A história recente de fraude e de falta de ética do cientista sul coreano, Hwang Woo-suk, a propósito das células estaminais, é revoltante e constitui um duro golpe na credibilidade da ciência, e logo num assunto em que se depositam as mais elevadas esperanças. É de esperar que os opositores da utilização de certas práticas que culminem na obtenção de células estaminais de origem embrionária procurem explorar este lamentável episódio para impor as suas opiniões. Podemos e devemos continuar a apoiar e a aplaudir todos os cientistas que procuram soluções através deste método para ajudar muitos seres humanos, desde que respeitem a ética e a honestidade científica, e são muitos, felizmente.
Os sucessos já obtidos através da utilização das células estaminais são um forte incentivo para o desenvolvimentos da recém medicina regenerativa. Mesmo as cautelas apregoadas por muitos colegas de que não se deve transmitir expectativas muito elevadas a esta área, apesar de serem sensatas, não impedem, nem impedirão o aperfeiçoamento deste capítulo da investigação científica.
A natureza tem o condão de se antecipar à intervenção humana. Então, na área da saúde, confrontamo-nos com frequência com esta afirmação. Somos, naturalmente, portadores de muitas células estaminais que deverão ter algum papel na regeneração de algumas lesões. Como e quando é que elas actuam é que mais difícil de saber, mas lá chegaremos, é uma questão de tempo. Quem sabe, se um dia, não iremos aprender a domesticá-las em nosso benefício.
Um fenómeno muito curioso tem a ver com o microquimerismo. Ou seja, a partilha de células de outro ser no seu próprio corpo. As mulheres durante a gravidez são invadidas por células estaminais oriundas do feto, permanecendo durante muitos anos, mais de vinte, no seu corpo. Para que servirão estas células? Há quem aponte que, possuindo capacidades “reparadoras” de lesões maternas, contribuem para a saúde da progenitora. Este fenómeno também foi observado noutras espécies. Uma verdadeira ternura fetal: fornecer à mãe as suas próprias células estaminais de forma a ajudar a reparar lesões. Especulação científica? Pode ser que sim. A nossa ignorância é muita e dissertar sobre estes temas é legítimo, atendendo ao facto da natureza, habitualmente, gostar de se antecipar às nossas descobertas.
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