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quarta-feira, 4 de abril de 2007

Os inimputáveis

Não gosto, por regra, de comentar o que está para além da minha compreensão. Mas perante o absurdo das declarações que tenho ouvido sobre as responsabilidades pela violência bárbara ocorrida no último Benfica-Porto, registo aqui, onde de vez em quando confessamos as nossas perplexidades, esta que é de bradar aos céus.
Logo na noite do jogo se começaram a ouvir vozes indignadas pela incapacidade da polícia em evitar os desacatos ocorridos no Estádio da Luz, prenunciados, aliás, por escaramuças fora do estádio e antes do jogo.
No dia seguinte veio a senhora comissária da PSP declarar que a culpa não era da corporação mas a título principal do Benfica que decidiu "unilateralmente" o local nas bancadas, pelos vistos inadequado, para colocar a claque "organizada" (vejam bem, "organizada"!) do Futebol Clube do Porto.
De imediato o senhor presidente do Benfica, em atitude que só se tolera, sabe Deus porque bulas, a dirigente de futebol, veio dizer que a senhora Comissária queria era palco mediático, dando a entender que a PSP tinha falhado em toda a linha e que ia pedir reuniões com não sei quem e fazer queixa, se necessário, ao Papa!
Como vem sendo hábito, de imediato se dividiram as opiniões, entre aqueles que cascavam na polícia e os que malharam no Benfica.
Curiosamente ninguém se referiu ao verdadeiros criminosos. Ninguém aponta o dedo a esses energúmenos que não raro põem em risco a integridade física e mesmo a vida de pacatos cidadãos, mesmo crianças que pacificamente querem viver as emoções do espectáculo.
Ter-me-á passado despercebida a consagração de uma nova inimputabilidade, que isenta de responsabilidade criminosos que desavergonhadamente exibem os seus talentos para a violência nos estádios? Ou será caso de uma inusitada força vinculativa dos factos a que todo o Direito tem de ceder, que torna imunes aqueles que, por condutas equivalentes fora dos estádios, seriam imediatamente perseguidos, acusados e punidos?
Mas a minha maior perplexidade é esta. Tratando-se de gente sem emenda, criminosos assumidos, o que faz com que os clubes alimentem estas assim chamadas claques organizadas, grupos onde comprovadamente se reune o pior que a sociedade tem, gente que nada tem a ver com o desporto e com o que ele significa?
E o que esperam os poderes para, de uma vez por todas, extirpar esta vergonha, remetendo para a clandestinidade a ditas claques e punindo exemplarmente os clubes que as organizem ou que com elas pactuem?

6 comentários:

Pinho Cardão disse...

Caro Ferreira de Almeida:
Acontece que os dirigentes precisam das claques.E apoiam-nas com material, dinheiro, logística, viagens e instalações.Por vezes têm uns arrufos, mas logo a seguir tudo volta ao sítio. Quando a situação é grave e mete a polícia, claro que logo culpam a polícia. Ao culpar a polícia, obviamente que desculpam as claques. E se estas alguma culpa têm são sempre as dos adversários.
De facto, com estes dirigentes as claques andam à solta. Não creio, por isso, que o fenómeno se resolva na área desportiva, pelo que é tempo de o Estado intervir.
Nunca o fez e tenho é dúvidas de que o faça!...

Nuno Nasoni disse...

Concordo inteiramente com post. Aliás, acho que todos estiveram mal neste caso. A polícia não soube garantir a segurança - e impedir a colocação absurda da claque num local perigoso - e o clube organizador não teve o bom-senso de atribuir um sector junto do relvado à claque visitante (algo a que a UEFA obriga nas suas provas, por razões que deveriam ser óbvias).
Posto isto, a primeira responsabilidade de atirar petardos é sempre de quem os atira. E lançar petardos para cima de uma multidão só pode resultar na prisão dos seus responsáveis. Felizmente apenas se lamenta alguns feridos. Mas os petardos podiam ter morto alguém. E o pânico que o seu lançamento poderia originar numa multidão poderia ter resultado numa verdadeira tragédia. Este caso não pode morrer numa troca de acusações oca.

Virus disse...

Bons dias,

é verdade... por cá estou (de passagem) outra vez...

Isto meus caros resume-se tudo a uma coisa muito simples:

UM INDIVIDUO É CIVILIZADO (na grande maioria dos casos) UMA MULTIDÃO É UM BANDO DE SELVAGENS (também na maioria dos casos)

Isto prende-se com uma coisa muito simples, um individuo (geralmente) não tem condições para impôr de forma violenta e/ou agressiva os seus ideais (nem a outros individuos e ainda menos a grupos de individuos) e pode ser fácilmente detectavel, identificável e por conseguinte rápidamente "eliminado" da sua interacção com a sociedade em que se insere até voltar a aceitar inserir-se na mesma de acordo com as regras de civilidade que alegadmante nos regem nas nossas interacções enquanto "animais sociais".

Uma multidão (um grupo de individuos - ou em inglês "MOB") geralmente não tem, nem sente, qualquer sentido de se comportar enquanto "animal social" vis-a-vis, sobretudo, de outros individuos e de outros grupos (especialmente grupos mais fracos). A isto acresce o facto de que um individuo enquanto elemento inserido numa multidão não se sente imputável e responsável pelos seus actos "per si" porque não é fácilmente detectável, logo não se sente fácilmente imputável pela responsabilidade dos seus actos, além de que enquanto agior a coberto pela consciência da multidão crê que as regras que se aplicam aos individuos não se lhe aplicam, logo pode agir como quer...

Basta ver o que se passou no metro de Paris à uns dias atrás apenas porque um individuo foi impedido, de forma "musculada", de fugir à detenção por andar de metro sem bilhete (atenção que já era reincidente nas dezenas de vezes em que já tinha sido "apanhado" e ainda não tinha pago nenhuma das multas), quando uma multidão de "jovens socialmente desfavorecidos" resolveu pegar fogo à Estação, agredir os transeuntes e iniciar confrontos de forma organizada com a polícia. A este grupo os políticos "liberais" tudo desculparam, mais uma vez com os problemas de inserção social, enquanto que os "realistas" viram as coisas como elas são:

Uma multidão é um bando de bárbaros, que só é minimamente controlável na proporção da civilidade dos seus líderes e, sobretudo, das forças dos grupos que se lhes opõem.

Enfim... já chega...

Great Houdini disse...

Pessoalmente penso que claqeues organizadas são sinónimo de crime organizado.

Gostei bastante muito da exposição do Virus, apesar de não concordar totalmente é sem dúvida interessante e válida.VEja o exemplo da Million man march.

O problema é que alguns individuos que vão ao futebol, não são pessoas são animais, talvez meter umas jaulas no estádio seria interessante...

Caro Pinho Cardão pela primeira vez vou ter o gosto de discordar consigo :) as claques fazem tanta falta aos diringentes como o Paulo Portas ao CDS, pelo menos nos parametros actuais.

O futebol tal como o país ou dá uma grande volta ou ...

Para a despedida um exemplo de como poderia ser edificante o futebol

http://primeirodrt.blogspot.com/2007/04/futebol-edificante.html

Pinho Cardão disse...

Caro Great Houdini:
Belo vídeo, que aliás já conhecia.
Quanto ao facto de os dirigentes precisarem das claques, creio bem que é verdade. HOUVE Assembleias Gerais de clubes e SADs em que elementos das claques foram vitais para assegurar o quorum e as decisões; houve eleições em que as votações dos membros das claques foram essenciais para eleger os líderes; houve lenços brancos a abanar, quando os dirigentes querem despedir treinadores, mas vão dizendo que os querem manter. E assim sucessivamente...
A grande maioria dos actuais dirigentes precisa pois das claques. Por isso, geralmente culpa a polícia...

Anónimo disse...

Horas depois de ter colocado este post ouço a notícia que as claques dos principais clubes gregas viram as suas actividades proibidas durante um determinado periodo em consequência da violência verificada há dias, julgo que a propósito de um jogo de voleibol.
Dizia a noticia que perante a escalada de violência, o governo encara a hipótese de proibir a existência de claques.
Também aqui, pelos vistos, estamos atrás da Grécia.