Consigo recordar com facilidade algumas histórias e historietas da noite de São João. Não sei qual a que devo escolher, se a do meu tio Manel, a quem ajudei a construir um balão durante a tarde em casa da minha avó, e que à noite, na ponte da praça, ardeu a pouco mais de três metros do solo – chorei ranho e baba -, se os saltos que um dia dei sobre uma fogueira em que tropecei e me chamusquei. Nada de especial.
A noite para as minhas bandas esteve “solenemente” silenciosa. Consegui ouvir ao longe um latido ou outro, talvez algum cão saudoso do São João.
Fui a uma vitrina e tirei o único São João que anda por aqui. Gosto deste São João. Tosco, foi feito por um pintor de construção civil que conheci e cheguei a tratar há muitos anos. Gostava de fazer santos. Este foi-me oferecido pelos familiares. Tenho muito apreço e admiração pelos santeiros. Este São João tem algo de especial. Deve ter sido feito com muito amor e devoção. Foi o “Borrabotas” que o executou. Os apodos na minha terra não são considerados como um insulto e nem sinónimo de humilhação, talvez alguma forma de “consagração”.
Conta-se a história de que um dia, no decurso de uma procissão, em que todos se ajoelhavam à passagem dos santos, o “Borrabotas” não se ajoelhou perante um. Foi o único. Ficaram a olhar surpreendidos para a situação. Depois da passagem perguntaram-lhe por que razão não se ajoelhou à passagem daquele santo. – Era o que mais faltava! Fui eu que o fiz. Ajoelhar-me ao gajo? Era o que mais me faltava. Claro que não foi este. De qualquer modo coloco aqui a sua imagem, significado, beleza e o sentimento de um criador apreciador do São João.
Este é o meu São João que me faz recordar o passado com alguma emoção.
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