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sábado, 29 de agosto de 2009

O preço da democracia

É complexa a organização de uma campanha eleitoral, porque é preciso garantir a igualdade de acesso aos meios de comunicação e a máxima informação aos eleitores. Acabo de ouvir, por lado, um comentário escandalizado sobre o que se vai gastar ao todo – cerca de 90 milhões de euros – e, por outro, que foi preciso negociar a mudança da hora de um jogo de futebol importante para viabilizar o frente a frente entre os lideres dos dois maiores partidos no próximo dia 12 de Setembro. Dir-se-ia que vivemos um tempo que ainda não transitou completamente das velhas campanhas de cartazes e comícios, a única forma que havia há décadas para fazer chegar as mensagens e as caras dos candidatos a todas as pessoas, para o tempo das tecnologias e dos meios de comunicação de massas. A acumulação de tudo dá de facto uma sensação de excesso, se há blogues, twitters, second lifes e face books, além de jornais diários e semanários em papel e on line, mais rádios e múltiplos canais de televisão, para que será preciso cartazes espalhados por todo o lado? O problema estará no facto de uma parte significativa dos eleitores não se dar ao trabalho de procurar conhecer via informática o que lhes propõem, e que uma parte significativa dos candidatos não tenha acesso aos meios de comunicação, pelo menos o tempo suficiente para ao menos se lhes conhecer as caras, quanto mais os programas que têm para apresentar. No caso das eleições autárquicas, a imprensa regional também cumpre o seu papel, mas talvez não seja suficiente, pelo menos os cartazes ficam à vista de todos, com mensagens seleccionadas pelos próprios e não por terceiros, e com fotografias que acabam por se tornar familiares, à força de se passar por elas. Se pensarmos que estas eleições legislativas e autárquicas envolvem uma pequena multidão, a maior parte sem outro meio para se publicitar sem ser os cartazes e os encontros no concelho ou na freguesia, talvez seja mais fácil entender os gastos previstos, e o seu anúncio assim a seco já não pareça tão falho de sentido. A democracia tem um preço e não me parece que se ganhe alguma coisa em alimentar o descrédito para além do que tenha razão de existir. A abstenção, sobre a qual todos se vão lamentar com acusações mútuas, não se combate com notícias destas, atiradas à opinião pública como uma seta envenenada.

4 comentários:

Carlos Monteiro disse...

Cara Suzana,

Permita-me que discorde de si. Quando a líder da oposição tem um espaço completamente grátis no Expresso, onde sob a capa de «opinião» faz propaganda eleitoral, quando o Publico faz o trabalho sujo do PSD e quando, em contrapartida o governo manda recados via RTP ou DN, não percebo para que servem os 90 milhoes de euros para a campanha.

Por mim podem poupa-los e dar a quem precisa realmente deles, que isso é que me faria mesmo mudar o voto!

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Suzana Toscano disse...

Caro cmonteiro, estava a ver que tinha desistido de discordar de mim de vez em quando . Vejo que lê muitos jornais e faz bem, eu também faço o mesmo e por isso mesmo já consigo distinguir as opiniões, as notícias (poucas, concordo), a propaganda, os trabalhos sujos, os recados, em suma tudo o que o caro cmonteiro também refere precisamente porque sabe classificar cada categoria. Resulta que podemos irritar-nos, escandalizar-nos, discordar das opiniões, etc, mas isso também informa. Não são notícias mas é informação, ao menos do estado a que se pode chegar nalguns casos (a sua lista não é exaustiva) e das versões que abundam sobre os factos mais simples do nosso dia a dia. Então quando calha conhecermos directamente os factos ficamos completamente esclarecidos. Daí que a campanha eleitoral seja importante e valha a pena gastar uns dinheiros nisso, ao menos nesta fase cada um aparece com a bandeira que leva na mão, com a cara nos cartazes e as pessoas podem associar directamente quem diz o quê. Por isso não me parece nada positivo que se façam contas ao “bolo” global das duas eleições para obter um efeito bombástico e explorar o discurso fácil dos que precisam tanto, mais valia ir para esses.
Como bem exemplifica o caro Paulo, sempre muito claro e sem rodeios.

Carlos Monteiro disse...

Cara Suzana,

Eu até estaria de acordo consigo se fossem uns trocos. Mas são 90 milhões de euros!


PS: Discordar de si, ao contrário dos exemplos que referi, é que é verdadeiramente informativo. E um prazer também! :)