lado.”!...
A segunda relaciona-se com o facto de, e também transcrevo, a “ultracatolicidade do casal esbarrar sobremaneira contra a prática da inseminação artificial que, segundo a igreja é moralmente inaceitável.” Por acaso, mero acaso, não é essa a posição da Igreja. Mas que fosse?
No fim, não sei que mais lamentar: se o facto de argumentação tão primária ter sido escrita, se o facto de ter sido publicada!...

Ambiente, meu bem

Ontem fomos informados de que a Rússia testou com sucesso uma maravilha bélica a que chamam “bomba amiga do ambiente”. Ao que parece, foi descoberta uma forma de contornar todas as proibições de se fabricar material bélico que emita radiações ou cause danos terríveis que impeçam os sobreviventes de ter uma vida normal nas imediações de onde caírem as bombas.
A bomba de vácuo, com sete toneladas e capacidade de destruição comparada à das bombas atómicas, permitirá, segundo o Chefe das Forças Armadas russas, “garantir a segurança nacional, mas é amiga do ambiente, quando comparada com o poder radioactivo das bombas nucleares”
Assim, a nova era da destruição maciça mata tudo menos o ambiente. Uma bomba civilizada, portanto. Será demais perguntar para que é que serve o ambiente sem pessoas?

A realpolitik ou a ilusão de que com cobardia se compra respeito

O Pinho Cardão já se referiu aqui ao assunto da recusa do Governo em receber Dalai Lama em chocante contraste com a abertura em relação a Mugabe.
Não resisto a algumas notas adicionais que têm que ver com a ideia de que a hipocrisia nas relações internacionais é lei, e que por isso não impressiona a atitude das mais altas individualidades. É até considerada, de comum, de grande sensatez e de irrepreensível responsabilidade.
Recordo, julgo que a propósito, alguns factos.
Yasser Arafat, então presidente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), visitou Portugal pela primeira vez em 1979 e foi recebido oficialmente pela então primeira-ministra, Maria de Lourdes Pintasilgo.
Voltou em Novembro de 1993, e foi acolhido com grande pompa e circunstância pelo Presidente Mário Soares.
Não era chefe de qualquer Estado mas o líder de um movimento que pugnava pela criação de um Estado.
Isso não impediu os mais altos dignatários do País de o receberem, considerando até que estavam com esse gesto a contribuir para a paz, para a segurança internacional e para a defesa dos direitos humanos.
A diferença destes comportamentos em relação a Dalai Lama não tem somente a ver com os tempos. Os tempos são de facto outros, mas a questão é exactamente a mesma.
A diferença está entre o que separa o poder da China e o poder de Israel.
Uma nota mais.
Mais cedo do que imaginei, venho aqui louvar a intervenção correcta e corajosa de Ana Gomes. Ontem, entrevistada por uma das TV´s insurgiu-se contra a atitude do Governo do PS a que pertence, recordando que foi Portugal que, pioneiro, junto da ONU dinamizou um movimento de condenação da República Popular da China contra a violação dos direitos do Homem.
Revelou que nessa altura os diplomatas portugueses e seguramente o Governo foram alvo de pressões por parte da China. Considerou-as normais no jogo das diplomacias e dos interesses internacionais. E concluiu o que está à vista: não foi a firme atitude de Portugal na defesa de valores fundamentais que prejudicou as relações com a China até hoje.
E concordo com a asserção conclusiva de Ana Gomes: um Governo que não se dá ao respeito, não espere que venha a ser, no futuro, alvo de respeito.
Essa sim, deveria ser uma regra da realpolitik.

Crise financeira - implicações mais sérias

Começam a aparecer desenvolvimentos substantivos da crise financeira que estalou há pouco mais de um mês com epicentro na já conhecida novela dos “sub-prime loans” originados no mercado americano, mas distribuídos um pouco por todo o Mundo sob a forma de produtos financeiros derivados graças a uma inovação financeira que entre outros problemas não facilita – bem pelo contrário - a percepção do risco dos activos que vai gerando.
Curiosamente, esta crise veio acelerar a necessidade de correcção dos desequilíbrios macroeconómicos globais, que de há muito vinha sendo comentada mas sem que se vislumbrasse um factor de pressão que tornasse essa correcção inadiável.
Parece chegada a hora em que essa correcção não poderá ser adiada sob pena de consequências sérias para o crescimento global.
Este tema encontra-se tratado, com a clarividência e subtileza habituais, em artigo ontem publicado no Financial Times pelo seu articulista Martin Wolf.
O grande motor do crescimento global tem sido a procura interna da economia americana.
Esse motor está “gripado”, por força da crise no mercado imobiliário que inexoravelmente vai arrefecer o andamento da procura interna: os consumidores estão menos confiantes, o crédito está mais escasso e caro, o USD está em perda – tudo ingredientes para gerar aquele arrefecimento.
A solução passa, aparentemente, por uma descida significativa das taxas de juro americanas – esperando-se que o FED inicie essa descida já no próximo dia 18, com um corte de 0,5 pontos na sua principal taxa (Fed Funds) dos actuais 5,25 para 4,75%.
Esta medida não é contudo isenta de riscos, levantando pelo menos as seguintes questões:
1) Ser insuficiente para compensar os factores de arrefecimento da procura interna nos USA;
2) Provocar uma queda abrupta no USD, gerando pressões inflacionistas que nesta altura seriam particularmente indesejáveis;
3) Por redução da confiança no USD, fazer disparar as taxas de longo prazo da dívida americana (fixadas pelo mercado, nas quais o FED não tem qq espécie de intervenção) colocando em causa o próprio objectivo de redução das taxas de curto prazo e podendo forçar, a final, aquilo que se pretendia evitar - uma recessão.
Não se pode esquecer que os grandes financiadores da economia americana são externos, não lhes agradando nada a ideia de um USD fraco, pedirão um prémio mais elevado para manterem a procura de activos em USD.

O reputadíssimo Prof. Martin Feldstein, de Harvard, citado por Martin Wolf entende que perante estes riscos, o FED não pode mesmo deixar de baixar as taxas, pois entende que é maior o risco de uma recessão americana se nada for feito.
Outros reputados economistas (infelizmente nenhum dos nossos altamente credenciados), tb citados por Wolf, têm opiniões diferentes.
A questão é complexa e apaixonante.
Importa seguir os próximos episódios com a maior atenção.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Treinador de bancada...mas esclarecido!...

Hoje irritei-me ao ver o jogo Portugal-Sérvia. Obviamente que o resultado não poderia ser outro, já que a equipa portuguesa e o seu seleccionador tudo fizeram para que assim fosse.
Recriaram-se em jogar perto da sua própria baliza: foram passes e mais passes dos centrais para os laterais, destes para os médios defensivos, e destes para o guarda-redes. Porque assim pensavam controlar o jogo.
Recriaram-se em perder tempo e oportunidades, fazendo passes e passinhos em diminuto espaço junto à primeira linha lateral que se apresentasse, esquecendo o resto do campo e acabando por perder a bola para o adversário. Porque assim pensavam tirar ritmo aos sérvios.
Raramente jogaram no meio-campo adversário, pois, mal a bola lá chegava, o que se via era um corropio de jogadores a recuar. Porque assim pensavam organizar a defesa.
Que me lembre, só remaram direito à baliza por três vezes: no lance do golo, num remate ao poste e numa recarga a seguir a este lance. Porque rematar é uma extravagância do futebol.
Prescindiram de cruzamentos, pois os extremos raras vezes por lá andaram, e quando andavam era em duplicado, concentrando-se sobretudo no meio, estorvando-se uns aos outros e dificultando a colocação da bola dos homens do meio-campo. Porque assim pretendiam desorientar o adversário.
Jogaram devagar e devagarinho, como um bando de entrevados. Porque assim amoleciam os sérvios.
Foi uma estratégia tão bem definida que não podia sair só da mente dos 14 jogadores em campo. Teve que ser delineada por uma mente mais brilhante. A mesma que põe a jogar quem entende e não quem se apresenta em melhor condição.
Nunca tivemos um Grupo tão fácil. Raras vezes temos jogado tão mal!...
Uma palavra para os comentadores da RTP. A estratégia era soberba até 4 minutos do fim. A partir daí, passou a ser toda errada!...Piores que o seleccionador e muito piores do que o pior jogador!...
Sou calmo, mas irritei-me!...

“Um problema de ética ambiental”...

A razão de sexos ao nascimento é definida pelo número de crianças do sexo masculino versus os do sexo feminino. Por cada 100 raparigas nascem 105/106 rapazes. Especula-se muito sobre as razões deste fenómeno. Em certos países e regiões foram observados desvios e inversões desta razão. Quanto às causas, são muitos os factores invocados. Entre eles, destacam-se os de origem ambiental, constituindo a inversão da razão de masculinidade - para alguns autores – um “bom” sinal de alerta de agressão durante a gravidez, já que o sexo masculino é mais sensível às “agressões” químicas do que os indivíduos do sexo feminino. Não obstante a controvérsia entre os diferentes autores, não é de excluir esta hipótese, reforçada por vários estudos recentes.
As comunidades remotas que vivem ao redor do Círculo Polar Árctico apresentam duas vezes mais raparigas do que rapazes. Curiosamente, países como os Estados Unidos e Japão exibem, pela primeira vez, um predomínio feminino!
Os cientistas concluíram que a poluição química é o principal responsável por tão preocupante fenómeno. Os poluentes são canalizados pela acção dos ventos e dos rios, “afundando-se” numa zona muito sensível do planeta, acabando por contaminar a cadeia alimentar e, consequentemente, atingindo os seres humanos e outros animais.
A Gronelândia apresenta a maior proporção de mulheres do mundo.
O Árctico já demonstrou a sua “utilidade” ao contribuir para o diagnóstico das alterações climáticas em curso. Agora, está a “mostrar” o que pode acontecer à Humanidade em termos de poluição. Na prática, não se vislumbram grandes preocupações nesta matéria.
Muitos dos poluentes de origem humana – frutos da actividade industrial - são dotados de actividade semelhante às hormonas femininas. A inundação destes disruptores no meio ambiente é cada vez mais preocupante. Importa, naturalmente, aplicar preventivas medidas à escala planetária, antes que seja tarde de mais, a fim de evitar uma catástrofe difícil de quantificar. Não é "só" o fenómeno de inversão que está em causa. Outras consequências a nível da saúde são muito sérias para as ignorarmos.
"Um problema de ética ambiental" que urge resolver...

Ensino: igualdade de oportunidades com respeito pelas desigualdades...

O insucesso e o abandono escolar tornaram-se, invariavelmente, um tema recorrente. Um verdadeiro pesadelo para o Ministério da Educação e para o País. Os dados recentes publicados pelo Eurostat mostram que em Portugal a evolução do abandono escolar nos últimos dez anos (1996-2006) se manteve praticamente inalterada – de 40,1% para 40%. Em 1996 o abandono escolar em Portugal era de 1,9 vezes superior à média da EU 15 e em 2006 subiu para 2,3 vezes. Mas ainda mais grave é o aumento do abandono escolar verificado entre 2005 e 2006, que passou de 38,6% para 40%, enquanto a média europeia continuou a diminuir.
É muito importante, obviamente, investirmos na formação universitária. Parece que – segundo rezam as estatísticas – não é ainda suficiente o número de profissionais com formação superior. É, portanto, necessário reforçar este número e é isso que temos andado a fazer, porém preocupados bem mais com a quantidade do que com a qualidade! É que, tal como as outras instituições de ensino, também a universidade está viciada e desacreditada, prevalecendo o objectivo da obtenção de um “canudo” que, diga-se em abono da verdade, com ou sem valor, não serve muitas vezes para nada.
Mas comecemos pelo início. Porque é que apenas 60% dos nossos jovens ultrapassam a barreira do 9º ano de escolaridade (obrigatória)? Têm sido apontadas várias causas, mas destacaria uma que me parece ter raízes mais profundas. Criou-se um complexo, post 25 de Abril, que afirma que somos todos iguais. Esta concepção igualitária veio perturbar profundamente as mentalidades. Esta igualdade tão apregoada deveria ter apenas e tão só que ver com as oportunidades de acesso que devem ser asseguradas a todos, independentemente da sua condição económica e social, já que ainda não está comprovado que todos tenhamos as mesmas aptidões, apetências e capacidades intelectuais.
Foi à luz deste princípio que se estabeleceu a primeira etapa que constitui o ensino obrigatório, “igual para todos”, sem liberdade de opções, o que nos dias de hoje e no nosso contexto actual, sociólogo e cultural, não faz qualquer sentido e é uma verdadeira aberração. Os alunos não querem e viram costas à escola. E porquê? Porque não gostam da escola. Não creio que a culpa seja dos professores, mas antes dos programas e porque o tipo de ensino que é ministrado não só não lhes diz rigorosamente nada como não lhes serve rigorosamente para nada. E é assim que, obrigados pelo sistema, uma grande parte dos alunos do insucesso e do abandono escolar, optam por não estudar, almejando livrarem-se do 9º ano de escolaridade, cuja única virtude será fazê-los esquecer e odiar a escola para sempre.
A segunda etapa do ensino, já mais selectiva, visa o 12º ano de escolaridade, repetindo-se aqui os mesmos erros, já que muitos dos alunos que o frequentam não o fariam caso pudessem escolher “outra coisa”. E a injustiça é tanto mais flagrante, quanto estigmatiza aqueles que não podem ou não querem o tipo de ensino “imposto” e impede outros de progredirem normalmente no seu estudo, já que as aulas são colectivas. Culpam-se, por fim, os professores que se limitam, afinal, a maior parte das vezes, a cumprir as políticas do Ministério da Educação.
Devemos proporcionar a todos os jovens, de forma arrojada, sem medos nem complexos, o conhecimento de que necessitam para crescerem e se realizarem, através de um ensino diversificado e de qualidade que os alunos poderão frequentar a partir do 5º ano de escolaridade. É neste nível que – antes de atingirem o 9º ano de escolaridade – os alunos devem ser ajudados e orientados no sentido de lhes ser fornecido um projecto escolar e profissional, de acordo com as suas aptidões, apetências e capacidades intelectuais. É nesta fase que é útil explorar entre dois caminhos distintos: a via universitária e a via técnico-profissional. Esta é uma prática do sistema educativo de alguns países europeus, que por sinal apresentam taxas baixas de insucesso escolar.
Os alunos não ficarão traumatizados, antes pelo contrário, ficarão felizes e realizados e muito gratos – e o País também – por lhes ser dada a possibilidade de uma escolha efectiva e séria de oportunidades. É aqui que a igualdade de oportunidades encontra a sua melhor forma de concretização. A ideia que se instalou de que só há igualdade num País de “doutores” deu um péssimo resultado! Um erro que origina as piores das desigualdades!

Do Dalai Lama a Mugabe

O Governo portugês não se predispõe a receber o Dalai Lama.
O Governo português predispõe-se a receber Robert Mugabe. Os dois aparecerão seguramente na fotografia oficial.
O Governo é pródigo em falar dos direitos humanos. Os factos indicam de que lado está!...

terça-feira, 11 de setembro de 2007

O livre arbítrio

Segundo o DN de hoje, um estudo de investigadores dos Estados Unidos concluiu que ser conservador ou liberal, ou ser de direita ou de esquerda, corresponde a perfis cognitivos distintos e a funcionamentos cerebrais diferentes também. Assim, seria o funcionamento do córtex cerebral que determinaria a inclinação política da pessoa.
Também numerosos outros estudos, muitos dos quais divulgados neste Blog pelo Prof. Massano Cardoso, atestam que determinados genes são responsáveis, não só por muitas das características físicas, mas também por muitos dos comportamentos (criminalidade, homossexualidade, genialidade, estupidez, generosidade, cooperação, religiosidade, altruísmo (vide o post O Gene do Altruísmo).
A ser verdade, o homem nasceria já pré-determinado, bom ou vilão, santo ou bandido, sério ou vigarista, útil ou inútil, Madre Teresa ou traficante. A sua vida está antedefinida e tem que se limitar a seguir o seu inexorável destino.
Os valores da ética e da moralidade deixariam de existir, por não haver nem culpa, nem mérito, nem liberdade de escolha, nem livre arbítrio.
Sem sentido ficam a justiça e os tribunais, que ninguém pode ser acusado por possuir genes para os quais em nada concorreu.
E todos os pequenos e grandes facínoras e ditadores teriam que ser absolvidos.
Acredito na ciência, mas não estou ainda preparado para aceitar que o valor e o princípio universal do livre arbítrio possa ser assim tão facilmente postergado. A ciência evolui e as certezas de hoje tornam-se as dúvidas de amanhã, que se traduzirão em novas certezas e novas dúvidas, num eterno devir. É o encanto da ciência, que não perturba princípios universais em que assenta a vida da humanidade.

“Sindroma de status”...

A esperança de vida constitui, a par de muitos outros, um bom indicador do desenvolvimento de uma comunidade.
Quando Cristo andava pela terra, a esperança de vida rondava os 25 anos, mantendo-se praticamente inalterável até meados do século XIX, período em que começou a aumentar, atingindo os 40 anos no princípio do século XX. Desde então, nos povos mais desenvolvidos, tem sofrido um aumento substancial aproximando-se dos 80 anos, contrastando com os mais pobres. A diferença actual entre os dois mundos é da ordem dos 30 anos! Enquanto nos mais ricos a esperança de vida aumentou sete anos desde 1970-75, nos mais desfavorecidos, caso dos povos subsaarianos, o aumento foi apenas de quatro meses!
As causas destas diferenças são conhecidas, originando a criação de um novo síndroma, a “síndroma do status”, sinónimo de desigualdades sociais.
Acontece que esta síndroma não se verifica somente entre os países mais ricos e os mais pobres. Também, dentro do mesmo pais, é possível encontrá-la. Há mais de 25 anos, no famoso estudo Whitehall, o epidemiologista britânico, Professor Marmot, tinha chegado à conclusão de que o risco de morrer era quatro vezes superior nas camadas sociais mais baixas face às das classes mais elevadas.
Adoecer e morrer prematuramente tem a ver com as condições socioeconómicas, as quais estão associadas à pobreza, às más condições alimentares, às deficientes condições das habitações, às atitudes e comportamentos face aos diferentes tipos de factores de risco.
Durante muito tempo chamou-me a atenção o facto de muitos, mas mesmo muitos, filósofos e “homens do pensamento” viverem muitos anos, apesar das épocas em que se notabilizaram não serem profícuas em elevadas esperanças de vida! O contraste era tão flagrante, que acabei por admitir que a melhor maneira de atingir idades provectas era dedicar a vida ao “pensamento e à reflexão”. Quase que me apeteceu chamar de “efeito do filósofo” a este fenómeno de longevidade.
Mas tem que haver razões para isto tudo. De facto, passar a vida a fazer o que se quer não é para qualquer um, infelizmente. É preciso “empoderamento”!
O “empoderamento” (em inglês: empowerment) “é utilizado para designar um processo contínuo que fortalece a autoconfiança dos grupos populacionais desfavorecidos, os capacita para a articulação de seus interesses e para a participação na comunidade e que lhes facilita o acesso aos recursos disponíveis e o controle sobre estes”.
Há vários tipos de “empoderamento”. Um deles tem a ver com as necessidades materiais, permitindo, por exemplo, adquirir alimentos ou roupa para as crianças. Se não conseguirem não têm capacitação. A par deste tipo, outro, de origem psico-social, permite o controlo das suas vidas e, por fim, destacamos ainda um terceiro tipo, o empoderamento politico, ou seja ter “voz activa”.
Um pais como o nosso, em que dois milhões de pessoas vivem na pobreza, logo desprovidas de “empoderamento económico”, a que podemos associar ausência de “controlo das suas vidas” (neste caso serão muito mais dos que os dois milhões), e a dificuldade em usar a “voz” por motivos variados, “explica” muito da patologia que infelizmente grassa por aí.
Os responsáveis governamentais “esquecem-se” das chamadas terapêuticas políticas, descurando o campo da medicina social tão bem desenhado, há mais de 150 anos, por Virchow. O enfoque dado às medidas curativas, embora úteis, sem sombra de dúvida, não consegue ir ao cerne da questão. As desigualdades sociais que estão na base da “síndroma do status” têm que ser tomadas em consideração, de outro modo continuaremos a adoecer e a morrer de forma desigual impedindo o desfrutar de algo semelhante ao “efeito do filósofo”, mas com saúde...

Estado, sempre o Estado

Acontecimento muito noticiado este fim-de-semana foi a “Festa do Avante”.
Nesse evento, agora mais social que político, a intervenção final do Sec. Geral do PCP foi – dificilmente se poderia esperar outra coisa – marcada por críticas duras à política do Governo e à pretensa cumplicidade do Presidente da República.
Respiguei dessa intervenção a passagem em que J. Sousa afirma “É tempo de avançar com medidas para travar o desemprego e o endividamento das famílias...”.
Esta passagem é paradigmática da resistência do mito do Estado nas mentes do pessoal da esquerda tradicional e conservadora como é a maioria do “rank and file” do PCP.
Para estas simpáticas criaturas (quando não estão no poder...), o Estado ainda tem poderes mágicos para resolver as crises: só assim se explica este apelo às medidas para travar o desemprego e o endividamento das famílias.
Note-se por exemplo no caso do endividamento, que não há uma palavra pedagógica para o comportamento das próprias famílias, no sentido de prestarem a maior atenção ao endividamento, de não consumirem para além daquilo que os seus rendimentos consentem, etc.
Não, é o Estado que tem de descobrir a varinha mágica para reduzir o esforço financeiro das famílias – como? Baixando as taxas de juro (sugestão curiosamente avançada por J. Sousa) – mas o Estado português tem hoje algum poder sobre o nível das taxas de juro?
Diga-se de passagem que o Governo, ao meter-se no trabalho de administrar os arredondamentos das taxas nos créditos a particulares pretendeu e acabou por transmitir a ideia de que o Estado podia controlar excessos das taxas de juro.
O que, na minha perspectiva na altura aqui bem assinalada, constituiu um erro crasso.
Esse erro está agora à vista, perante a total impotência para controlar a escalada dos custos do crédito...já ninguém repara nos arredondamentos, que se tornam irrelevantes neste contexto.
E como travar o desemprego?
No subconsciente destas mesmas pessoas, a resposta é óbvia: criando empregos, mais professores, mais enfermeiros, mais trabalhadores nas empresas públicas (e porque não mais empresas públicas?), mais médicos, mais polícias nas ruas, mais funcionários nos tribunais, etc,etc.
Todos sabemos o que estamos a pagar pelos excessos de despesa pública e nem sabemos o que mais nos espera.
Mas isso não interessa nesta abordagem mítica ou mesmo mística: no Estado, na Constituição da República e suas promessas e garantias é forçoso que se encontre resposta para todos os nossos problemas...
Algum dia se perceberá que a crença neste mito nos traz muito mais problemas que soluções?
É possível, “but not in my lifetime”...

A paciência da investigação e a urgência da "informação"

Estou a ver o Prós e Contras num derradeiro esforço para conseguir apurar o que é que, de facto, se sabe sobre o caso Madeleine. Quais são os dados objectivos já provados, o que é que realmente mudou desde o momento em que se soube do desaparecimento da criança até hoje, em que os pais são quase apedrejados se saírem à rua.
Confirmo que não se sabe absolutamente nada, ou antes, que nada foi transmitido pela Polícia Judiciária, nem agora nem durante estes meses, que permita sequer suspeitar do que quer que seja. Terá sido afastada a hipótese de rapto, quando muito.
Cada pessoa que fala, é para dizer que as "provas" não provam nada, pelo menos o anúncio dos resultados não significa nenhuma conclusão. Ou que a maior parte dos factos são pura especulação. Ficção, invenção, só por acaso serão confirmadas.
Fica-nos mais uma lição – quantas mais serão precisas? – de que a fúria mediática pode entreter mas não pode, nem deve, convencer. Uma coisa é informar e alardear a informação que exista. Outra, é passar o sapateiro além do chinelo, e termos em cada jornalista ou comentador um Poirot em perspectiva. Seja qual for o desfecho deste caso, já se passou muito das marcas. Lembram-se da Casa Pia, da criança do Aquaparque, da especulação até à agonia? Pois é. Não aprendemos.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O contraste!...


Vasco Uva, o capitão da equipa portuguesa, foi considerado o “homem do jogo” pela Federação Internacional de Rugby, no jogo com a Escócia. Num jogo colectivo, os amadores portugueses revelaram garra, determinação e união, só assim podendo aguentar, sem desdouro, a maior capacidade de uma das grandes equipas da modalidade. Foi digna de se ver a emoção com que entoaram o hino nacional.
Na véspera, as grandes “estrelas” mimadas do futebol deram um espectáculo deprimente contra a Polónia. Por fim, queixaram-se de pouca sorte, coisa que tem o dom de as acompanhar sistematicamente sempre que perdem ou empatam. Os outros nunca são melhores. A generalidade da comunicação social apoia e concorda.
Também para a generalidade da imprensa da especialidade, Ronaldo foi o melhor jogador. Vi o jogo, e não me lembro de Ronaldo ter ajudado os companheiros a recuperar uma bola. Mas lembro-me, e bem, que o mesmo Ronaldo nunca passou uma bola a quem quer que fosse, mesmo que o companheiro estivesse em muito melhor posição. Jogou por si, só para si e os seus interesses, esquecendo que o jogo é colectivo.
As alianças entre assessorias de imagem, interesses publicitários e “jornalistas” fazem com que os mesmos sejam sempre os melhores e tenham fotografia assegurada nas primeiras páginas. Nem precisam de se esforçar, o que é o princípio da derrota.
Vasco Uva foi grande, pelo que individualmente fez e pelo que trabalhou para a equipa. Sobraram umas envergonhadas linhas na imprensa para o referir.
Que exemplar contraste!...
Nota: Interessantíssimo o acompanhamento que A Origem das Espécies anda a fazer do Mundial de Rugby e da equipa portuguesa

Os Jetsons somos nós...

Um jornal do fim de semana deu a notícia de que em breve teremos no mercado automóveis voadores, os skycars. Por enquanto, parece que só têm licença enquanto veículos de diversão mas parece inevitável que em breve comecem a esvoaçar por aí nas mãos dos mais apressados.
Quem não se lembra do fantástico mundo dos Jetsons, com os seus problemas familiares situados num mundo tecnológico, asséptico, tudo mecanizado, empregados robots, discos voadores como meio de deslocação, portas a abrir e fechar só ao toque de um botão, écrans de plasma, comunicações sem fios, pastilhas em vez de refeições de garfo e faca?
Afinal, muitas destas coisas já são parte do nosso dia-a-dia, quase sem darmos por isso, edifícios inteligentes, roupas inteligentes, comunicações inteligentíssimas, até já houve (parece que foi um flop comercial, valha-nos isso) um cãozinho inteligente que substituía o fiel amigo de carne e osso…
Não tarda nada, os nossos netos vão olhar para os nossos belos automóveis, sujeitos aos limites de velocidade dos vulgares vermes terráqueos, com o ar misericordioso com que nós hoje olhamos uma carroça puxada por um burro. O Código da Estrada terá interesse residual e toca de estudar a fundo o Código dos Ares, os níveis de altura permitidos, a prioridade da passarada assustada. Antes de atravessar uma passadeira, pare, escute e…olhe para o céu!

Almoço "BCE": última chamada

É já na próxima 4ª Feira, 12 do corrente, que está previstor o almoço dos que apostaram – vencedores e vencidos – na decisão do BCE anunciada na última 5ª Feira.
Cumpre-me rectificar um dado que divulguei de forma incorrecta: o nosso habitual Comentador André All-garvio tinha feito a sua aposta há cerca de 2 ou 3 semanas, não foi apostador de última hora.
Daí que tenha direito a participar na ementa plena e não apenas na sobremesa como por lapso indiquei na última 5ª Feira – embora a longa distância de sua habitual residência diurna não facilite a sua vinda para este encontro, onde seria fraternalmente acolhido pelos restantes convivas, estou certo.
Torna-se agora necessário proceder à chamada dos apostadores, para comparecerem às 13 horas do próximo dia 12 na Churrasqueira do Campo Grande.
Quem puder e quiser estar presente, fará o favor de contactar este post até às 24 horas de hoje.
Aos vencidos a garantia de que terão um tratamento excepcionalmente clemente – o 4R é um espaço de liberdade e de responsabilidade, onde também cabem iniciativas mais lúdicas como é o caso, mas sem excessivas consequências para o bolso dos Comentadores.
Os tempos de resto não estão nada propícios à assunção de grandes encargos, seja qual for a sua natureza: os cintos estão apertados e a perspectiva é para se ter de recuar mais alguns furos – é “indispensável” em primeiro lugar reduzir a despesa pública, não é o que os distintos Economistas altamente credenciados vêm magnanimamente ensinando?
Aguardam-se então as inscrições.
E atenção que o almoço só poderá realizar-se com um mínimo de 5 participantes (metade dos apostadores+1).
Se não tivermos 5 participantes, pelo menos, cairemos na situação de adiamento.
Têm a palavra Pinho Cardão, Tonibler, C. Monteiro, Margarida C. Aguiar, Marquês de Monforte (bem regressado!), André All-garvio, Dartacão, T. Moreira.
Se mais algum participante/associado do 4R quiser comparecer (a expensas suas, é claro) é bem vindo com certeza.

domingo, 9 de setembro de 2007

Devemos acreditar no segredo de justiça!...

Continua a galope a “informação” sobre o casal McCann e a filha desaparecida. Como vale tudo para encher títulos, o segredo de justiça continua a nada valer.
Aqui há dias, um jornal noticiou que a Polícia Judiciária tinha uma séria desconfiança quanto ao papel dos pais no desaparecimento. Pareceu estranho, mas confirmou-se!...
Antes mesmo de o casal ter sido chamado para os mais recentes interrogatórios, já se publicava que poderiam ser considerados arguidos. Foram!...
Hoje, o “segredo de justiça” tornou-se perfeitamente transparente no DN, a avaliar pelo conteúdo de um dos artigos que se refere ao caso, intitulado "PJ espera novas análises para deter casal McCann". Algumas frases:
A Polícia Judiciária (PJ) acredita que poderá deter o casal McCann na próxima semana.
Os dois (pai e mãe) serão de novo ouvidos terça-feira.
É sobre a mãe de Maddie que recaem as maiores suspeitas.
Os investigadores admitem a forte probabilidade de Kate ter dado um "estalo" em Maddie e de esta ter batido com a cabeça.
Amanhã, a PJ entregará ao procurador do Ministério de Público (MP) em Portimão o relatório das inquirições aos McCann, que, ao que o DN apurou, não tiveram grandes resultados devido ao silêncio de Kate e Gerry perante as 40 questões colocadas pelos investigadores.
E outros “segredos” são ainda devidamente expostos.
Das duas uma: ou as notícias são inventadas, ou elementos da Judiciária cederam informação. Desinteressadamente, por amizade ao jornal, ou para ajudar a investigação, subvertendo a lei? Interessadamente, subvertendo também a lei? Resta ainda uma terceira hipótese, que é a de a “investigação” jornalística recorrer a videntes de grande capacidade e competência, naturalmente com acesso livre às mentes dos agentes da Judiciária.
Em qualquer circunstância, devemos todos acreditar no segredo de justiça da justiça portuguesa!...
A bem da Nação.

sábado, 8 de setembro de 2007

Para quando o fim do "balde higiénico"?

Fiquei de boca aberta ao ler a notícia hoje publicada no DN que dá conta que o Ministro da Justiça anunciou um programa de 16 milhões de euros para acabar de vez com o “balde higiénico” nos estabelecimentos prisionais. Mais de metade (54%) das celas não possui sanitários, o que corresponde a 1.878 celas.
Sinceramente que fiquei chocada e envergonhada. Como é que é possível em pleno século XXI, na Europa, existirem prisões em que os reclusos, “muitas vezes de forma partilhada”, fazem as suas necessidades fisiológicas em recipientes? É humilhante e indigno. Como é que é possível dispormos de estabelecimentos prisionais que não têm sanitários? Custa a crer!
E se o sistema do “balde higiénico” constitui, pelos vistos, uma prática comum e normal, questiono-me sobre muitas outras coisas absurdas que se passarão nas prisões portuguesas. São situações cuja resolução está nas mãos do decisor político que não as pode nem deve, em meu entender, deixar arrastar. Custa-me a crer que a razão para não riscar do mapa o “balde higiénico” pudesse ser, mais uma vez, o défice das finanças públicas!
As prisões sendo locais especiais não deixam de ser habitadas por pessoas. A falta de higiene e de privacidade só pode contribuir para um ambiente promíscuo com todas as consequências negativas que daí decorrem.
Não querendo obviamente generalizar, esta realidade mostra bem o estado em que se encontra este pobre País...
Rectificação: actualmente existem nas prisões de todo o País 914 celas sem instalações sanitárias; o número citado no texto - 1.878 celas - reporta-se a Abril de 2005.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

“Preservativos e florestas”...

Foi anunciado, há pouco tempo, que o Estado do Vaticano vai compensar as emissões de dióxido de carbono, florestando uma região húngara. O facto do Vaticano não ter assinado o protocolo de Quioto não interfere no elevado simbolismo desta atitude face ao grave problema do aquecimento global. A esta atitude soma-se o desejo de ser o primeiro “estado neutro” em carbono.
Aqui está como um pequeno território de meio quilómetro quadrado que, mesmo impossibilitado pela míngua de espaço para ter uma floresta, consegue ir até à Hungria e proceder a plantação de uma nova floresta.
A reflorestação é uma técnica muito importante para contrariar o fenómeno em causa. Mais valia que a fizessem noutras partes do globo onde, por razões de explosão demográfica, os recursos naturais estão a ser delapidados a um ritmo acelerador. Dentro dos muitos factores apontados, nomeadamente as actividades dos povos mais desenvolvidos, destaca-se o crescimento populacional. Não podemos esquecer que nas próximas décadas a população irá sofrer um acréscimo da ordem de 2,5 mil milhões de indivíduos a adicionar aos já existentes 6,5 mil milhões! Esta fatia da população corresponderá à emissão de 11 mil milhões de toneladas de CO2 a mais por ano.
Os Estados Unidos é um dos principais povos que mais tem contribuído para o aquecimento global, basta analisar alguns indicadores, como é o caso do consumo energético. O consumo diário de um cidadão norte-americano corresponde, no mínimo, a quinze dos países em desenvolvimento. Este país caracteriza-se, igualmente, por várias iniciativas de ajuda ao Terceiro Mundo. Uma delas prende-se com a distribuição de preservativos e contraceptivos em larga escala, mas, a administração “bushiana”, eivada de um moralismo duvidoso de forte cariz ideológico, deu cabo do propósito, substituindo-a por programas inspirados na abstinência. Não deixa de ser curioso o facto dos republicanos e dos democratas serem apoiantes da abstinência, com uma ligeira diferença, no último caso, acrescentam à abstinência “+”, ou seja, os preservativos. Deste modo, muitas organizações não governamentais deixaram de ser financiadas com todas as consequências facilmente identificáveis, nomeadamente o não controlo da transmissão do HIV/sida.
Alguns autores demonstraram uma relação inversa entre a densidade humana e o grau de florestação tropical. À medida que as populações aumentam, as suas florestas vão desaparecendo, ameaçando a sobrevivência de muitas espécies, a qualidade de vida dos humanos e agravando o aquecimento global. Controlando a natalidade, e forçando o fenómeno de transição demográfica, evitar-se-ia a desflorestação, entre outros aspectos. Sendo assim, a proibição do uso de preservativos por motivos de ordem religiosa contribui para a destruição das florestas e agravamento do aquecimento global. O Vaticano, com a sua politica de “proibição” de contraceptivos, nomeadamente o uso dos preservativos, estará a contribuir para este fenómeno. Não acredito que a “nova floresta” a plantar na Hungria consiga neutralizar os outros efeitos à escala global. Se quiser ser mesmo um “estado neutro” deveria abandonar a política proibicionista, contribuindo, deste modo, para a resolução de vários fenómenos que atormentam a humanidade desde a sida à emissão do dióxido de carbono.

Prémio Fundação Champalimaud da Visão


No magnífico ambiente de um claustro dos Jerónimos, onde a arquitectura é um regalo para a vista, a Fundação Champalimaud, presidida por Leonor Beleza, entregou o Prémio Champalimaud da Visão à Aravind Eye Care System, organização indiana que mereceu ser distinguida entre 34 candidatos e tem uma obra de grande relevo no domínio da investigação e da clínica oftalmológica, particularmente na Índia.
Três aspectos a salientar.
O primeiro, o gesto de António Champalimaud que, ao doar 500 milhões de euros à causa da luta contra a cegueira, evidenciou mais uma vez o seu talento de empreendedor, agora no domínio social, e deu um exemplo de responsabilidade social que deveria ser seguido por muitos empresários e empresas.
O segundo, o rasgo da Presidente da Fundação e do seu Conselho de Curadores, de que Proença de Carvalho é o Presidente, que saindo da apagada e vil tristeza em que nos costumamos mover, atribuíram um prémio à medida do fundador, a ser disputado internacionalmente, com um júri composto por entidades de renome mundial, e de um valor monetário significativo, um milhão de euros, que permite efectivas realizações.
O terceiro, o mérito da entidade premiada, que desenvolve uma actividade médica e social notável, em que a qualidade do tratamento é idêntica, mas as “facilidades” oferecidas são diferentes, de acordo com o preço que se paga. O que permite que bastante mais de metade dos tratamentos seja gratuito.
Um legado que honra António Champalimaud, um prémio e uma organização que honram a Fundação e uma entidade premiada que fez inteiro jus ao galardão e vai aplicar, criteriosamente e com profundos benefícios sociais, o valor recebido.
Estão, estamos todos de parabéns.
Nota: Andei hoje bastante de carro e ouvi vários noticiários. Azar meu, que nem uma referência ouvi ao evento. Pouca importância terá para a nossa esclarecida informação. Veremos depois da cerimónia...mas como lá esteve o Presidente da República e o 1º Ministro...

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Vão trabalhar, malandros!...

Nota prévia: este post não deve ser lido por pessoas sensíveis!...
Segundo o DN de ontem, e apesar de todas as medidas tomadas, o abandono escolar agravou-se em 2006: a percentagem de jovens que saíram precocemente da escola e cujo nível de estudos não ultrapassa o 9º ano subiu de 38,6% em 2005 para 39,2% em 2006.
As razões geralmente enunciadas para explicar o fenómeno são todas politicamente correctas: o baixo nível socioeconómico das famílias, a fraca valorização do conhecimento e reformas educativas mal orientadas.
Responsabilidade individual é motivo completamente riscado do catálogo.
Por isso, e por maior que seja o esforço em dinheiros públicos para levar os meninos ao colo a passarem de ano, de forma fácil e sem exames, e a não abandonarem, eles recusam. A culpa nunca é deles, nunca é individual, nem sequer parcialmente, mas colectiva, das famílias, da escola e do governo.
Assim, e com esta compreensão abstrusa da realidade, continuará a ser deitado dinheiro fora, até que a sociedade imponha ou um Governo se farte e diga: tiveram todas as oportunidades, não aproveitaram, vão trabalhar, malandros!…