Confesso que fico intimidado com certos ambientes. Entro na sala e vejo que não conheço muitas das pessoas. A minha primeira reação é tentar passar despercebido como se isso fosse muito difícil. Foi o que fiz hoje. Fui convidado para a apresentação de um livro. Entrei na sala e vejo que não conheço muitas pessoas. Vi o autor atafegado como seria de esperar; também vi dois colegas facilmente reconhecíveis pelo formato e cor das cabeças, mas como estavam muito à frente não os importunei. Procurei uma cadeira numa das últimas filas e fiquei todo satisfeito com a companhia de um amigo que se prestou sentar-se a meu lado. Senti o seu conforto, a sua educação e, sobretudo, o elogio a uma das minhas filhas. De facto, pensei, só por isto valeu a pena ter vindo, sem desprimor para a essência da cerimónia. Em seguida a sala ficou repleta. A cerimónia começou a engrenar e eu passei a ouvir os intervenientes com muita atenção. Gosto imenso de saber o que é que os outros pensam e como transmitem as suas emoções, vivências e experiências. Mesmo assim fiquei mais uma vez intimidado. Desta feita fui invadido por um estranho arrepio de medo. Não era capaz de expor as minhas ideias e escritos perante aquela assembleia. Pensei, o melhor é ficar calado e não me expor. Não tenho coragem para botar faladura sobre aquilo que escrevo. E não sou peco em falar, mas aquelas pessoas, que eu não conheço, intimidavam-me. O que é elas iriam pensar se tivesse o atrevimento de lhes falar sobre o que penso ou escrevo? Um receio natural e espontâneo. Depois, à medida que ia ouvindo falar o autor e os apresentadores, comecei a abstrair-me da presença dos desconhecidos e a aprender coisas interessantes. Adoro saber. Adoro beber boas ideias e digerir com tranquilidade interessantes e profundos pensamentos. É o meu mundo, confesso, um mundo muito pessoal que nasce e morre todos os dias na minha mente. Assusto-me com os outros e entusiasmo-me com o que imagino e penso. Aprendi? Sim, aprendi. Apetece-me fazer inveja aos que irão, eventualmente, ler este texto, consegui memorizar tudo, digo mesmo tudo, algo impensável quando era mais novo. Não sei o que se passa com os meus neurónios, devem andar desaustinados, não obedecem a nada, pensam, registam, memorizam e criam novos espetáculos como saltibancos enlouquecidos, bêbados de fantasia e crentes numa estranha harmonia. Não importa se concordo ou não com o que foi dito, o que importa é saber e conhecer como os outros pensam e transmitem os seus saberes. Eu gosto mesmo é de aprender, mas também gosto de ensinar, o pior é ter, um dia destes, de falar para gente desconhecida. Eu já falei imensas vezes sem qualquer problema para gente que não conheço. Falar de coisas que eu sei, de coisas que eu domino é muito diferente do que falar o que a alma sente. Por enquanto prefiro escrever na minha confortável mudez. Sou um atoleimado? Às tantas até sou…
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