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sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Será que Greespan sempre tinha razão?


1.    Poucos dias antes das eleições nos EUA, o reputado “guru” e antigo presidente da Reserva Federal (durante 17 anos), Alan Greespan, antecipava que dentre de pouco tempo as taxas de juro implícitas da dívida americana no prazo de 10 anos (yields) atingiriam um nível próximo de 5%, impulsionadas pela subida da inflação para um patamar superior a 2%.

2.     Convém notar que essa mesma "yield" atingiu em meados deste ano 1,32% (mínimo histórico) e que, na data em que Greespan proferiu tal previsão se situava em 1,83%, estando agora em torno de 2,10%.

3.    Greespan não considerou o efeito das eleições americanas, talvez porque estivesse convencido da vitória de H. Clinton.

4.     Agora que caiu o pano sobre as eleições americanas – apesar dos justos protestos da esquerda dita progressista que, lá como cá, só valida veredictos populares quando se traduzem na escolha de candidatos rotulados de “esquerda” – o cenário avançado por Greespan aparece com probabilidade reforçada, e não apenas pela esperada subida das taxas de juro directoras do FED.

5.     Com efeito, se o novo Presidente americano levar por diante os seus propósitos de promover um amplo programa de investimentos na recuperação de infraestruturas públicas – uma opção claramente liberal (à europeia) e de direitas radical, cumpre reconhecer – o mais provável é que esse programa implique um forte recurso à emissão de dívida pública, colocando pressão adicional sobre as taxas de juro, ao mesmo tempo que impulsionará a inflação.

6.     Neste provável cenário, a Europa, e a zona Euro em especial, serão colocadas perante um desafio, pois a subida da remuneração dos activos expressos em Dólares afastará os investidores do Euro, alimentará uma tendência de depreciação do Euro (já iniciada, aliás) e ajudará à subida da inflação mais cedo do que o esperado.

7.     Se assim for, e esse cenário afigura-se muito plausível, o BCE deverá ser obrigado a revêr a sua política altamente acomodatícia, provocando uma subida das taxas de juro (já iniciada, também).

8.       Poderemos pois vir a concluir que Greespan estava certo, quando enunciou a sua profecia.

5 comentários:

Suzana Toscano disse...

Caro Tavares Moreira, realmente os "protestos" a que assistimos parece que resultam de Trump "incitar à violência" como ouvi a uma jovem protestante democrata. E como diz no seu ponto 4., e vão continuar assim, irritando cada vez mais quem não pensa como eles até que só mesmo um brutamontes que fala como um básico se dispor a ridicularizá-los no seu próprio terreno. Depois a culpa e dos outros.

Carlos Sério disse...

E eu que pensava que a promoção de "um amplo programa de investimentos na recuperação de infraestruturas públicas" eram políticas de cariz Keynesiano?

Tavares Moreira disse...

Cara Suzana,

Não posso deixar de concordar com o seu comentário: para estes magníficos "protestantes" parece que em democracia só existe uma escolha, aquela que lhes agrada! Que indigência democrática!

Asam disse...

Vamos fazer votos para que a "profecia" não se concretize. O estado actual das contas públicas não aguenta qualquer abanão.

Pegando nas palavras da Cara Suzana Toscano, havia um brutamontes e um mestre aldrabão. Este último ficou pelo caminho e fez de tudo para descredibilizar a colega de partido. Ele, que nada fez contra as armas, que favoreceu leis anti imigração e fez culto de personalidade. Mas para o nível de formação bacoco (há um vídeo muito engraçado) de muitos dos seus apoiantes serviu.

Relativamente aos protestos, é o costume. É o resultado da globalização da contestação violenta por grupos similares/associados ao bloco de esquerda. Nada de novo. No caso presente, ainda não foi desta que exportaram o maravilhoso socialismo para aqueles lados.

Por cá foi o discurso preconceituoso. São estes os verdadeiros conservadores.

Tavares Moreira disse...

Caro Alberto Sampaio,

Relativamente à profecia, cabe perguntar: mas não é mais inflação aquilo que os bancos centrais - FED e BCE, seguramente - têm como alvo?
Havendo mais inflação, os juros terão necessariamente de subir.
Adicionalmente, no caso dos EUA, mais dívida implicará juros mais elevados, o financiamento não faltará...
Quanto ao restante de seu comentário, inteiramente de acordo.