Há gente cuja soberba tolda a avaliação, mesmo das realidades aparentemente mais óbvias. É o caso da Srª Elena Salgado, ministra da economia do governo espanhol.
Até poder, a Srª Salgado teimou que a resposta despesista aos efeitos da crise era a política correcta; só muito relutantemente “acedeu” às exigências do mercado de consolidação orçamental. Acontece que o esforço efectivamente feito nesse sentido contribui – em conjunto com os resultados particularmente favoráveis dos stress tests dos bancos espanhóis – para uma redução muito significativa dos prémios de risco implícitos nas cotações da dívida soberana de Espanha. Como resultado, o serviço da dívida pública reduziu-se, criando uma inesperada “folga” orçamental – uma espécie de prémio de bom comportamento que ajuda a promover uma normalização mais rápida da situação económica muito delicada que ainda afecta os nossos vizinhos.
Como é que a Srª Salgado reage ao sucesso da sua própria (ainda que imposta) política? Invertendo-a; propondo retomar os planos de despesa pública anteriormente eliminados no âmbito do exercício de racionalização orçamental que foi feito, precisamente, para acalmar os mercados financeiros – dos quais Espanha necessita para financiar a sua dívida crescente; é bom não esquecer.
A tentação de mais despesa em situações de aperto é o que ocorre a quem vê na poupança, não uma virtude, mas um desperdício; sobretudo em tratando-se de dinheiro de outros. Acontece que os mercados “estão encostados às tábuas” e dificilmente se deixarão tourear com chicuelinas sem arte nem novidade.
3 comentários:
Caro JMBrandão de Brito:
Pois é, a Madame serviu veneno e o doente definhou. Depois, alguém atento receitou um antídoto e o doente arribou.
Como arribou, já pode ingerir mais veneno.
As ideologias que vêem na despesa pública a virtude suprema, qualquer que seja o tempo, o lugar ou o modo, não têm emenda.
Pior que tudo, são sustentadas em grandes universidades e por muita comunicação social. Contra todas as evidências e contra todas as demonstrações.
Mas lá porventura menos do que por cá.
Caro Dr. José Maria Brandão de Brito
Com os mercados à espreita, essas tentações não vão longe. Às vezes ter um polícia por perto é a solução!
Caro Dr. Pinho Cardão,
Por cá certamente também teremos assomos de rebeldia orçamental, pois tudo o que o governo foi obrigado a fazer desde Março corresponde exacatamente ao contrário do que promoteu nas eleições passadas. A sorte, como dis a Drª Margarida Corrêa de Aguiar é a presença do polícia, que agora já não se deixa enganar.
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