Vai por aí acesa uma polémica sobre as manifestações de censura ao regime iraniano pela condenação à morte, por apedrejamento, de Sakineh Ashtiani. Há quem pretenda ver nas pronúncias de uns, ou nos silêncios de outros, cinismos e hipocrisias. Apercebi-me de insinuações de que as presenças e ausências da manifestação realizada há dias em Lisboa, eram uma prova mais do que separa a direita e a esquerda. E apercebi-me de opiniões que sublinhavam a inutilidade destas expressões de solidariedade. Quem, parando para pensar, pode julgar que uma pretensa suma divisio a este pretexto não é uma rematada estupidez? É um bem que as pessoas se indignem perante aviltantes violações dos direitos humanos, ocorram elas onde ocorrerem. No Irão, na China, em Cuba, na Venezuela, nos EUA ou em Portugal. Foi também para isso que se consagraram como fundamentais os direitos à livre expressão e à manifestação. Direitos tão sagrados como a liberdade de pensamento. Por isso, controvérsias destas só podem alimentadas por gente carenciada de atenção ou por quem, por formação ou personalidade, se entregue à prática permanente da agressão intelectual. Se os primeiros não oferecem perigo, os do segundo tipo são perigosos porque perigosas são sempre as execrações sociais perpretadas com suposta superioridade moral. Basta olhar para trás e recordar os mais odiosos episódios do século passado e as atitudes que estiveram na sua génese.
2 comentários:
Tem toda a razão, caro Ferreira de Almeida. Alguns e algumas arrogam-se uma pretensa, ridícula e estúpida superioridade moral, cultural e até política que roça o fundamentalismo. E de fundamentalismos estamos nós cheios.
É a mesma atitude abelhuda de quem vai para funerais contar cabeças.
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