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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

“Ponto de exclamação”

Estou um pouco surpreendido com o movimento contra o “ponto de exclamação”(!). Enfim, lá têm as suas razões. Há blogues que já afirmam o seguinte: “Este é um Blog livre de pontos de exclamação”. Afirmam que o seu uso traduz uma qualquer forma de histeria ou de gritaria. Também afirmam que o uso de reticências é uma forma de preguiça.
Será que um dia destes terei de abandonar os meus pontos de exclamação e as minhas reticências?
Já li livros quase sem vírgulas. Já li livros com centenas de páginas, um deles apenas com dois pontos finais. Fiquei na dúvida se eram apenas dois, pois que, um dia, tendo deixado aberto numa página, acabei por verificar dois pontitos negros. Passei com a unha e verifiquei que era merda de mosca. Curiosamente as frases ficaram com outro sentido (muito melhor), mas foi por mero acaso. Já consegui chegar aqui sem colocar um único ponto de exclamação, tirando o que está entre parêntesis, mas parece que em condições especiais pode ser utilizado. Não sei se cumpro as condições. Confesso que é um enorme sacrifício. Ai se é. E ele que está mesmo ao alcance do meu dedo médio da mão esquerda. Às tantas já me chamou nomes, e que nomes, por não o ter utilizado. Eu bem tento dizer-lhe que me incomoda muito ser conotado com a histeria ou com a preguiça. Mas parece que não me ouve. Caramba (estão a ver?, não coloquei um ponto de exclamação), eu sei que sou um pouco temperamental e faço uso do ponto de exclamação com alguma parcimónia. Penso eu. Às tantas não. Mas estou a ficar chateado. Como é que vou ler Céline? Tenho à minha frente “Castelos Perigosos”. Meu Deus, se soubessem quantos pontos de exclamação e quantos três pontinhos contém esta obra. Ponho-me a imaginar lê-lo sem pontos de exclamação e sem reticências. Não tinha graça nenhuma. Será que Céline é um histérico e um preguiçoso?
Já agora, veio-me à ideia os pobres dos espanhóis, que têm a “mania” de usar os pontos de exclamação e de interrogação ao contrário no início das frases em que terminam com os mesmos. Coitados estão mesmo tramados. No fundo são muito mais histéricos do que nós. Pelo menos são mais temperamentais. Será que isso tem a ver com o seu curioso uso? Esta onda também anda por aquelas bandas? E pelo resto da Europa? Ou será uma originalidade portuguesa? Desculpem os inúmeros pontos de interrogação, mas pelo menos ainda não estão a ser contestados.
Para terminar quero fazer uma declaração de interesses. Não tenho qualquer autoridade nestas áreas linguísticas. Sou um simples cidadão que aprendeu a escrever, que gosta de ler e adora escrevinhar. Se cometi alguma heresia desde já peço as minhas mais sinceras desculpas. Além do mais, prezo em ser um bom aluno e estou sempre recetivo a que me ensinem e esclareçam do mesmo modo que faço, com muito prazer, aos meus alunos no que respeita à minha atividade profissional e académica.
Falei “baixinho”.

13 comentários:

jotaC disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
jotaC disse...

Caro Professor Massano Cardoso:
Se calhar já não há nada que nos espante! Nem tampouco, frases suspensas para outros completarem, talvez…
Bom… o que interessa, é que nota-se muito estudo e um talento inato para a escrita! Obrigado.
Desculpem o excesso de pontuação, o monitor está cheia de moscas, e onde há moscas... :)

Jorge Oliveira disse...

Caro Massano Cardoso

Apesar da sua insistência em escrever com erros ortográficos, desta vez li o seu texto todo.

Ora, como afirma que está sempre receptivo a que o esclareçam, se me permite queria dizer-lhe que a sua frase "Não sei se cumpro com as condições" peca por conter o termo "com" a mais.

Eu sei que se trata de um modismo, repetido por jornalistas e comentadores encartados, mas a presença do "com" a seguir ao verbo cumprir é perfeitamente supérflua.

A menos que se trate de alguma imposição do malfadado acordo ortográfico, caso em que já aqui não está quem falou...

Jorge Oliveira disse...

Em tempo : é óbvio que existem situações em que a seguir ao verbo "cumprir" se justifica e torna necessário empregar a preposição "com", como acontece, por exemplo na asserção "cumprir com denodo".

O problema surge quando se emprega o "com" sem qualquer necessidade, como ultimamente se tem vindo a observar.

Talvez se trate de uma extrapolação de outro erro clássico, como é o caso de "fazer com que", quando basta dizer "fazer que".

Bartolomeu disse...

«caso em que já aqui não está quem falou...»
Caro J Oliveira, é verosímil que fale enquanto escreve, mas que fale escrevendo, parece-me de todo impossível.
A propósito... (ou não) aqui deixo o linkezinho para quem aprecia as raízes etimológicas... de um povo, pela maravilhosa voz de Isabel Silvestre.
http://www.youtube.com/watch?v=4BHdvDYyCVA

Luís Bonito disse...

Até há para aí na net quem escreve só com letras minúsculas. Deve ser novo estilo, como na Viagem do Elefante.
Gostei especialmente dos dois pontinhos negros da mosca :-)

Massano Cardoso disse...

Caro Jorge Oliveira

Muito obrigado pela sua explicação. Registo-a. Vou alterar a frase. Não é a primeira vez que sou corrigido ao longo destes anos e, o mais certo, é não ficar por aqui.
Sabe, parece-me que é relativamente comum cometer infrações desta natureza quando se escreve. Recordo que Mário Braga, um escritor que muito aprecio e devoro, ao fazer novas edições das suas obras ficou muito surpreendido com os seus erros. Não se coibiu num prefácio de os comentar. A mim não me incomoda nada a sua chamada de atenção que, repito, agradeço, mas quanto à pretensa ironia do final do seu comentário, despropositada, e por motivos que desconheço, sinto que traduz uma certa animosidade que não deve conjugar bem com o seu nível intelectual e caráter. Uma última observação, peço-lhe que não me dê muita atenção. Não a procuro, nem sou merecedor de tal.

just-in-time disse...

Caro Prof. Massano Cardoso

É tudo uma questão de mudar para os pontos de espantação que, aliás, traduzem bem o sentimento do seu post.
E também para os pontos de perguntação.

Jorge Oliveira disse...

Caro Massano Cardoso

A minha ironia não foi despropositada. Vem na sequência das minhas anteriores intervenções acerca do acordo ortográfico, que certamente leu, e não encerra qualquer animosidade. Surpreende-me que pense isso.

Assim sendo, como costumo entrar nestes comentários para debater opiniões e não as pessoas que as emitem, prometo respeitar o seu pedido e não vou dar-lhe mais atenção.

Massano Cardoso disse...

Caro Jorge Oliveira

Muito obrigado!

Suzana Toscano disse...

Caro Massano Cardoso, não ligue a modas, as modas passam e as pessoas ficam e, quando há alguma coisa interessante a dizer, não é por mais ou menos pontuação que perdem o interesse. Mas é claro que sabe isto melhor que ninguém e o seu post cheio de ironia é delicioso. Mas estes "movimentos" têm o atrevimento dos que querem formatar tudo, é a época das receitas simplex, o conteúdo tanto faz, prima a aparência, o que parece bem, o é giro, as três linhas das frases da semana ou o sound byte que passa e deturpa um discurso que levou horas a preparar, por honestidade de quem o profere.Por mim, que adoro ler e leio de tudo um pouco, não serão as espantações ou as perguntações, como diz o caro just-in-time, que me farão seleccionar as leituras. Interessa-me pouco se quem escreve é preguiçoso ou vaidoso, desde que escreva bem e tenha ideias válidas, é quanto basta... (adoro reticências e acho que não sou preguiçosa).

JediVermelho disse...

http://realobservatorio.blogspot.com/
Leiam...Espero que achem interessante!

Inês Massano disse...

Sabes pai, ao ler alguns destes comentários, lembrei-me do que sempre nos ensinaste, existe realmente uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância do comportamento.
Não há livro no mundo que ensine alguém a estar na vida de uma forma não arrogante ;)