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sexta-feira, 16 de maio de 2008

Trapalhadas com o PIB...e seus protagonistas

Ficou ontem a saber-se o que já há bastante tempo se suspeitava: o crescimento económico, no corrente ano será muito inferior ao que havia sido decretado pelo Governo e pelo BP e por ambos mantido ferreamente, sob juramento, até que a realidade os veio desmentir.
Mas há coisas neste episódio da revisão súbita da previsão de crescimento que são muito curiosas.
Ontem, por exemplo, um dos diários “on line” mais devotados à nobre causa oficial, apresentava este delicioso tratamento do tema:
- Com destaque: “Economia portuguesa converge coma Zona Euro ao crescer 0,9% no 1º trimestre” (confundindo, deliberadamente, crescimento em termos homólogos e em cadeia)
- Mais abaixo, em letra envergonhada: “Lituânia e Portugal tiveram o pior desempenho da União Europeia, com um crescimento negativo de -0,2%”
Sem mais comentários...
É extremamente provável que esta tenha sido a primeira revisão do crescimento do PIB para 2008 e que nova revisão ocorra a seguir às férias de Verão, mais concretamente em Setembro, quando forem divulgados dados do 2º trimestre.
E é bastante provável, atentando no andamento da carruagem económica, que a variação anual do PIB não chegue a 1%.
Acresce que não está excluída a possibilidade de uma recessão, agora em termos técnicos e não apenas na tese mais ousada, há dias sustentada pelo Dr. Miguel Cadilhe e que levou as vestais do regime a unirem-se num comovente coro de desagravo.
Se de facto viermos a cair em recessão técnica - o que acontecerá se o crescimento do 2º trimestre, em cadeia, voltar a ser negativo como o do 1º trimestre - Miguel Cadilhe terá motivos para sorrir e as nobres vestais, envergonhadas, procurarão refugio seguro para exercício de sua dolorosa ascese...
Particularmente curiosa a recentíssima profecia do Gov-BP, em plena Comissão de Economia e Finanças da AR, segundo a qual a economia portuguesa iria crescer este ano PROVAVELMENTE acima da média da Zona Euro e SEGURAMENTE o mesmo que a média da Zona - assim se entrando na sonhada convergência...
Os dados do 1º trimestre apontam exactamente o contrário: enquanto na média da Zona Euro o crescimento foi +0,7%, o “nosso” foi -0,2%.
Para que se cumpra essa generosa profecia, seria necessário que a economia portuguesa acelerasse bastante nos próximos trimestres e que a economia dos outros 14 países desacelerasse fortemente – cenário inverosímil.
É caso para dizer que o Gov-BP anda com pouca sorte (será só?): em Novembro do ano passado garantia que a subida dos preços no consumidor era um fenómeno muito passageiro e que estava excluída uma subida dos juros em 2008...foi o que se viu...
Agora, com o crescimento, é o que se vê...
A propósito, onde para a oposição?

20 comentários:

Tonibler disse...

Eu penso que só haverá algumas certezas quando saírem os números do 3º trimestre ou quando o Banco de Portugal fizer a sua previsão mais rigorosa do crescimento de 2008, lá mais para Fevereiro de 2009. Por isso, parece-me prematuro avançar que Portugal crescerá menos que a média europeia, coisa que nunca aconteceu.
De qualquer forma, se o senhor ministro das finanças ainda não disse um novo valor para o crescimento então é porque as contas do INE devem estar erradas e não deveriam deixar sair para a rua números que não foram devidamente reconciliados.

Quanto à sua pergunta de onde anda a oposição, a reposta é que, imbuída do espírito das novas oportunidades, está a aprender como estas coisas se fazem...

Tavares Moreira disse...

Magnífico, Tonibler, magnífico, meu Amigo está mesmo num dia de excepcional inspiração...porque não aposta no Totoloto, aproveitando momento tão favorável?
Seu PIB pessoal/familiar poderia experimentar uma progressão enorme em 2008, muito acima da média europeia e da Zona Euro!

Pinho Cardão disse...

Vai andando por aí!...

Tonibler disse...

Caro Tavares Moreira,

Eu bem tento apostar no Totoloto da semana passada, mas a senhora da papelaria insiste em recusar a minha aposta.
O governador do BdP disse há um bocado que "Os números do INE do primeiro trimestre foram um pouco pior do que esperávamos mais ainda assim dentro do intervalo para o qual apontava o nosso indicador avançado". O indicador avançado deve ser aquele que acerta no Totoloto da semana passada, pelo que já sei o que vou dizer à senhora agora...

jorge disse...

Onde pára o quê?

jotaC disse...

"...imbuída do espírito das novas oportunidades, está a aprender como estas coisas se fazem..."
:)

Excelente sentido de oportunidade, caro tonibler! Permita-me que lhe atribua 6 estrelas!

Tavares Moreira disse...

Boa observação Georgius Emmanuel, e Pinho Cardão deu uma boa achega...

Tonibler,

Em mais esta inspirada observação do Gov-BP faltou acrescentar, a seguir a intervalo, a expressão "fictício"...

Carlos Sério disse...

A Europa cresce 0,7% (dados do Eurostat) enquanto Portugal decresce 0,8% (relativamente ao trimestre anterior). Divergimos portanto 1,5%. Estarei certo?

Rui Fonseca disse...

Caro Tavares Moreira,

Decididamente dou-me mal com a unanimidade de opiniões mesmo quando embaladas em fina ironia. Daí a minha propensão para meter o bedelho quando vejo toda a gente de acordo.

Pergunta o meu Amigo a propósito do anúncio das revisões há muito reclamadas," onde para a oposição?"

Quanto a mim é na dificuldade da resposta que temos de encontrar a complexidade da pergunta.

Para não complicar a análise com um emeranhado de generalidades proponho a apreciação de um caso concreto. Porque em termos gerais , geralmente estamos todos de acordo. O diabo está nos detalhes, já se sabe.

O governo reviu em baixa o crescimento económico, em alta a taxa de inflação, não mexeu no défice, e anunciou que não vai aumentar os salários da função pública. Podemos concordar ou discordar mas as opções são compatíveis.

O que pode contrapropor a Oposição?

Aumenta os salários? Reduz os impostos? Deixa crescer o défice?
Dispensa (como?) mais funcionários públicos? Corta no investimento?
Reduz o imposto sobre os combustíveis?

Ou limita-se a dizer que a opção do governo está errada mas não diz mais nada?

Peço-lhe que não retire das minhas questões intenções de apoio acrítico a este governo. Não tenho certezas. Ando por aqui o por ali a ver se aprendo alguma coisa. Só isso.

Pinho Cardão disse...

Caro Jorge Oliveira:
Ora aí está um indicador bem real.
Também tenho para mim que o consumo de electricidade é significativo da evolução da actividade económica. E fez-me lembrar os meus tempos de quadro da EDP(há tempos imemoriais, infelizmente, mas nada há a fazer...).
Bom artigo o seu. Parabéns pelo conteúdo e pela oportunidade.

Tavares Moreira disse...

Caro Ruy,

Na variação em cadeia (1ºtrim 2008/40trim2007), a Zona Euro cresceu 0,7%, "nós" decrescemos 0,2%.
O ritmo de divergência aparente foi assim de 0,9% - ai de nós se este ritmo se mantivesse!
Espero bem que diminua - mas não diminuirá o suficiente para validar a fabulosa profecia do Gov-BP...

Carlos Sério disse...

Caro Tavares Moreira, tem razão. Não sei onde é que fui buscar os 0,8%.

Tonibler disse...

Já estamos no bom caminho! O ministro das finanças já subiu a inflacção e desceu o crescimento. A partir de agora vamos ter os preços abaixo da inflacção e vamos crescer mais que o previsto! Viva!

Tavares Moreira disse...

Excelso Rui Fonseca,

Quanto a não gostar de unanimidades, associo-me ao seu gosto, por isso bem vinda sua voz dissonante!
Já tenho mais dificuldade em seguir seu raciocínio quando diz que "as opções do governo são compatíveis".
Entende que baixar o crescimento em cerca de 35% e manter o défice, sem mais considerações (e reduzindo o IVA, não esqueça), é uma opção compatível?!
Claro que percebo a marosca - continuar a esconder despesa, como tem vindo a acontecer em grande escala (vide Tribunal de Contas) e lançar mão de receitas extraordinárias camuflando-as de ordinárias - mas o Senhor chama a isso "opções compativeis"?!
Cortar no investimento? Acha que isso não vai acontecer?
E se vierem os investimentos "loucos" do TGV, auto-estradas a esmo, o grande aeroporto, nova travessia do Tejo, etc - o cenário vai ser bem pior, a economia então ficará condenada por décadas, disso não tenha a menor dúvida...
Quanto à inflação, confesso-lhe que não entendo a preocupação do Governo em subir a previsão: então a anterior previsão de 2,1% não era bem melhor?!
Por último, quanto ao papel da Oposição: o Senhor acha mesmo que o papel da Oposição é governar? Doutra forma não consigo entender suas observações...mas, nesse caso, qual seria o papel do governo - fazer oposição?

PA disse...

Estamos portanto em ambiente de "produções fictícias, não é assim ?

E em matéria de produções fictícias, elas continuam, ouvi agora, na TV, que 137 000 portugueses (dados recentes do INE) deixaram de procurar emprego, ou seja, passaram a inactivos, não constando por isso como desempregados na estatística do IEFP.
Assim o desemprego "baixa", pois tá claro.

E até há alguma vantagem económica, destes portugueses terem abandonado a procura de emprego, porque alguns se vão suicidar, logo as funerárias vão ter mais clientes, outros vão entrar em depressão, se é que já não estão, logo os médicos vão ter mais clientes, as clínicas vão internar mais doentes, e vão se vender mais medicamentos. "Nem tudo é mau" ....

Sabe ? Depois de ler o que escreve e comenta, o Caro Dr. TM, apetece-me ir embora (JÁ) do país. Palavra !

Onde é que considera, que se vive bem (ou pelo menos, com melhores perspectivas de futuro), sem ser cá em Portugal, Dr. TM ???

Qto. à oposição, Dr. TM, a oposição governa, sim ! De forma indirecta, alertando, criticando e sugerindo construtivamente, aquilo que o Governo deve e Não deve fazer.
Tudo sem espectáculo.
Mas com firmeza e com competência técnica.

Cadê ela ? A Oposição ?

Bom fim de semana.

Tavares Moreira disse...

Cara Pezinhos,

Oportuníssimo seu comentário sobre a questão da taxa de desmprego: essa o governo aprendeu bem, eliminam-se umas dezenas de milhares do NUMERADOR e a taxa de desemprego, como que por encanto...baixa!
Que maravilha - basta incentivar a fuga do numerador, o que se consegue reduzindo/eliminando as perspectivas que a procura oficial de emprego poderia proporcionar...assim as pessoas, sem futuro nem esperança, desistem de procurar emprego...
E o País fica estatisticamente melhor, mais feliz.
A somar aos aterros de despesa pública que se vão multiplicando e que permitem o sucesso orçamental, às despesas extraordinérias oficialmente convertidas em ordinárias,à autonomia da inflação em relação aos preços - é esta a imagem cristalina do famoso milagre económico português, minha Cara!
Quanto a emigrar, se tivesse menos 20 anos garanto-lhe que não pensava duas vezes - agora é tarde (nunca é tarde para amar, mas amar não é a mesma coisa que emigrar...).
Confesso-lhe ainda o meu maior receio pelo famoso programa de obras públicas que se anuncia e que na avaliação delirante de algumas criaturas será a solução para a "falta de investimento".
Se isso acontecer, desafortunadamente, então o País não terá mesmo solução...será altura de se pensar em constituir uma comissão liquidatária...

André Tavares Moreira disse...

Os prognósticos do banco de portugal, são como so do ex-jogadro do fcp, joão pinto. Prognósticos, só no fim do jogo. "Previsões, só no fim." Dado o folclore que rodeia o anúncio de contas públicas durante a legislatura. já nada me surpreende. Eu pergunto ao Cozinheiro-Chefe. Se consegui fabricar um défice para 6.1%, não consegue fabricar um crescimento 0,7% ? Não é assim tão difícil...

Quanto aos jornais portugueses, eu perguntava-me se os políticos portugueses tem noção que estão a mexer com a vida de 10 milhões de pessoas. Não só com a carteira, mas também com as suas vidas!!

Felizmente, costumo ler imprensa internacional, e os post do DR. Tavares Moreira, portanto estou sempre próximo da realidade.

Eu pergunto se quanto maior é o forróbódó mediatico, maior não será o tombo???

André Tavares Moreira disse...

Os prognósticos do banco de portugal, são como so do ex-jogadro do fcp, joão pinto. Prognósticos, só no fim do jogo. "Previsões, só no fim." Dado o folclore que rodeia o anúncio de contas públicas durante a legislatura. já nada me surpreende. Eu pergunto ao Cozinheiro-Chefe. Se consegui fabricar um défice para 6.1%, não consegue fabricar um crescimento 0,7% ? Não é assim tão difícil...

Quanto aos jornais portugueses, eu perguntava-me se os políticos portugueses tem noção que estão a mexer com a vida de 10 milhões de pessoas. Não só com a carteira, mas também com as suas vidas!!

Felizmente, costumo ler imprensa internacional, e os post do DR. Tavares Moreira, portanto estou sempre próximo da realidade.

Eu pergunto se quanto maior é o forróbódó mediatico, maior não será o tombo???

Tavares Moreira disse...

Caro André,

Excata essa correlação entre forrobodó mediático e dimensão do tombo - e já agora da frustração acumulada...
O próximo tombo tem data marcada, é em Setembro, a previsão oficial do PIB descerá para não mais de 1%...é a minha previsâo (espero não seguir as pisadas do Cozinheiro...)
Até lá o forrobodó,a fantasia, as falsas promessas, os espasmos de idiotia dominarão os media, desgraçadamente!

Rui Fonseca disse...

Caro Tavares Moreira,
Meu (paciente) Amigo,

Agradeço-lhe muito as suas observações aos meus comentários que, como lhe referi, arrastam sempre as minhas dúvidas e não as minhas certezas, que não tenho.

É, portanto, sempre com o fardo da incerteza às costas que venho ainda colocar-lhe a impertinência de mais algumas interrogações.

Pergunta-me o meu Amigo se:

"Entendo que baixar o crescimento em cerca de 35% e manter o défice, sem mais considerações (e reduzindo o IVA, não esqueça), é uma opção compatível?!"

Ora, penso eu, o governo não baixou o crescimento económico, o governo reviu em baixa as previsões de crescimento económico.
E não penso que haja sofisma nesta distinção porque o governo(nem este nem nenhum) tem meios para interferir no curto prazo no crescimento económico; mas tem possibilidades de contenção do défice ajustando a despesa.

O governo, depois de muito pressionado a baixar o IVA, baixou um ponto percentual (ou, se preferir, cerca de 4,8% no valor da taxa máxima). Quanto a mim, fez mal. Mas essa apreciação à volta da redução dos impostos já a tivemos há uns tempos atrás.

Parece-me, portanto, que é compatível a opção do governo em manter o défice com as previsões revistas para o crescimento económico e para a inflação.

A concretização dessa compatibilização depende daquilo que o governo realizar do lado da despesa. Mas essa dependência é um compromisso do governo que os portugueses devem escrutinar. E é esse escrutínio que merece ser realizado.

"Claro que percebo a marosca - continuar a esconder despesa, como tem vindo a acontecer em grande escala (vide Tribunal de Contas) e lançar mão de receitas extraordinárias camuflando-as de ordinárias - mas o Senhor chama a isso "opções compativeis"?!"

Peço desculpa mas na compatibilização que referi não entravam maroscas nenhumas.
Aliás, esta é uma questão também já apreciada aqui no Quarta República: Como cidadão comum não entendo porque não existem regras inibidoras da utilização por parte deste, e de qualquer outro governo, da utilização das tais maroscas que refere para a manipulação das contas do Estado. E, sobretudo, não entendo porque não faz a Oposição o seu trabalho de denúncia da situação e saneamento do desaforo.

Há dias dizia aqui no Quarta República o nosso Amigo Pinho Cardão que o meu Amigo e ele próprio haviam proposto medidas adequadas mas que tinham sido enviadas para o arquivo dos assuntos esquecidos.

Porquê? Só vejo uma resposta: a própria Oposição não está interessada em regras que lhe possm tirar um dia destes capacidade de marosca. Há outra?

"Cortar no investimento? Acha que isso não vai acontecer?"

Devo-me ter expressado mal mas essa interrogação coloquei-a na lista das possibilidades de ataque da Oposição. Recorda-se o meu Amigo que terminava o seu post interrogando "Onde pára a Oposição?" . E eu perguntei: O que pode fazer a Oposição? Reclamar corte nos investimentos? Porque, penso eu, se há uma revisão em baixa algumas consequências devem ser retiradas. O Governo mantém o défice e não aumenta nem salários nem pensões. Podemos discordar ou achar insuficiente. Mas para achar isso ou outra coisa qualquer coisa qualquer precisamos, penso eu, de referências, isto é, de outras alternativas. Senão é sim porque sim e não porque não.

“Quanto à inflação, confesso-lhe que não entendo a preocupação do Governo em subir a previsão: então a anterior previsão de 2,1% não era bem melhor?!”

Percebo a ironia mas também aqui me parece que é prudente ( e desejável) que o governo mantenha os seus objectivos tão apertados quanto possível nesta matéria. As expectativas inflacionistas potenciam o crescimento da inflação. Uma subordinação a expectativas de inflação mais elevada determinaria maiores reclamações de aumentos salariais. Ora, segundo o parecer de muita gente, uma das razões que provocaram a quebra de competitividade da economia portuguesa foi a subida dos salários reais acima do crescimento da produtividade; por outro lado, é reconhecido o peso excessivo da despesa do Estado. Não podendo o governo reduzir drasticamente os efectivos, tem de conter a despesa contendo os salários.

“Por último, quanto ao papel da Oposição: o Senhor acha mesmo que o papel da Oposição é governar?”

À Oposição compete confrontar o governo com alternativas. Se eu não concordo com um caminho devo apontar outro. Não compreende o cidadão comum que se rejeite um rumo se não houver outro. Ficamos parados a meio daquele por onde vamos sem saber qual o outro por onde poderemos prosseguir? Não faltam caminhos. Porque não podemos discuti-los? Porque havemos de dizer por aí não sem apontar por ali sim.