Número total de visualizações de páginas

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Ainda a estória do lobo e da estrada

Os dois últimos posts do Pinho Cardão suscitam uma discussão a que não consigo ficar alheio.
Dificilmente se consegue olhar para as questões levantadas nessas notas de uma forma desapaixonada. Sobretudo agora, em tempo de vacas magras, em que qualquer cêntimo de gasto público é bem mais atenta e severamente escrutinado do que em ocasiões de maior desafogo.
Nessa exacta medida, ainda bem que assim é.
Mas como é que nos habituámos a ver ponderadas estas questões?
De um lado estão alguns movimentos ambientalistas animados pela ânsia de protagonismo de alguns dos seus dirigentes, com os seus fundamentalismos que nada têm de generoso.
De outro lado aqueles que acham que é "politicamente correcto", mas até por isso profundamente errado, prosseguir políticas que levem em conta o interesse para o desenvolvimento do País da preservação do ambiente e a garantia da perenidade dos nossos stocks biológicos.
Enquanto se olhar para estes problemas achando que ou se tem estar de um lado ou deve estar no outro, o contributo para se evitar erros como este será nenhum.
Li os comentários que o post do lobos suscitou. Não me surpreende que logo tenha sido misturado com o assunto o SATU, o Dia Nacional do Cão e mais sei lá o quê.
Não vou mais, aqui, insistir naquilo que me parece ser o grande problema das decisões políticas e administrativas onde se interferem questões de natureza ambiental que deveriam funcionar como pressuposto (como muitos outros). Sinto-me nessa matéria com Santo António, pregando para os peixinhos. Sei quando devo guardar para mim opiniões que não têm condições de serem sequer discutidas. Pode ser que um dia tenham condição para medrar.
Seja como for, dou ao Pinho Cardão incondicional razão num ponto. É absolutamente escandaloso que se onere com esta brutalidade de milhões (do nosso bolso), uma obra pública, sobretudo quando tudo se passa em Trás-os-Montes, região para onde nunca sobejou dinheiro que garantisse aos poucos que lá continuam a viver uma melhor qualidade de vida. O dinheiro nunca ali chegou, de facto, nem mesmo para as compensações devidas por lei a quem sente a infelicidade de viver numa das áreas protegidas (Montesinho, Alvão, Douro Internacional, parte da Peneda-Gerês) e vê actividades tradicionais de sustento proibidas e condicionadas pelo interesse geral da protecção de espécies e habitats.
Dito isto, tenho de afirmar a minha discordância frontal quando se pretende que a razão do despesismo está nos lobos, dando a entender que a sua preservação é cuidado de lunáticos! Sem demagogia, a responsabilidade pelo despesismo deve ser atribuída áqueles que tomaram a decisão de aprovação de um projecto e da adjudicação de uma concessão rodoviária, preferindo um corredor que colidia com um habitat prioritário.
O habitat do lobo não é objecto de protecção só em Portugal. Nem o é por capricho de uns tantos. É-o por determinação de uma lei de 1990 (o Decreto-Lei n.º 139/90 de 27-04-1990), aprovada por um governo em que era Primeiro Ministro o Professor Cavaco Silva.
A transposição da Directiva Habitats vai com mais de 7 anos. E Portugal tem tido uma experiência de contencioso comunitário por razões ligadas a questões ambientais que lhe deveria dar, pelo menos, a noção do que se não deve fazer.
Neste quadro, como é possível acontecer o caso que o Pinho Cardão relata no post? Pode parecer inconcebível, mas é possível e está à vista. É-o porque temos uma Administração incompetente e incapaz de conjugar e harmonizar valores. Reflexo, afinal, de um País, como todos os dias por diversas manifestações se percebe, fortemente maniqueísta.
E mais não ponho na carta, ainda que me apeteça...

8 comentários:

RuiVasco disse...

Para preservar a vida neste planeta
ai de nós, se não estamos atentos, cada minuto. É mais grave o lobo que a quantidades de ar que respiramos, diariamente, nas nossas cidades, dos escapes de ligeiros e autocarros, alguns do Estado ou de camaras Municipais? Alguem vê controle sobre isso?
Como dizem o problema é a sede de protagonismo e o fundamentalismo. Completamente de acordo com PCardão.
Parece que o PSD repensou o dia do Cão. Foi equivoco.
Já agora caro Ferreira de Almeida preserve-se também o S.to Antonio, que até dá feriado em Lisboa. Onde falava ele aos peixes não. Espero que não na saída daqueles esgotos ali no Tejo, junto a zona pedonal logo a seguir à Ponte.

Anónimo disse...

Pois foi caro RuiVasco. Enganei-me no santo!
Já está reparado com pedido de desculpas pelo equívoco enviadas directamente lá para cima. Parece que o próprio perdoou. Ao que parece por intercepção do próprio S. Francisco.
Obrigado pela simpatia do aviso...

RuiVasco disse...

O S.to Antonio é um Santo. E o S.Francisco, acredito, tem muita influência.
Só espero que o S.Francisco não estivesse sob escuta, na sua intercepção por si! De contráro lá vem mais um envelope: o 119 por exemplo. Coitado do Souto, quer dizer, do Couto...(há que disfarçar para eles não perceberem, pois aquilo não é só escutas. Soube, hoje, que tb há leituras em casos suspeitos!)

Anónimo disse...

Arre! Hoje não acerto uma! É o que faz escrever à pressa e sem rever...
Onde no meu comentário se lê "intercepção" deve ler-se, como é óbvio,
"intercessão"...
As minhas desculpas mais uma vez.

Tonibler disse...

Ufa! Estava a ver que ninguém apontava que o mal estava na estrada ser inviável. 100% de acordo, caro JMFA.

RuiVasco disse...

Caro PCardão:
Tresleu, é um facto. Mas nada grave, não fique a "magicar" nisso. Espero que não seja hipocondríaco. Foi, só, resultado de hoje se ter levantado mais cedo, para ir até à praia, de saco, guarda sol e cadeira desdobrável. E Pic nic na dita praia.
O FA falou de S.Francisco a pregar ao peixes. Parece que, antes de eu lhe chamar a atençao para preservar o nosso S.to Antonio, já recebera um santificado protesto,lá de cima, infinitamente mais misericordioso que o meu. O FA humildemente reconheceu a falha e pediu o devido perdão. De tal troca de mensagens veio aqui dar conhecimento. Penso que a infelicidade de FA, na troca de nome surgiu numa péssima altura poderia provocar um "acidente diplomático" com prejuizos graves. Está aproximar-se o dia do dito Santo Antonio que vai oferecer a Lisboa mais uma bela e alargada ponte de produtividade, de que tanto o Pais carece.
Na Adm. pública gostaria de ver o nº de 2 dias de férias, um dia de férias e uma dispensa ao abrigo do artigo nº 23, ou qq nº conforme o organismo, uma gripe inesperada que cura na 5ª feira, entre outros.
PCardão já agora não bata mais no ceguinho. Aproveito para chamar a atenção que o PSD já revelou haver um qq equivoco. Não vai haver dia do Cão, conforme escreveu noutro post -hoje, lá está, olhinhos a meio gás!
Coitaditos dos bichos. Mais uns que vão dizer que "os politicos prometem e não cumprem".

Carlos Sério disse...

Têm toda a razão o P.Cardão e o F.Almeida em alertarem para estes casos de estupidez mais do que fanatismo ecológico, e que saiem tão caros aos bolsos dos contribuintes.
Pena é que não possa ser dado mais destaque a este assunto. Já agora porque não um alerta na Assembleia da Républica? É que os casos são mais que muitos. O sublanço Carregueiro/Tomar do IC9 em construção, teve as obras paradas cerca de um mês em virtude de um rato, o "rato Cabrera", ao que se diz raro e encontrar-se em extinção. Mas não ficam por aqui os custos adicionais a esta via. Só agora se aperceberam que o seu traçado vai atravessar um montado de sobreiros pelo que a obra irá parar até se definir um novo traçado. Creio que foi a Quercos que levantou agora a questão.
Mas então, os senhores projectistas não sabem as limitações ecológicas a que o traçado das vias deverá obedecer? Ou fazem os projectos no gabinete sem uma deslocação aos locais.
Quem suporta todos estes custos? Não há responsáveis?

Anónimo disse...

Caro LMSP:
Para abreviar razões, subscrevo por inteiro o seu comentário.
O que no post escrevi não foi que se deveriam responsabilizar os técnicos, mas uma Administração que dá mostras de incompetência quando decidiu do traçado sem que no procedimento conducente á aprovação tenham sido envolvidos, em relação dialógica, todos os interesses PÚBLICOS.