1. São conhecidos os dados provisórios das contas externas para metade do ano, tornando-se evidente o enorme aperto a que política económica portuguesa está sujeita...e o beco sem saída em que nos meteram!
2. Por mais voltas que os responsáveis governamentais “queiram dar ao texto” para nos tentar convencer de que estamos numa “recuperação”, a verdade é que a economia portuguesa já não tem forças para corrigir o enorme desequilíbrio externo que ano após ano vai contribuindo para agravar uma dívida por tantos considerada insustentável...
3. Sendo certo que o défice externo corrente até ao final de Julho mostra uma redução de 2,96% em relação a idêntico período do ano passado (€ 9.170 milhões contra € 9.449 milhões em 2009), a verdade é que, analisando as diferentes rubricas, se conclui que essa diferença se fica a dever a uma temporária redução no défice dos rendimentos, de € 4.199 milhões em 2009 para € 3.949 milhões no corrente ano.
4. Ora esta rubrica dos rendimentos pagos ao exterior já em 2009 tinha exibido um comportamento atípico: até ao final do 3º trimestre tudo parecia correr melhor, mas no último trimestre do ano o défice disparou, ultrapassando surpreendentemente o de 2008.
5. Assim, em função do valor registado até Junho, não será surpresa que o défice dos rendimentos venha a ultrapassar o de 2009, cifrando-se em valor próximo de € 8,5 mil milhões ou seja 5% do PIB.
6. Mas isso significará, quase inevitavelmente, um défice corrente muito próximo de € 18 mil milhões ou seja mais de 10% do PIB – com um agravamento em igual medida da dívida ao exterior...
7. Ainda que as exportações aumentem – o refrão oficial não se cansa aliás de o proclamar – as importações aumentam mais.
8. No 1º semestre do ano as exportações de bens aumentaram de facto - cumpre reconhecer - mais € 2.239 milhões (+14,5% sobre 2009), mas as importações aumentaram ainda mais, € 2.478 milhões (+10,4%), anulando na totalidade aquele progresso...
9. A explicação para este facto estará em boa parte no descontrolo da despesa pública, que faz natural e esperada pressão sobre as importações, anulando o meritório comportamento das exportações...
10. A conclusão é forçosa e lamentável: apesar do desempenho favorável das empresas exportadoras - que é de enaltecer numa conjuntura difícil e sob apertada concorrência do exterior – uma política económica disparatada acaba por anular esse esforço, agravando a despesa improdutiva e fomentando do mesmo passo as importações...
11. Sobrepondo-se a toda a verborreia política que diariamente nos assalta, são as contas externas que lançam um verdadeiro cheque-mate à política económica...
12....Pondo a nu a incapacidade dessa política para corrigir os enormes desequilíbrios da economia (agravando-os, de facto) e a total desconformidade entre o discurso político e a realidade...quem nos vale?
4 comentários:
Ainda é só cheque ao Rei, caro Tavares Moreira. Cheque-mate será só no dia em que o Sócrates vai aparecer na televisão a falar de pântanos e a anunciar aos funcionários públicos que este mês vai haver um pequeno atraso nos pagamentos...
Em minha opinião, caro Dr. Tavares Moreira, aquilo que "lixou" a economia, foram as restrições ao consumo de alcool. Ou seja, o cerco apertado, recoberto de um pudor moralista, aos tipos que nos almoços mandavam servir um excelente vinho.
É! Se não vejamos... desde quando é que a crise económica começou a aumentar de volume?
Desde que o maralhal passou a beber menos nos almoços de negócios!
Até ali, o caro Dr., ou um empresário, ou um político, ou um dirigente desportivo, ou um chefe de repartição de finanças, era convidado para almoçar e o que acontecia? O anfitrião tinha o cuidado de escolher um vinho que para além de se apropriar à ementa, seria detentor de múltiplos pergaminhos.
Isto faria com que o convidado se sentisse acarinhado e se predispozesse (nem sei se esta palavra existe) a prestar maior atenção àquilo que o anfitrião tinha para lhe dizer.
Agora... o pessoal tornou-se abstémio (esta existe, tenho a certeza)e o que é que acontece?!
Não se fazem negócios! Não se conversa! Não se discutem opiniões!
Portanto... se todos estiverem de acordo, proponho que a lei que establece os níveis máximos de alcool no sangue, seja revogada.
Argumentos...?
Todos os que se possa imaginar, com especial ênfase para um, de incontornável acertividade: O vinho dá alegria, faz esquecer as preocupações e... destrava a língua!
Penso que sejam suficientes...
Caro Tavares Moreira
Uma "pequena" adenda ao seu comentário:
Na Balança comercial, temos que contar com a contracção de 2009; nesse sentido um aumento, das exportações, seria sempre de esperar, dado o baixo patamar de que partimos; temos, igualmente de contar com a paragem da refinaria da GALP no início de 2009;
Por outro lado, as 100 principais exportadoras nacionais representam +/- 60/65 % das nossas exportações;
Nestas cerca de 15%/20% das nossas exportações são realizadas por três grupos económicos alemães: Siemens, VW e Bosch e uma empresa nacional: GALP;
Como não "produzimos" localmente motores de automóvel, chips ou crude, o aumento das exportações aumenta, inevitavelmente, as importações.
Sem a criação de condições que permitam as empresas localizadas em Portugal que concorram em mercados de bens reansacionáveis, actuar em igualdade de circunstâncias com as suas rivais, receio que continuaremos a empobrecer, mas com um sector de "maquilladoras" de luxo.....
A falência da política é mais ampla do que a que apresenta no seu post..
Cumprimentos
joão
Talvez tenha razão, caro Tonibler...como já não jogo xadrez há alguns anos, terei cofundido o cheque-mate com o cheque ao rei!
Sim. ainda faltará essa cena do pântano para chegarmos oa cheque-mate, este cheque ao rei ainda admite defesa...
Caro Bartolomeu,
Já percebi que o meu Amigo é um "nostálgico" da auto-suficiência alimentar em Portugal..., que a PAC veio colocar radicalmente em causa.
Sim, teríamos muito a ganhar com o aumento do consumo de vinho, sobretudo por parte dos responsáveis governamentais - se estivessem permanentemente etilizados, não teria certamente tempo para cometer tantos erros de política, o País seria bem mais feliz!
Apareceriam cambaleantes em qualquer cerimónia de inauguração, que são às centenas por mês, proferindo discursos absolutamente desconexos, seria uma alegria generalizada!
Caro João,
Trata-se de um bom contributo para a análise desta problemática, caro João.
De resto, a elevada concentração das nossas exportações, em produtos e empresas, para que aqui chama a atenção, torna-nos ainda mais vulneráveis à dependência externa, conferindo maior ênfase à falência da política que aqui destacamos.
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