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terça-feira, 22 de maio de 2018

"Colo"...

A arte de viver não é para principiantes. As crianças cedo se apercebem da sua fragilidade. Tentam compreender o mundo com o seu pobre léxico e experiências ingénuas. São frequentes as situações conflituosas e inesperadas capazes de sacudir com violência as delicadas fibras de uma alma que não consegue compreender o que a cerca. Violência difícil de entender para quem acabou de nascer. Palavras sem nexo, agressivas, que caem como se fossem volumosas bolas de saraiva vindas de um céu longínquo. Dor de uma agressão fruto da falta de razão. Ameaça permanente e surda de quem as devia proteger. O assustar de um inferno traduzido em dor e sofrimento sem qualquer pudor. A fragilidade de uma criança é a coisa mais amorosa do mundo. Inocente e frágil sente que está a mais do que o tão falado Jesus, não o da Cruz, mas o pequenino, o lindo, o bendito, o carinhoso e suave menino que ri e canta sem sentido como qualquer criança. Treme de medo perante ameaças que não compreende. Ameaças da voz, dos esgares de faces diabólicas, dos trejeitos parvos e agressivos, da maldade que cresce como as ervas daninhas em seres semelhantes a si mesmo. Ameaças que leva qualquer criança a fugir à procura do colo, quente, doce e feliz, que nunca mais se esquece. Mergulha num abraço sem som, beleza ímpar. Sente desejo de retornar ao seu nascer para adormecer no seio de quem um dia a fez viver. Sonho de criança, sonho de um ser que sente a falta do abraço e da confiança do único ser que a compreende, no colo de sua mãe. O colo da mãe é o melhor lugar para qualquer um desafiar a ameaça da falsa eternidade.
Não há calor igual, não há abraço capaz de substituir aquele que recordamos sem lembrar, mas que está sempre presente nas janelas das nossas almas que olha muitas vezes para o mundo cheio de dor e de tristeza. O verdadeiro futuro está no abraço de um passado único, morno, suave e cheio de paz. Uma espécie de promessa de alguém que um dia gostaria de encontrar e perguntar-lhe: - Lembras-te dos abraços da tua mãe em pequeno? Lembras-te de quando ela te pegou depois de desceres da Cruz? Sentes, não sentes? Claro que sim!
Viver na eternidade é mergulhar no colo de sua mãe.

2 comentários:

Suzana Toscano disse...

Sim, uma beleza ilustrada neste feliz regresso ao 4r. Mas tenho um protesto a fazer, caro amigo, então é o colo da avó? E do avô? Temos que abrir a secção dos avós :)) um grande abraço

Massano Cardoso disse...


É a mesma coisa, mas a beleza e a ternura femininas são mais apelativad. A Natureza é feminina, e ainda bem!