Uma das possíveis razões para a identificação “populista” dos candidatos do Bando dos Quatro é o apoio manifesto que usufruem nos seus concelhos por parte das camadas populares. Os mais puristas não compreendem como alguém com processos na justiça, que se apresentam contra os seus anteriores partidos e que têm contra si todos os restantes partidos políticos, conseguem mesmo assim aparecer nas sondagens como os melhor posicionados para vencerem (alguns folgadamente) as próximas eleições autárquicas.
Quanto mais os órgãos de comunicação social, o sistema judicial e as estruturas partidárias nacionais, teimarem em desenvolver campanhas de descredibilização desses candidatos maior apoio eles recolherão. O candidato que não se verga perante essas campanhas acaba por despertar a simpatia e o apoio das camadas populares. As campanhas negativas resultam precisamente ao contrário da intenção de quem desencadeia a campanha.
Um dos traços mais marcantes da cultura cívica dos portugueses é a sua dimensão paroquial, localista, de comunhão de interesses em torno da “terra”, da união com os que “são de cá” contra os estranhos que “lá de cima” nos tentam impor a sua vontade. Esses populares têm mais confiança em quem partilha o seu quotidiano, a quem podem chegar e expor os seus problemas, a quem devem a atenção de um aperto de mão ou a cumplicidade de um primo, um tio ou um filho que com eles priva.
Esses mesmos populares desconfiam das campanhas orquestradas entre jornalistas, magistrados e a elite política que lhes são estranhos. Desconfiam dos ataques sem rosto. Mais do que a confiança nas instituições, para eles conta a confiança pessoal.
Quem não percebe estas reacções bem pode invocar o populismo que de pouco lhes servirá para compreender a natureza desse “povo” que todos invocam.
(A continuar, os comentários serão abertos na última nota)