Temos o famoso Professor Reis hoje de regresso aos títulos dos nossos media, em mais uma intervenção tremendamente premonitória...agora em directo de Columbia University para a Lusa.
Desta vez não é para dizer, como em Agosto de 2007, que os problemas que começavam a manifestar-se nos mercados financeiros não passavam de um pequena perturbação no mercado interbancário - da qual não se falaria mais dentro de 30 dias, como advogou no seu arrojadíssimo comentário de Agosto de 2007, festejado pela imprensa lusa em grande álacre...
Desta vez a questão é ainda mais séria: trata-se de arrasar, sem mais, o tão falado plano Paulson, também conhecido por TARP (Troubled Assets Refief Program) ou TARA (Troubled Assets Refief Act) .
Adianto desde já que prefiro a segunda designação, não só por ter carácter definitivo mas também porque, para ser sincero, acho a ideia mesmo uma TARA!
Não é esta a opinião de Ricardo Reis que entende, em resumo, o seguinte:
- “O plano é perigoso, errado, injusto, e terá porventura, consequências desastrosas”.
- “Deve ser deitado ao lixo”
- “Entre aplicar o Plano e nada fazer, prefiro que não se faça nada”
- “É mais do que legítimo que o Congresso dos USA questione este Plano”
- “O melhor, no entanto, seriam medidas alternativas que existem. Mas não vale a pena consertar o que nasceu torto. É preferível começar tudo de novo”.
O Professor Reis está de “faca afiada”, realmente...desferindo os mais duros comentários contra o muito competente mas infeliz secretário do Tesouro, que já não deve dormir há mais de 7 dias...
Resta assinalar que estes comentários do Professor Reis foram proferidos no mesmo dia em que parece estar muito próximo um acordo no Congresso sobre o plano Paulson...vamos ter o TARA, finalmente, ao que parece!
A acontecer tal acordo, hoje ou amanhã tanto faz, mais uma vez o Professor Reis parece manter os seus instrumentos de previsão em total desatino...sem prejuízo de se reconhecer e apreciar o extraordinário arrojo de suas previsões!
18 comentários:
Mais do que arrojado, o Professor Reis é consequente. Quem minimizou a crise não poderia coerentemente considerar a utilidade de um plano para a combater...
Caro sr. Moreira,
Um amigo alertou-me para o seu blogue. Porque nao tenho o seu endereco, envio-lhe aqui esta mensagem, em publico.
Reparei que no seu blogue ja' varias vezes se referiu a mim, e sobretudo 'a minha entrevista ao DE ha pouco mais de um ano, e 'as minhas supostas previsoes de que a crise financeira nao era grave. Permita-me se estou em erro, mas parece-me que o sr. Moreira nao leu a dita entrevista para alem do titulo. Senao, veria que a pergunta e resposta em questao foram:
"DE: Esta intervenção conseguirá evitar uma crise económica?
RR: Penso que sim, que se trata apenas de uma crise de liquidez, da qual daqui a um mês ninguém falara. No entanto, os mercados financeiros são hoje tão complexos e interligados que existe o risco de nos precipitarmos para uma crise financeira. Seria irresponsável ignorar esse risco, e os bancos centrais estão atentos."
Na mesma altura , num artigo de fundo sobre a crise para o DE (http://ricardoamrreis.blogspot.com/2007/12/explicando-crise-do-subprime.html), escrevi: "O verdadeiro perigo é que os bancos estejam em piores sarilhos do que descobrimos nos últimos dias despoletando uma crise financeira. […] Este é um mau cenário: as crises financeiras têm efeitos imprevisíveis e perigosos."
E por fim, ja' este Marco de 2008 no DE (http://ricardoamrreis.blogspot.com/2008/04/crise-financeira-de-2008_05.html) caracterizava a situacao actual como uma crise financeira muito grave.%
Parece-me por isso extraodinario que o sr. Moreira esteja ha um ano a citar-me como tendo dito que nao havia crise nenhuma. Suspeito que o fez porque nao teve oportunidade de ler aquilo que eu de facto afirmei e escrevi em tres artigos diferentes, e tenha sido induzido em erro pelo titulo da entrevista. Espero que esta minha breve mensagem o esclareca.
Por fim, quanto 'as minhas declaracoes acerca do plano Paulson *como proposto na sexta-feira* (que foi o que disse ao jornalista, o proposto hoje ainda nao li) desafio-o a encontrar muitos economistas que discordem. Aqui (http://faculty.chicagogsb.edu/john.cochrane/research/Papers/mortgage_protest.htm) pode encontrar mais de 100, muito mais espertos e reputados do que eu, que dizem o mesmo.
Atenciosamente,
Ricardo Reis
Não tem aí a equação diferencial de onde tirou essa conclusão, não, Sr. Reis??
Caro Sr. Moreira,
Tive agora oportunidade de ler os seus outros posts sobre mim, e se me permite, gostava de acrescentar mais 3 comentarios:
1. Vejo que o sr. Pedro Gomes ja' o tinha informado acerca minha posicao sobre a materia. Confesso que fico surpreendido que continue a atribuir-me a previsao que a crise ia durar menos de um mes. Mas, nao serei nem o primeiro nem o ultimo autor a achar que as suas afirmacoes foram incompreendidas. Suspeito que seja eu quem esteja errado, e que eu esteja a confundir o que eu disse com o que eu queria dizer.
2. Quando um jornalista me telefona ou escreve a fazer perguntas, eu tento ajuda-lo respondendo. Nem mais, nem menos. Nao sou responsavel por depois o artigo que e' publicado me chamar "genio" ou "imbecil", ou o titulo ser "Nao se fala mais do cruise daqui a uma mes" ou antes "Existe o risco de nos precipitarmos para uma crise financeira". E deixe-me acrescentar que acho que a jornalista Helena Garrido fez uma excelente trabalho na entrevista. E habito acusar os jornalistas de descuido, mas parece-me que os leitores sao mais frequentemente os descuidados na leitura dos textos.
3. No seguimento do ponto anterior, a minha ausencia dos media que o senhor com algum sarcasmo aponta, deve-se simplesmente a que nao me telefonem tao frequentemente a fazer perguntas. Provavelmente, tal como senhor, ja' se aperceberam das minhas multiplas falhas. Para alem disso, porque mudei de cidade e emprego nos ultimos 6 meses, tive de interromper as minhas colunas no DE por falta de tempo.
Espero nao o estar a macar com estes comentarios, mas como levanta algumas questoes acerca das minhas accoes e palavras, achei por bem responder-lhe a justificar-me.
Novamente atenciosamente,
Ricardo Reis
Eu, por acaso, também acho que a crise pode durar mais um mês, ou durar mais, isto se não acabou ontem.
Não conheço Ricardo Reis a não ser de alguns artigos que publica nos jornais, por exemplo este, que mais me chamou a atenção política, “Os melhores ministros”, com o seguinte link,
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1029410.html
em que ele arrasa MF Leite, o que me deixou satisfeito porque não tenho fé nenhuma na senhora, mas o que sei é que alguns profes de economia que conheço arriscam dizer que ele pode vir a ser o maior economista (académico) português de todos os tempos.
No entanto, a avaliar pelo que nos conta Tavares Moreira neste post, o jovem Ricardo Reis sofrerá do mesmo síndrome de que enferma o mais comum dos economistas relativamente à capacidade de previsão.
dear Mr. Ricardo Reis,
Não esteja apoquentado com os comentários que neste Blogue tenham sido produzidos acerca de suas premonições.
Creia, solidamente, que nada me move contra a sua pessoa ou as suas opiniões, que respeito rigorosamente.
Aquilo que sempre procurei colocar em evidência - e de igual mdo posso conluir que não terá prestado a "devida" atenção ao que escrevi - foi o entusiasmo sistémico dos nossos encantadores media com suas ultra-optimistas previsões de Agosto do ano passado.
Até pode ser que Mr. Reis tenha razão desta vez: não existe neste momento qualquer certeza quanto à transformação do TARP em TARA...
E se tiver, pode estar certp que eu serei dos primeiros a reconhecer sua perspicácia.
Faço-lhe um pedido a concluir: que retire a palavra "sarcasmo" do arsenal de palavras com que caracterizou os meus escritos. Pela simples razão de que tal não corresponde, de todo, à intenção com que manifestei minhas opiniões acerca das suas.
Creia-me com toda a consideração, Mr. Reis.
Bom, só depois de ter colocado o meu comentário é que reparei que o próprio Ricardo Reis veio aqui esclarecer a sua posição, educadamente mas com frontalidade, revelando uma virtude que muitos outros gurus da nossa economia não possuem: responder a quem os confronta.
Todavia, como engenheiro, era irresistível a ironia, que aliás, se aplica também a Tavares Moreira, acerca daquele aspecto com que os engenheiros gostam de “picar” os economistas : prognósticos, é melhor no fim do jogo, não é verdade...?
Tenho de me penitenciar da minha ironia acerca dificuldade de previsão dos economistas.
Pelos vistos já havia quem alertasse para o perigo de derrocada do subprime há algum tempo :
http://www.aei.org/publications/pubID.22514/pub_detail.asp
E houve até quem fizesse previsões com 9 anos de antecedência :
http://query.nytimes.com/gst/fullpage.html?res=9C0DE7DB153EF933A0575AC0A96F958260&sec=&spon=&pagewanted=1mas
Mas como estavam em causa instruções da Administração Clinton, rapaziada de esquerda, ninguém lhe ligou nenhuma.
Caro Jorge Oliveira,
Temtoda a razão quando aponta o dedo à insensibilidade geral quando se chama a atenção para o risco de situações de desequilíbrio económico e financeiro...
Cá estão eles outra vez, com as suas chamadas de atenção...Que grandes maçadores, estes analistas ou pseudo-analistas que insistem na necessidade de corrigir políticas...é a reacção habitual a essas chamadas de atenção...
Se for ler muitos dos textos editados neste blog, não só mas também por este subscritor, encontrará muitas chamadas de atenção para a situação crítica - e em agravamento - da economia portuguesa...algumas bem recentes, todas caindo ordinariamente em "saco roto"!
Hoje privilegia-se o espectáculo, a alacridade, o optimismo sobretudo o bacoco, as pessoas não têm paciência para aturar "pessimistas"...
É a realidade que temos meu Caro, gostemos ou não...é claro que estamos a pagar já um preço alto por essa postura de fuga em frente - e vamos pagar muito mais pode estar certo - mas já não creio na hipótese de mudança!
A não ser, admito, quando nos encontrarmos totalmente sufocados por dívidas...
Caro Tavares Moreira, continua um optimista incorrigivel!! Com que então acredita que vamos ter uma mudança do paradigma económico quando nos encontrarmos sufocados de dívidas! :-) Estou apenas a brincar consigo, sei que não é optimista andando mais pelo realismo da situação. Apenas apontei este particular porque eu não acredito que, mesmo sufocado por dívidas, Portugal mude. A questão vai muito além da economia e das finanças. Tem a ver com a cultura Portuguesa. Penso que serão feitas as adaptações necessárias para lidar com o problema quando ele se apresentar de molde a não ser mais possivel esconde-lo debaixo do tapete mas que, daqui a uns anos, na primeira ocasião de desaperto, voltará tudo exactamente ao mesmo.
Portugal é um daqueles países que, penso, não tem solução duradoura possivel. O problema não é localizado. É da própria base cultural!!
Caro Tavares Moreira,
Mas o facto de nos estarmos a atolar de dívidas mostra a enorme visão do nosso governo em colocar-nos do lado certo do crédito, no que à crise financeira diz respeito. Mau seria se estivéssemos credores, agora estando devedores a crise vai passar-nos completamente ao lado. Até porque na óptica das boas práticas contabilísticas quanto mais devemos, maior o nosso risco e, portanto, menos vale a nossa dívida e mais rapidamente enveredamos pelo caminho da consolidação orçamental.
E ainda havia por aí quem duvidasse que o homem era engenheiro...
Caro Zuricher,
O seu raciocínio, de raiz cultural, sofre de um "pequeno" senão: agora a dívida não é mais expressa na nossa moeda - não tem recuo.
Pelo que quando diz "...daqui a uns anos,na 1ª ocasião de desaperto..." o cenário que assim coloca não é realizável...não haverá mais, dentro do Euro, é evidente, qq ocasião de desaperto...
O aperto é, no nosso caso, uma função crescente, monótona, do tempo...
Caro Tonibler,
Com essa é que o meu Amigo me arrasa...o seu sentido de humor não conhece limites!
Felizmente para si deve estar bem longo em Euros, de outro modo teria dificuldade em fazer humor com o alto endividamento dos mais incautos...
Caro Tonibler,
.
Sei que "brinca" mas a seguir a isso viria (virá) uma hiperinflação.
CAro Tavares Moreira,
Incauto sou eu, que voto sempre vencido. Os outros merecem.
Caro CCz,
Não vem nada, a nossa inflação é alemã. Agora só temos que nos portar como o Alberto João Jardim...
.... "infeliz secretário do Tesouro, que já não deve dormir há mais de 7 dias"... e que até já se pôe de joelhos, Caro DR. TM.
Bancarrota americana ameaça milhões de famílias
http://dn.sapo.pt/2008/09/27/economia/bancarrota_americana_ameaca_milhoes_.html
Esta notícia deixa qualquer simples e anónimo cidadão(ã) do mundo (como eu) ... muito preocupado.
bom fds (fim de semana) !
:-)
Como já exprimi em posts anteriores, subscrevo a intervenção do estado americano nesta crise. No entanto, vi ontem no site do DE, que para resolver esta crise seriam precisos 5 triliões de dólares.
Mais importante do que a aprovação do TARA, é a eleição de Obama como próximo presidente dos EUA. Já tiveram pesadelos ao pensar em Sara Palin a governar os EUA?
Caro João Pedro,
Bem vindo a este debate, em 1º lugar.
Em 2º lugar, esse valor de USD 5 trillion que viu mencionado é aquilo que se pode chamar "confabulação" numérica...
Toda a gente sente que é altura de emitir "palpites" quanto ao que será "necessário" para salvar o sistema de crédito americano de uma insolvência generalizada...
Será que alguém sabe verdadeiramente?...
A voz mais autorizada nesta matéria que até hoje registei - de Kenneth Rogoff, ex "chief-economist" do IMF e Professor em Harvard - referia há uma semana, em interessante artigo no F. Times, um montante entre 1 e 2 USD "trillion" dependendo de determinados pressupostos...
Quanto à necessidade da vitória de Obama, como apoiante deste Candidato desde a primeira hora - que continuo a ser - sinto-me à vontade para divergir "radicalmente" do seu comentário, com a devida vénia...
Entendo que a vitória de Obama será melhor para a América e para o mundo, mas não pelas razões que refere: (1º) Obama não vai "resolver" melhor nem pior que seu adversário a questão do sistema financeiro;(2ª) A Senhora Palin não é relevante para este efeito, como Vice-Presidente ou como Governadora do Alaska, tanto faz.
Meu Amigo limita-se a seguir, se bem me parece (se assim não for aceite desde já minhas desculpas) as recomendações dos media europeus - e domésticos em particular - que em matéria de eleições americanas sabem tanto como do TARA ou do TARP...ou seja quase nada.
Enviar um comentário