Aqui em Buenos Aires o primeiro dia da Primavera é festejado como se fosse um dia nacional.
Os portenhos saem para a rua aos milhares e enchem os parques e as ruas da cidade. As zonas verdes sao invadidas por hordas de jovens, acho que já nao me lembrava de ver tanta gente nova ao mesmo tempo!, andam de bicicleta, jogam futebol ou ficam a conversar em grandes grupos, por todo o lado se arma uma banquinha de música e tocam viola, jazz, jambé, na falta disso poem uns altifalantes aos altos gritos com música pop e o ambiente é pouco menos que ensurdecedor.
Logo pela manha comecam a instalar-se ao longo dos passeios dos parques as roulotes de "parrilladas", uns prodigios de antiguidade que parecem amparar-se nas dezenas de sacas de carvao para assar os nacos de carne suculenta. Em breve a fumarada enche os ares de um nevoeiro espesso que cheira a grelhados a léguas de distancia, mas ninguem parece importar-se, formam-se longas filas de clientes para os grelhados e sumos, armam-se cadeiras nos passeios e ali ficam a fazer o seu pic nic, no meio do fumo, das correrias dos miudos e dos pombos.
Se as zonas dos parques sao invadidas pelos jovens, as ruas dos bairros enchem-se de feiras ao ar livre, parece que toda a gente descobriu que tem alguma coisa para vender porque ve-se mesmo de tudo. Antiguidades, velharias, artesanato, arte, roupa, peles, ruas e ruas sem fim ocupadas com as tendas misturando-se com as esplanadas apinhadas de gente e quase se confundindo com as lojas, abertas todo o dia de primavera. A animacao de música é permanente e é fácil encontrar grupos que tocam e dancam tango e que animam pares de todas as idades a dar o seu pezinho de danca.
Já ia a tarde a meio quando chegámos a enorme av. 9 de Julho, que atravessa o coracao da cidade com as suas vinte faixas de rodagem, sete centrais e as outras laterais, sempre caóticas de transito. As faixas centrais estavam cortadas ao transito e uma multidao compacta apinhava-se em frente a um palco enorme, onde actuava um grupo de tango. Um verdadeiro delírio, novos, velhos, pessoas de todas as classes sociais num entusismo total, as vezes em silencio emocionado, outras a aplaudir, por fim um par levantou-se e comecou a dancar tango no asfalto livre de carros, depois outro e outro, a rua a povoar-se de passos de danca, cada um com o seu estilo, concentrados nos passos ou a dancar com paixao, o espectaculo passou a ser nos dois lados, em cima do palco e ao longo da avenida. A festa durou mais de duas horas, ninguém arredoupe apesar do vento frio e da avenida tao desabrigada e ja chovia a serio quando a musica se calou e os pares se afastaram, contrariados, e se afastaram ainda a desenhar no caminho as piruetas do ritmo tangueiro.
Aqui a Primavera celebra-se como um dia nacional.
*os acentos sao o que se conseguiu arranjar...
1 comentário:
Ainda bem que é um povo que dança e canta de forma espontânea...
Por cá está mais para chorar...
Fique bem.
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