Na minha opinião o Ministério da Educação perdeu uma boa ocasião de estar calado nesta história dos crucifixos nas escolas. Quer se queira quer não, somos um país de forte tradição católica, toda a nossa cultura, valores, educação e tradições radicam numa religiosidade que só por cegueira e construção teórica podemos ignorar. Tentar "apagar" qualquer referência no sistema público de ensino é deixar em branco um imenso espaço na formação integral das crianças e permitir que, mais tarde ou mais cedo, outras crenças e outras fés - religiosas ou não - venham ocupar essa dimensão. Talvez não sejam então as que mais gostaríamos, talvez nessa altura se levantem vozes indignadas perguntando como foi possível, em que momento se abriu a brecha para uma geração que não entende as nossas referências?
Isto nada tem que ver com a fé de cada um e muito menos com a liberdade religiosa. Uma coisa é impôr nas escolas os crucifixos e impedir quaisquer outras referências religiosas. Outra coisa, muito diferente, é deixar que surjam com naturalidade ou aí permaneçam porque alguém as considerou importantes. A humanização dos espaços, de que hoje tanto se fala, passa por aí. Fazer disso um caso, dando ordens para tirar ou impondo que fiquem, é que conduz aos extremismos que tanto se quer combater. Estes ou outros.
Porque uma coisa é certa - as paredes nunca ficam vazias, a ausência do que quer que seja também tem um sentido.
5 comentários:
Cara Suzana:
Podem ficar com imagens da "Origem das Espécies" de Charles Darwin que tentamos ensinar nessas mesmas salas e que durante tantos anos foi ignorado por causa de gente que impunha esse símbolo. Com a imagem de Galileu Galilei, do judeu Albert Einstein, de Aristóteles, de Euclides... Vazias não ficarão...
Caro Tonibler, não creio que umas substituam as outras, mesmo sendo essas de que dá exemplos e que, obviamente, não simbolizam mais do que a evolução da ciência e do conhecimento, por muito importantes que sejam. Não creio que se deva entrar em "expulsões" sucessivas, o que se faz agora não é melhor do que o que se fez antes, a novidade seria aprender a viver com as diferenças. De que serve "expulsar"?
Não se trata de expulsão. Trata-se de não se estar a ofender exactamente aquilo que se está a aprender.
E como já disse ao Pinho Cardão, ninguém é impedido de levar a sua cruz para a sala. O estado é que não leva nenhuma.
Caro Tonibler, li hoje o artigo de João Bénard da Costa no Público, chamado "A Cruz e o Trapézio" que trata este tema com notável clareza e profundidade. Aqui lhe deixo a sugestão, nãoporque nãome agrade conversar consigo sobre o assunto, mas porque assim, em curtos parágrafos, não é nada fácil. E o que eu penso é exactamente o que aí vem escrito.Boa leitura, se aceitar a sugestão!
Grande Suzana!
100% de acordo consigo.
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