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Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.
(Vinicius de Moraes – O dia da criação)
A forma como os cidadãos identificam os problemas é interessante e merece a devida reflexão.
Na primeira análise dos dossiers da Provedoria do Ambiente surgiu-me uma queixa de uma munícipe perguntando por que razão num sábado à tarde estavam estacionados carros na Rua Larga entre a Faculdade de Medicina e a Faculdade de Ciências local onde é proibido circular, pelo menos para o comum dos cidadãos. A pergunta vinha enfeitada de uma fotografia esclarecedora. À guisa de complemento a senhora informava que os locais onde é permitido estacionar estavam às moscas. A pergunta foi, obviamente, canalizada para a polícia municipal, a qual informou que dispunha à data de 13 funcionários e que o horário aos sábados só abrangia o período da manhã.
Mais recentemente um outro cidadão insurgiu-se contra o facto de um agente da polícia municipal ter autuado todos veículos que não estavam devidamente parqueados no largo da Sé Nova, local onde muitos funcionários estacionam os seus veículos. Claro que o autor não questiona a legitimidade da polícia na sua actuação, como é óbvio, mas atendendo às dificuldades de estacionamento naquelas áreas – e não é de agora – a colocação de carros nos passeios, mesmo devidamente alinhados e sem que provoquem qualquer obstáculo aos restantes, deveria ser permitida. O melhor seria transformar o largo, reduzindo parte dos passeios circundantes, de forma a facilitar o estacionamento, aplicando parquímetros.
Os cidadãos têm de respeitar as regras e as autoridades têm a obrigação de as fazer cumprir. Certo. Certíssimo! O pior, são as evidências práticas de não cumprimento por parte de ambos, o que origina algum desconforto. A discrepância entre a não actuação aos sábados da parte da tarde e uma atitude zelosa de um funcionário numa qualquer manhã da semana é evidente. Mas, podemos ajudar os agentes a actuar, por exemplo, na rua Padre António Vieira, acesso privilegiado para quem vá para a Universidade. Nalgumas manhãs, é visível a dificuldade em circular naquela via, devido à presença de grupos de pessoas, com um ar tipo cliente-beato, as quais largam impunemente os seus veículos em segunda fila, numa rua de sentido único com estacionamento dos dois lados.
Os agentes têm direito a descanso. Deus também descansou ao sétimo dia. Mas argumentar a não autuação de veículos mal estacionados aos sábados da parte da tarde, por causa do justo descanso, fez-me recordar o famoso poema de Vinicius de Moraes: “o dia da criação”.
Porque que é que isto acontece? “Porque hoje é sábado”…
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