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quinta-feira, 8 de junho de 2006

Sorte!

Três factos levaram-me a escrever sobre a sorte. Domingo, quando fui comprar o jornal, para ler na esplanada da ponte da praça, ouvi um jovem a comentar para outro - o vendedor - enquanto folheava uma revista com a fotografia de Cristiano Ronaldo na capa, o seguinte: - Há gajos com muita sorte! A frase não tem nada de especial, mas a forma como foi dita é que me chamou a atenção. Uma sentida tristeza comungada pelo outro, como quem diz, por que não fui eu o bafejado?

Curiosamente, na semana anterior, na capa da revista que acompanhava o jornal, figurava Ronaldinho como o melhor jogador do mundo. O que me chamou a atenção foi a explicação do brasileiro, ao atribuir a Deus esse dom! Reacção típica dos que vêm daquele lado do Atlântico, claro está. Pensei logo, como é que Deus, há 13,7 mil milhões de anos atrás, num acesso de explosão singular, se lembrou de criar um novo Universo e prever que, passado todo esse tempo, havia de dotar um brasileiro de capacidades futebolísticas fora de série e ainda por cima bafejar pela "sorte" um ilhéu que nos dois últimos jogos mostrou ser um verdadeiro trauliteiro?

Sorte! É um estado de espírito, ou existe mesmo? Uma universidade britânica desenvolveu um "Laboratório da Sorte". Os investigadores recrutaram várias centenas de pessoas as quais compraram bilhetes de lotaria. Os auto-intitulados "sortudos" manifestavam duas vezes mais confiança em ganhar relativamente aos que se consideravam como "azarentos". No final não houve quaisquer diferenças em termos de ganhos na lotaria. De qualquer modo, os diferentes questionários aplicados revelaram que as pessoas que se consideravam como tendo sorte eram mais felizes, mais extrovertidas, mais abertas, menos neuróticas, não havendo diferenças quanto a serem mais conscienciosas ou simpáticas face aos sem sorte ou aos neutros. Mas a lista não fica por aqui, porque têm, também, mais contactos, riem-se mais, são menos ansiosas, aproveitam mais as oportunidades, aderem mais facilmente a novas experiências, viajam mais, transformam "azares" em "sorte", enfim um longo rosário de diferenças…

Todos os dias ouvimos, vezes sem conta, falar de sorte ou da sua falta, como se tudo estivesse predestinado. Há também, um grupo de espertos que contestam este determinismo, mas não pelas melhores razões, ao afirmarem que a "sorte dá muito trabalho"! Claro que, neste caso, entram em jogo outros factores, que não estão previstos na teoria das probabilidades. E, em Portugal, há um verdadeiro contingente capaz de testemunhar esta frase.

Não partilhando dos "construtores da sorte", que infelizmente abundam por aí, e vão dando cabo do país, nem advogando os ditos "eleitos de Deus", o melhor é explicar aos "sem sorte", aos neutros e aos invejosos que a sorte é um estado de espírito que pode ser cultivado pela grande maioria.

Michael Shermer, num excelente editorial, "As Luck Would Have It" (Scientific American), citou o exemplo de Stephen W. Hawking que escreveu o seguinte: "Tive sorte em ter escolhido a física teórica, uma das poucas áreas, em que a minha situação não é um grande problema".

Exemplar!

1 comentário:

Anónimo disse...

“A sorte protege os audazes”. Uma divisa militar, uma proposição do bom-senso.
Sem ambição, trabalho e muita vontade podemos ter sorte, mas a probabilidade é infinitamente menor do que quando se tem os referidos atributos. Em regra, tem que se fazer pela sorte. A sorte pura, ao contrário das ciências puras, depende mais da ilusão do que da razão. Mas não há regra sem excepção...
Como alguém disse: “não há vento favorável quando não se conhece o rumo”.
Exemplar “post”, mais uma vez, caro Prof.