Um ano volvido sobre o desaparecimento de uma criança inglesa em Lagos, eis que regressa em força a especulação mediática. Nos últimos dois dias RTP, SIC e TVI voltaram ao assunto. As rádios. Os jornais com entrevistas de primeira página com os pais da criança.
Todas a estações de TV abriram hoje os seus telejornais em horário nobre com a história. A mesma história, repetida vezes sem conta. Por incrível que possa parecer voltaram também os directos do Algarve, com patéticas intervenções dos jornalistas porque nada, mas mesmo nada, há a reportar. Mais do mesmo. Nauseante.
O PGR também se voltou a pronunciar. Para nada dizer. O Director da PJ, que já devia ter percebido o valor da discrição depois da figura que fez quando há meses abriu a boca para dar uma machadada na credibilidade da instituição que dirige, voltou a falar. Para se justificar. Os mesmos analistas, sociológos, advogados, antigos agentes da polícia, candidatos a polícia ou pessoas com pena de não o serem (tantas, tantas, em Portugal...). Anónimos cidadãos que opiniam sobre o triste destino da menina.
Pergunto-me como é possível que a tragédia não tenha ainda posto termo a este espectáculo que, se no passado teve algum resultado foi obviamente o de perturbar a investigação e atingir sem qualquer vantagem a reputação das nossas instituições.
Por vezes, a exploração mediática de casos dramáticos tem a vantagem de chamar a atenção para os problemas. Pode ter valor preventivo. Aconteceu isso, seguramente, para o famoso video da violentação da professora da escola Carolina Michaelis.
Não neste caso.
1198 crianças desapareceram no ano passado em Portugal. Algumas foram encontradas. Outras, não sei quantas, ninguém mais as viu. Este facto não mereceu mais do que uma referência - depois de longos minutos da não-informação sobre "o caso" Maddie - de 5 segundos na estação pública de televisão, aquela que todos nós pagamos para que preste serviço público.
Esse sim, o grande escândalo.
Maddie McCann é UM caso. Não é O caso.
O caso, que os media vergonhosamente escondem, são os milhares de pais de crianças desaparecidas. Portugueses, muitos deles pobres, sem influência, cujo desespero não encontra nem eco nem o mínimo esforço de ajuda daqueles que perante as câmara de televisão tanto choram, lamentam e prognosticam a má sorte da menina inglesa.
Do desespero destes pais, nem um só minuto de espaço noticioso. Uma palavra do Procurador. Uma preocupação de um governante. Uma declaração da polícia.
Todas a estações de TV abriram hoje os seus telejornais em horário nobre com a história. A mesma história, repetida vezes sem conta. Por incrível que possa parecer voltaram também os directos do Algarve, com patéticas intervenções dos jornalistas porque nada, mas mesmo nada, há a reportar. Mais do mesmo. Nauseante.
O PGR também se voltou a pronunciar. Para nada dizer. O Director da PJ, que já devia ter percebido o valor da discrição depois da figura que fez quando há meses abriu a boca para dar uma machadada na credibilidade da instituição que dirige, voltou a falar. Para se justificar. Os mesmos analistas, sociológos, advogados, antigos agentes da polícia, candidatos a polícia ou pessoas com pena de não o serem (tantas, tantas, em Portugal...). Anónimos cidadãos que opiniam sobre o triste destino da menina.
Pergunto-me como é possível que a tragédia não tenha ainda posto termo a este espectáculo que, se no passado teve algum resultado foi obviamente o de perturbar a investigação e atingir sem qualquer vantagem a reputação das nossas instituições.
Por vezes, a exploração mediática de casos dramáticos tem a vantagem de chamar a atenção para os problemas. Pode ter valor preventivo. Aconteceu isso, seguramente, para o famoso video da violentação da professora da escola Carolina Michaelis.
Não neste caso.
1198 crianças desapareceram no ano passado em Portugal. Algumas foram encontradas. Outras, não sei quantas, ninguém mais as viu. Este facto não mereceu mais do que uma referência - depois de longos minutos da não-informação sobre "o caso" Maddie - de 5 segundos na estação pública de televisão, aquela que todos nós pagamos para que preste serviço público.
Esse sim, o grande escândalo.
Maddie McCann é UM caso. Não é O caso.
O caso, que os media vergonhosamente escondem, são os milhares de pais de crianças desaparecidas. Portugueses, muitos deles pobres, sem influência, cujo desespero não encontra nem eco nem o mínimo esforço de ajuda daqueles que perante as câmara de televisão tanto choram, lamentam e prognosticam a má sorte da menina inglesa.
Do desespero destes pais, nem um só minuto de espaço noticioso. Uma palavra do Procurador. Uma preocupação de um governante. Uma declaração da polícia.
Um nojo!
6 comentários:
É dificil, muito dificil compreender os rumos dos adquiridos direitos à mentira. Hoje qualquer estória verdadeira é posta em causa, pois, mil Histórias, e assim o digo, é mais verdadeira que a verdade.Não ganhamos nada com isso, mas sempre vamos tolerando mudos e apreensivos os novos rumos, que se apresentam como modernos e até inovadores. Inovadores em quê ?
Uma sociedade que se definha, maltrata, e perde os seus valores, adquire sempre outros " valores ".
Neste caso, a verdade é calada a favor de que valores?
Será que terá que ser assim?
E a cidadania?
Pagaremos altos preços pela verdade?
Haverá um dia limpo de medos Dr. Ferreira de Almeida?
A exploração mediática deste caso continua a ser impulsionada sem que se perceba o motivo. Agora,"celebrou-se" um ano e, em vez de se aproveitar para recuperar um pouco de pudor, voltou-se a insistir, incluindo com "reconstituições" de como estará a menina quanto ao aspecto físico. O facto é que já é considerada uma óptima ideia juntar às crianças um seguidor electrónico...Mas a exposição pública da família e de qualquer ser vivo que tenha estado próximo é no mínimo patológica, li há pouco no EL País que o sequestro dos pescadores naquele barco que foi aprisionado perto da Somália nem deu direito a saber quem eram ospescadores, mas se tivesse sido um veleiro com quatro pessoas fotogénicas teríamos tido repostagens até à 3ª geração! Não é um problema de verdade, acho eu, é puro mercantilismo, uma espécie de estrelas de cinema ali à mão, audiências garantidas. Um nojo, diz bem.
José Mário
São as próprias televisões que atestam que o caso foi o mais mediático do mundo dentro do género. Estão muito satisfeitas e por isso continuam... Há muito que já passaram as marcas!
Pergunto-me até que ponto é que todo esse mediatismo não poderá ter prejudicado a descoberta da verdade e no limite a própria criança.
Acho muito bem que as nossas polícias coloquem os melhores e maiores esforços na busca do paradeiro das crianças desaparecidas, mas a desproporção de recursos que forão colocados neste caso face a outros casos que também conhecemos e que ainda por cima são poucos é uma coisa verdadeiramente chocante!
Meu Caro Joaquim Garrido:
Dia limpo de medos, espero que sim, que haja. Por muitos valores ausentes e por muito que a verdade se esconda!
Suzana:
Patológico é pouco! Patológica começa a ser a tentativa (que agora mesmo ouço, por exemplo, o director-adjunto do CM tentar) de branqueamento do atentado à decência que tem sido a cobertura deste caso pela comunicação social.
Margarida:
A minha convicção é que esta cobertura mediática em nada terá contribuido para a solução do caso. Confesso que me espantaria que uma investigação criminal complexa, como esta necessariamente é, beneficiasse desta exposição.
O meu desejo é que ela não tenha sido, também, criminosa, no sentido de contribuir para o pior dos cenários.
Apesar da forte mediatização (uma mediatização por vezes virada para o espectáculo, é certo ...) deste caso, ainda assim, prefiro que se peque por excesso, do que por defeito feito de silêncio, de um problema tão grave, tão presente e que a qq momento, um de nós pode estar a viver - o desaparecimento de uma criança ou jovem nosso conhecido, amigo ou familiar.
Muitos aspectos ligados a este flagelo que é mundial, têm sido objecto de observação, de análise, de debate, depois de 3 de Maio de 2008. Nunca será demais, falar sobre Madeleine McCann. Porque falar dela, JÁ é falar de todas crianças desaparecidas no mundo inteiro.
Madeleine MacCann trouxe à superfície, as insuficiências e as fragilidades do sistema (português e mundial), que podem provocar o desaparecimento de uma criança, assim como os obstáculos individuais e colectivos, que dificultam a busca de uma criança perdida ou desaparecida.
Trouxe também o debate científico de como lidar perante um facto desta natureza e desta gravidade.
Verificou-se que:
- Há ainda aspectos legais a melhorar;
- Há entidades nacionais e internacionais que têm de melhorar o trabalho de coordenação, na busca destas crianças;
- Há sensibilização por fazer junto de pais e adultos, para que se tomem cautelas, no sentido de se evitar estas tragédias.
- Há por fazer muita chamada de atenção ás próprias crianças e jovens, para que saibam lidar com estranhos, no mundo real, no mundo virtual.
Provavelmente continuarão a desaparecer crianças, mas o trabalho de as obter, pelos "predadores" estará por certo muito mais dificultado. Embora todos saibamos que países há, no mundo, nomedamente, na Ásia, em África, e na América Latina, que são supermercados para determinados fins.
Pode não ter sido a razão de desaparecimento desta criança. Mas o maior número de crianças e jovens que desaparecem destinam-se à pedofilia e à prostituição.
Devo dizer que acredito na inocência dos pais McCann. Até prova em contrário.
errata:
- depois de 3 de Maio de 2007 (e não 2008, conforme escrevi)
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