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terça-feira, 4 de abril de 2006

Jet lag social


Os organismos são dotados de relógios internos, biológicos, que condicionam a fisiologia. O mais conhecido de todos é o que impõe o ritmo sono-vigília. Dormir de noite e trabalhar de dia parece ser uma verdade incontestável.
Todos necessitamos de dormir (uns mais, outros menos) e é, sobretudo, durante a noite que satisfazemos esta necessidade vital. Mas as coisas não são tão simples como isso. Se a grande maioria dos seres humanos prefere dormir entre a meia-noite, meia-noite e meia e as 8 h, 8:30 h, também existem muitos outros que optam entrar pela noite dentro como se fosse dia além dos adeptos do ritmo das galinhas. As diferenças são notórias e alteram-se ao longo da própria existência de cada um, basta ver o que acontece às pessoas de mais idade que, necessitando dormir menos, acordam cada vez mais cedo, em perfeito contraste quando eram jovens, altura em que chegavam a tomar o pequeno-almoço ou o almoço à hora do lanche.
Como não podemos (excepto alguns) respeitar, sempre, as ordens do nosso interior, já que temos de cumprir os horários, escolares e do trabalho, acontece que, para muitos, ocorre um desajustamento entre as necessidades laborais e as características individuais. Assim, levantar cedo para ir trabalhar quando o “corpo pede cama” não dá bom resultado! Muitas vezes o trabalhador só atinge o seu máximo no momento de despegar do trabalho. A este desajustamento, entre o relógio biológico e as capacidades laborais, foi atribuído a designação de jet lag social, por analogia com o que acontece quando se viaja por esse mundo fora ao atravessar vários fusos horários.
A propósito do jet lag social, uma investigação recente revelou que a apetência para começar a fumar ocorre mais nos que têm necessidade de se levantar muito cedo. Parece que o tabaco funciona como um estimulante ao contrariar o raio do relógio que, para muitos, anda sempre atrasado. Quanto mais atrasado andar maior é a probabilidade de ser fumador. Face a este achado, são necessários mais estudos a fim de saber se, por exemplo, o cigarrito é ou não eficaz para acertar os “rolex internos”, sobretudo, dos portugueses que devem ser “falsos”, claro está!
Mas o melhor é a proposta feita por alguns, que é, nem mais nem menos, ajustar os horários escolares e de trabalho a cada cidadão. Sendo assim, se o relógio biológico de um menino estiver, por exemplo, programado para despertar às 3 da tarde, então, as aulas só deveriam começar lá pelas 4, mas se o menino acordar antes do galo as suas actividades teriam de iniciar-se pelas 6 da matina! Quanto aos trabalhadores teria de haver uma maior flexibilização dos horários de trabalho. Deste modo, um candidato, na sua primeira entrevista, deveria advertir o empregador que, para dar o seu melhor, só pode começar a trabalhar lá para o fim da tarde, porque o seu ritmo circadiano assim o exige, mas, também não está na disposição de fumar, para contrariar esta tendência, porque o tabaco faz mal à saúde…

8 comentários:

Anthrax disse...

À saúde e à carteira!

Por outro lado, deixar de fumar, também faz mal à saúde e à carteira, logo, em qual é que é suposto ficarmos?

Passo a explicar, quando uma pessoa deixa de fumar, engorda. Engorda porque tem fome, se tem fome, tem de comer, mas como a fome é constante, tem de estar sempre (bom, ou quase sempre), a comer. Se come, gasta dinheiro.

Mas a coisa não fica por aí, porque se está sempre a comer e engorda, corre o risco de ficar obeso e se fica obeso, tem excesso de peso. Se tem excesso de peso, tem mais probabilidades de ter um avc (ou lá como se chama, mas que também já tinha enquanto fumava). Para além disso, o excesso de peso é inestético, logo tem de fazer dieta, mas como não se podem fazer dietas à maluca, tem de ser uma dieta acompanhada por um médico. Por último, estes que por norma, não são funcionários da Santa Casa da Misericórdia, nem patrocinados pela Segurança Social e muito menos vivem do ar, fazem-se se pagar e lá entramos nós em despesas.

Isto é um dilema complicado.

Massano Cardoso disse...

É mesmo Anthrax!

Eu não devia dizer isto, porque pode ser mal utilizado, mas a obesidade em Portugal é uma drama, sobretudo no sexo feminino, e, através de vários estudos que coordenei ultimamente, não há qualquer espécie de dúvida, os fumadores são mesmo menos obesos do que os que nunca fumaram e então em relação aos ex-fumadores nem se fala... Mas não faça uso deste achado! O risco de adoecer gravemente devido ao tabaco continua a ser superior aos múltiplos efeitos da obesidade (hipertensão, diabetes, hipercolesterolemia, etc...)

Tonibler disse...

Isto explica porque eu, sujeito capaz de trabalhar ininterruptamente 24 horas (trabalhar mesmo, sem tirar os olhos do computador por 5 min., sem comer e a fornecerem-me copos de água e cafés), agora dá-me o sono às 4 da tarde! E café não resolve! É abstinência do tabaco!

Eu tive um colega chinês, em tempos remotos, que tinha o sacro-santo hábito de bater uma sesta. Podia estar o mundo a cair à volta dele, ele prescindia da hora de almoço e dormia uma sesta sagrada em cima da secretária.

A proposta da sesta parece-me mais aceitável em concertação social...

Anthrax disse...

Pois é caro Professor... eu bem sei o que digo porque já deixei de fumar uma vez, que tristeza... eu que nem gosto de bolos, até bolos comia! Tinha tanta fominha... 10 meses e 10 kilos depois, mudei de ideias e regressei ao vício. E o pior é que nem me custou largar os cigarritos, agora a parte de parecer uma lontra é que eu já não gostei.

just-in-time disse...

Caros Prof. Massano Cardoso e comentadores
O conceito de jetlag social nunca me tinha ocorrido!
Em vez disso, já me perguntei muitas vezes porque é que os dorminhocos não acertam o relógio pela hora de Moscovo e, assim, acabávamos com o desperdício económico dos horários flexíveis?
Também é verdade que os meus moscovitas me podiam mandar acertar o relógio por Nova Iorque...
Quanto ao cigarrinho e aos quilos a mais, não será porque os hábitos não se eliminam, antes se substituem e os substitutos são sempre altamente calóricos?

Suzana Toscano disse...

Ora aqui está um posr revolucinário! De uma penada, o meu estimado amigo, em cuja opinião científica confio sem reserva, justifica dois hábitos que não há meio de eu corrigir: um, o de me levantar tarde sempre que posso, sou grande adepta do "deitar tarde e tarde erguer", e não me considero preguiçosa,é uma questão de ritmo biológico, de facto. E isso explica os cigarros, porque a regra, desgraçadamente, é a de levantar cedo (embora se mantenha a de deitar tarde, com a ajuda do 4R :)

trainzeiro disse...

Trabalhar 24 horas seguidas ?
Só se eu fosse maluco !
A título de quê, fazer um esforço desses ?
Ah! já me esquecia, só se fosse trabalhador chinês na China "comunista".
Ai, esta memória !
Depois digam que o liberalismo é que é bom !

Tonibler disse...

Caro(a) bota:

É fácil dizer que se o seu emprego depender disso, então não o faz. É simplesmente dispensado(a). Se acrescentar que depende o seu e mais dois ou três, então é irresponsabilidade não o fazer.

Claro que ao fim do dia, há os que fazem e os que não fazem. Quer saber de quem é que não me esqueço e quem já não me importo se se recorda ou não?