Vale a pena ler com atenção a notável entrevista de José Felix Ribeiro, subdirector Geral (em vésperas de aposentação) do Departamento de Prospectiva e Planeamento do Ministério da Economia, ao Público de ontem, é como se estivéssemos a conversar com uma pessoa inteligente e despretensiosa que não quer dar as respostas definitivas do costume, antes responde com o cuidado de quem sabe muito e reflectiu muito e quer despertar em quem o lê o gosto por essa curiosidade e essa análise. É muito interessante e sempre bem explicada a sua visão do futuro e dos problemas que nos confundem, o papel do euro, a explicação política para as tensões e incertezas que se vivem à volta da moeda europeia, o papel da Alemanha, da China, da Rússia e dos EUA. Mas também de Portugal e dos caminhos que poderemos ter que seguir quando percebermos o que afinal queremos. A não perder.
7 comentários:
Não conhecia o entrevistado. Ou por falta de exposição do pensamento do próprio ou por desatenção e desconhecimento meu. Mas merece todo o respeito quem com grande clarividência afirma isto:
"A resposta que foi dada à crise por este Governo é muito interessante. É uma resposta de emergência, mas o facto é que fomos ter à Líbia, Argélia, Venezuela e Angola. A primeira razão é o petróleo. Mas há outra coisa em comum: à excepção de Angola, todos têm relações tensas com os EUA. Fomos à procura de parceiros que estão completamente fora do nosso alinhamento estratégico, embora pudessem dar bons negócios. Conseguiu-se aumentar as exportações para esses países. O primeiro-ministro fez como Paulo Portas: passou a ir às feiras. Estava habituado a andar nos supermercados e passou a ir às feiras. Não estou a pôr isso em causa, possivelmente não podia fazer outra coisa..."
A não perder, também, o magnífico texto referido na entrevista e acessível no Google, "Portugal 2025- Que funções no espaço europeu". Além da enorme sabedoria o que mais nos atrai é a simplicidade e discrição do autor: já estamos desabituados.
Suzana
Excelente recomendação. A sabedoria de José Félix Ribeiro é partilhada com o leitor de uma forma descodificada ao alcance de qualquer um. Dá que pensar a afirmação:
"As pessoas espantam-se que os dirigentes políticos tenham perdido qualidade. Era inevitável. Era um grupo que devia apenas seguir o que se decidia em Bruxelas, não era preciso mais. Agora, vamos atravessar um processo dramático onde vão aparecer muitos falsos profetas mas em que o nível vai mesmo ter de acabar por subir. Imagino que sim."
Cara Susana Toscano
O Prof Félix Ribeiro é uma das mentes menos estimadas do nosso país, o que não me surpreende, dado que esta e a anterior geração claramente, sacrificou o imediato ao estratégico.
Além de apreciar, tenho a honra de conhecer o Prof e, como se passa muitas vezes, concordar com o resultado e divergir na fundamentação.
Na entrevista discordo da fundamentação quanto ao comportamento da Alemanha: estamos em presença de uma luta há muito adiada, adiada por causa da luta contra o regime soviético, é a luta entre o capitalismo renano e o anglo saxónio; o modelo de liberdade individual e o modelo liberdade colectiva. A regulação ante e a regulação durante.
A nossa reacção à crise é um modelo acabado do resultado da captura dos mecanismos e instrumentos do estado por grupos em particular; o PM é um mero porta voz desses interesses.
Nesta óptica, as recentes "boutades" do nosso PM eleito ficam explicadas.
Ou já nos esquecemos do momento "Oliveira da Figueira" durante a cimeira Ibero Americana, quando no nosso amado líder "promoveu" o Magalhães?
Foi mais do que amável quanto à qualidade dos nossos políticos, isso não pode elidir a responsabilidade que, a nossa sociedade como um todo, tem.
Ainda bem que começaram a dar importância ao Prof, mesmo que seja em época serôdia, nunca será tarde.
Cumprimentos
João
Cara Suzana,
Já tinha lido a entrevista e também achei notável. O meu primeiro emprego foi no ainda DCP de que Dr. Félix Ribeiro era sub-director geral; a directora geral era a Dr. Alda de Carvalho - pessoa também de grande valor e que agora está à frente do INE.
O Dr. Félix Ribeiro sempre trabalhou em torno da elaboração de cenários...pouca gente lhe prestava atenção, pois vivia-se numa mentalidade do tipo "Fim da História" de Fukuyama, em que tudo parecia pre-determinado e para o bem. Mas desde o 9/11 e principalmente desde a crise financeira, que a sociedade foi obrigada a mudar de frequência e a dar ouvidos a homens com a visão e inteligência do Dr. Félix Ribeiro. Irrita-me essa falta de capacidade da nossa sociedade em dar valor ao que temos de bom fora do futebol e do fado.
Considero o Dr. Félix Ribeiro uma das mentes brilhantes deste país. Como economista é das pessoas que mais sabe, ou mesmo a que mais sabe, da economia portuguesa.
Não concordo com todas as análises e cenários que faz, mas tem muitos muito bem conseguidos e que poderiam alterar qualitativamente a economia deste país.
Não é um economista folclórico, como a grande maioria dos professores mediáticos, mas é economista profundo.
Lamentavelmente, não teve a influência que merecia e que devia ter tido no Ministério a que pertencia. Infelizmente, as vistas curtas dos Ministros que por lá passaram não o conseguiram lobrigar.
Mesmo não sendo uma pessoa vulgar e com os seus devaneios poético-económicos....
O que só o valoriza.
No tempo em que o Estado ainda tinha quem estudasse e pensasse nas coisas com seriedade, os chamados gabinetes de estudo que forneciam matéria suficiente para os políticos pelo menos saberem avaliar as suas decisões, pessoas como Felix Ribeiro eram respeitadas e ouvidas. Como ele próprio diz na entrevista, muitos dos estudos do DPP foram feitos por ele e agora se calhar preferiam que não tivessem sido feitos. Com uma rara descrição e elegância, a entrevista deixa perceber muitas perplexidades.
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