Ouvir um cão a uivar à Lua, ouvir gatos a gritar durante a noite sequiosos de sexo, ouvir o chilrear por vezes infernal das aves ao acordarem ou ouvir os safados dos galos a refrescarem os seus testículos quando o dia ainda vem em casa de Pilatos sabe a mel face à gritaria dos humanos em pleno dia.
É demais! Entro no comboio, rapo de um bloco para escrevinhar ou de um livro para ler e, de seguida, toca um ou mais telemóveis. Conversas em alta voz. Negócios de cimentos para Espanha, avisos à secretária para contactar determinada pessoa, explicações ao “querido” sobre como fazer o refogado para a refeição, conversas sobre as férias e os problemas de saúde que atingiram duas sobrinhas a quem apareceram tumores na mama, com explicações técnicas incríveis, seguidos de marcações de almoços, de chás e de outros tipos de reunião, coscuvilhices sobre o nascimento de um José Afonso cuja mãe apresenta uma idade já avançada, conversas de subserviência explícita dando a entender, ao que está do outro lado, que é a pessoa mais importante deste mundo, tudo isto numa gritaria torturante capaz de por os nervos em franja de um mortal. Ainda por cima tenho que ouvir toques irritantes que se aproveitam da falta de rede para se manifestarem com dupla ou tripla vaidade bacoca. É pena não haver carruagens à prova de telemóveis, já que as pessoas que os utilizam não respeitam minimamente os demais. Se a gritaria dos telemóveis nos comboios é uma realidade também a gritaria das esplanadas e dos cafés não lhes fica atrás. Adoro estar numa esplanada a ler ou mesmo a conversar, mas, quando sou confrontado com os canhões de gargantas barulhentas bombardeando tudo e todos para que o mundo em redor as possam ouvir e admirar, fico doente e com uma azia dos diabos que se agrava substancialmente quando do lado oposto um novo grupo de guerrilheiros sonoros urbanos pretende impor-se aos demais. Fogo cruzado. Faz-me lembrar o acelerador de partículas que anda a procura do famoso bosão de Higgs. Dizem os entendidos que da colisão dos protões à quase velocidade da luz se irão formar microscópicos buracos negros mas que não constituem qualquer perigo para “comer” a matéria terrestre. É pena que das colisões de conversas em alta gritaria não se formem verdadeiros buracos negros capazes de as engolir. Seria um silêncio salutar...
É demais! Entro no comboio, rapo de um bloco para escrevinhar ou de um livro para ler e, de seguida, toca um ou mais telemóveis. Conversas em alta voz. Negócios de cimentos para Espanha, avisos à secretária para contactar determinada pessoa, explicações ao “querido” sobre como fazer o refogado para a refeição, conversas sobre as férias e os problemas de saúde que atingiram duas sobrinhas a quem apareceram tumores na mama, com explicações técnicas incríveis, seguidos de marcações de almoços, de chás e de outros tipos de reunião, coscuvilhices sobre o nascimento de um José Afonso cuja mãe apresenta uma idade já avançada, conversas de subserviência explícita dando a entender, ao que está do outro lado, que é a pessoa mais importante deste mundo, tudo isto numa gritaria torturante capaz de por os nervos em franja de um mortal. Ainda por cima tenho que ouvir toques irritantes que se aproveitam da falta de rede para se manifestarem com dupla ou tripla vaidade bacoca. É pena não haver carruagens à prova de telemóveis, já que as pessoas que os utilizam não respeitam minimamente os demais. Se a gritaria dos telemóveis nos comboios é uma realidade também a gritaria das esplanadas e dos cafés não lhes fica atrás. Adoro estar numa esplanada a ler ou mesmo a conversar, mas, quando sou confrontado com os canhões de gargantas barulhentas bombardeando tudo e todos para que o mundo em redor as possam ouvir e admirar, fico doente e com uma azia dos diabos que se agrava substancialmente quando do lado oposto um novo grupo de guerrilheiros sonoros urbanos pretende impor-se aos demais. Fogo cruzado. Faz-me lembrar o acelerador de partículas que anda a procura do famoso bosão de Higgs. Dizem os entendidos que da colisão dos protões à quase velocidade da luz se irão formar microscópicos buracos negros mas que não constituem qualquer perigo para “comer” a matéria terrestre. É pena que das colisões de conversas em alta gritaria não se formem verdadeiros buracos negros capazes de as engolir. Seria um silêncio salutar...
10 comentários:
Caro professor, como já tenho dito aqui e, aliás, o meu nick deixa obviamente transparecer, um dos países que mais admiro é a Suíça e, por corolário os Suíços, mormente Zurich e os seus habitantes. Entre muitos outros motivos, um deles é, precisamente, ser a Suíça o país do silêncio. Foi, aliás, Zurich, a única cidade de quantas tenho visitado ao longo da vida onde tive ocasião de, a meio da tarde e no centro da cidade, experienciar o silencio. O total silêncio. Foram uns largos segundos em que não havia um único veiculo a passar e experienciei o silencio absoluto. É uma cidade naturalmente sossegada e muito pouco ruidosa mas achei extraordinário conseguir o silencio total por um momento.
A propósito do que conta dos telemoveis nos comboios, coisa efectivamente incomodativa e, pior, quando quem os atende fala de modo a toda a gente em redor saber a sua vida, mais a do marido, dos filhos, do gato e do periquito, conto-lhe uma das maravilhas dos comboios suíços: os compartimentos/carruagens silêncio disponiveis nalguns eixos. São compartimentos ou carruagens, depende dos comboios, onde os passageiros não podem fazer barulho, seja ele qual for. Que alívio! Não é permitido o uso de telemoveis, aparelhos de musica portateis, leitores de DVD e afins e nem sequer conversar de forma audivel para os demais viajantes! Que sossego de viagens se fazem assim...
No nosso mundo animal
em que o grito é função
nada me parece anormal
desde Darwin,é a evolução
Gritar mais alto que outro
tornou-se coisa vulgar
Se a coisa der p'ro torto
resta-nos mudar de lugar
Grita-se a torto e a direito
no comboio, ou na Assembleia
Grita-se de qualquer jeito
com fôlego ou em apneia
Grita-se por tudo e por nada
Ao telemóvel, na televisão
Grita-se até numa esplanada
Sem qualquer motivo ou razão
É a berrar e aos gritos
que esta gente incomoda
Ou porque estão de aflitos
Ou então porque já é moda
;))
Pedindo antecipadas desculpas pela “invasão” e alguma usurpação de espaço, gostaríamos de deixar o convite para uma visita a este Espaço que irá agitar as águas da Passividade Portuguesa...
Grande poeta me saiu o Bartolomeu. Sim senhor!
Só não estou a ver é como se consegue gritar em apneia!
Já somos dois, caro Professor, mas para rimar com assembleia, que tem alturas de completa apneia de bom senso, resultando em gritaria, não encontrei outro termo.
Ah!...Como eu o entendo Caro Professor Massano Cardoso.
Conheço uma senhora que o toque do telemóvel é aquela canção pirosa:
maria albertina deixa-me ir à cozinha ah. ah. ah.
maria albertina deixa-me ir à cozinha ah. ah. ah...
Acho que é à cozinha...mas nunca aprofundei bem o assunto, tal é o ódio que tenho ao toque. Aguento esta pirosice em média 6 X ao dia!
Bem...eu já lhe disse, a berrar, para mudar a ***** do toque, mas ela chama-se mesmo Albertina!
Por isso não stress, Caro Professor, porque aqueles que ouve no comboio e na esplanada às vezes estão a falar sózinhos, do outro lado já não há ninguém...são uns coitados não sabem o que fazer com as mãos e muito menos com a língua...
maria albertina deixa-me ir à cozinha ah. ah. ah.
:)
Era pior se fossem arrefecer os testículos para o comboio...
...os galos...
O silêncio é hoje considerado um luxo, como mostram as tais carruagens de que fala aqui o caro Zuricher. Mas até há uma geração atrás era considerado uma questão de educação, não falar alto, não por a música aos berros, não incomodar quem estava a ler. O silêncio é uma forma de respeito pelos outros e isso também caiu em desuso, agora é o individualismo egoísta e bruto que ocupa o espaço e atordoa. Há dias fui a uma clínica de análises e havia uma multidão e senhas para marcar a vez. Os números apareciam num painel que apitava de cada vez que mudava o número e eram vários paineis para os diferentes tipos de análises, de modo que era um barulhoso ensurdecedor e irritante, apitos por todo o lado, as pessoas num destino a ver se era aquele o apito do seu número ou não... Como é que as pessoas que ali trabalham chegam ao fim do dia? Já nem falo dos clientes, alguns doentes outros com crianças, horas de espera naquela balbúrdia, mas os infelizes dos que têm que aguentar aquilo diariamente, 8 horas seguidas e ainda atender pessoas, tomar nota do que dizem e sorrir com paciência para as dúvidas?É claro que é preciso gritar a dar os dados pessoais, mas acho que tudo parece normal, já ninguém estranha a gritaria, o silêncio é um luxo.
E mesmo nos hospitais, a placa SILÊNCIO deve ser só para enfeitar,os enfermeiros falam aos gritos a chamar no corredor, as macas empurram as portas com estrondo, à hora das refeições ouve-se o tinir da loiça como se fosse a cozinha de um café. Mesmo em muitas clínicas privadas é assim, só se for nas mais modernas que o luxo do silênco já faça parte do serviço.
Meus caros,
Sejamos realistas, os portugueses em relação a barulho são muito parecidos com os italianos e espanhóis...
Há uns tempos atrás estive num anfiteatro cheio com distintíssimos Professores Doutores onde se pedia algum interacção. A barulheira era tal que dava para fazer andar os combóios de que fala o caríssimo comentador Turicense.
É uma daquelas relações de incerteza de Heisenberg da vida.
Cumprimentos,
Paulo
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