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terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Cimeira entre Iguais-Cena final

“Trapezistas andróginos, papagaios alfabetos, palhaços pobres e ricos, tigres amestrados, magos e contorcionostas: há de tudo. Vieram por três dias, a cidade ficou de quarentena e ansioso, o mundo espera por resultados…”
António Barreto, in O circo desceu à cidade-Público de 9 de Dezembro

Por este sétimo capítulo me fico quanto à Cimeira. Os escritos não resultaram de má vontade, mas do vazio encenado como grande espectáculo de ilusórias consequências. E não gosto que me dêem gato por lebre.
Qual foi a Agenda da Cimeira? Ninguém sabe!...
O que é que se discutiu na Cimeira e quem é que falou, para além de Sócrates, Durão, Sarkozy, Merkl? Ninguém sabe!...
Quais as conclusões da Cimeira? Ninguém sabe!...
Sabia-se que o Darfour não fazia parte da Agenda. A comunicação social fartou-se de falar de que se falou no Darfour. Extra Agenda? Ou, como Sócrates disse que não havia temas tabus, surgiu nova Agenda ao sabor das circunstâncias e falou-se anarquicamente de tudo e de nada?
Decorrendo a Cimeira “num clima de grande compreensão e diálogo”, falou-se da possibilidade de um ultimato lançado ao Sudão. Ultimato, em clima de boa vontade!... Mas discutiu-se mesmo o Darfour? E Mugabe? Merkl falou, mas e depois? E não há mais DITADORES em África?
Tristemente, as conclusões, por completamente nulas, foram condensadas no “espírito de Lisboa”. Que, no contexto, significa zero.
No fim, e essa foi a única conclusão visível, mais uns tantos ditadores déspotas e corruptos, com as suas luxuosas comitivas, foram presenteados com generosos fundos europeus.
Tinha razão António Barreto.
Como razão teve Manuel Carvalho, no editorial do Público de 9 de Dezembro:
“…A Europa que se mostrou na Cimeira limitou-se a montar um palco e a contracenar com actores de má fama…”
Onde se exibiram “palhaços pobres e ricos” e protagonistas pobres a querer passar por ricos.
Sócrates quis, por uma vez, ser o protagonista rico da peça.
Aí está o verdadeiro espírito de Lisboa!...

8 comentários:

Bartolomeu disse...

"No fim, e essa foi a única conclusão visível, mais uns tantos ditadores déspotas e corruptos, com as suas luxuosas comitivas, foram presenteados com generosos fundos europeus."
De todas as ambiguidades que envolveram a cimeira, esta, foi no meu entender a mais hipocrita e aquela que retirou às hipotéticas intenções europeis algum pingo de dignidade que pudesse ter sido motivadora da mesma. Isto porque, uma vez que estes fundos se "destinam" a financiar projectos que directa ou indirectamente venham a benificiar as populações daqueles países. Parece-me que, um pouco mal comparado, é como termos um vizinho riquíssimo que tem lá nos fundos do jardim, um cachorro escanzelado a morrer à fome. E porque nós achamos que o cachorro está a ser mal tratado e tem direito à vida,esperamos que o vizinho chegue à sua mansão, no seu mercedes e oferecemos-lhe para ele comprar comida para o cachorro.
Ora, nessa altura o nosso vizinho dirige-nos um sorriso arrogante, pressiona o comando electrónico de abertura automática do portão da mansão, arranca com o mercedes e borrifa-se para nós, para os nossos 50 euros e, com um bocado de sorte ainda manda o jardineiro dar um arraial de cacetada ao cachorro, só porque sim, ou porque não, só porque existe e estás escanzelado e tem 4 patas...

Marco Oliveira disse...

E os bons governantes que aqui estiveram? Porque se fala tão pouco deles?

E quando se fala das injustiças em África, porque é que tudo se resume a Darfur e Zimbabwe? Não há problemas na Somália, no Congo, na Argélia, no Egipto,...?

Tavares Moreira disse...

Pinho Cardão,

Considerando muitos dos comentários de forma tão apurada apresentados nesta notável sucessão de Posts que acaba de editar, qual o motivo de continuar a apelidar de Cimeira este convênio euro-africano?
Não seria mais adequado chamar-lhe Medianeira - ou mesmo Soleira (ao nível do solo)?
Os ingleses, em vez de "summit", chamar-lhe-iam "half way from the ground to the top meeting" ou apenas "ground meeting" ou coisa parecida...
Quer meu Amigo, com seu génio criativo, encontrar a designação mais apropriada?

Pinho Cardão disse...

Caro TMoreira:
Haveria tantas, consoante os ângulos de escolha!...
Ladroeira, Mamadeira, Pedincheira, Choradeira, Taberneira...
Mais?
Inferneira, Panasqueira, Dormideira, Ratoeira...

António Viriato disse...

Caro Pinho Cardão,

Que ficou desta fantástica Cimeira ?

Se me permite acrescentar qualquer coisa à sua justa argumentação, direi que ficou a linguagem hiperbólica, delirante, de Sócrates, qual Narciso, embevecido com a sua própria imagem.

Mas ficou também um particular vexame, com a intolerável actuação intimidatória, para com jornalistas lusos, por parte da segurança líbia, em território português, sublinhe-se.

E essa coisa extraordinária que me pareceu a bandeira hasteada da Líbia, no Forte de S. Julião ! Terei visto mal ? Terá sido autorizado pelo Protocolo ? Caberá no Direito Internacional ?

Os Juristas que nos expliquem o que de facto aconteceu.

Mais uma vez, a retórica dos ditos socialistas, que nem social-democratas chegam a ser, transformou aquilo que protagonizado por outros seria sórdido, por eles é legítimo e um êxito retumbante na aproximação dos Povos dos dois Continentes, mesmo se promovida com interlocutores de mãos tintas de sangue, corruptos até à medula, como sói dizer-se em português chão, à moda de Camilo, que se tal visse, bem os haveria de zurzir.

É preciso falar claro, sem rodeios, de resto, aqui absolutamente descabidos.

Um abraço.

Anónimo disse...

É circo. Há luzes. Há festa. É Natal!

Á de Moura Pina
http://abrasivo.blogs.sapo.pt

Pinho Cardão disse...

Cheio de razão, caro António Viriato!...

André Tavares Moreira disse...

Quanto à cimeira, apelo para verem o fantástico artigo de Miguel Sousa Tavares no Expresso.

Limito-me a citar este fantástico cronista " Vieram a Lisboa par dois banqutes e um concerto com Marisa e Cesária Évora. Os Europeus vieram ver o sol, os africanos vieram ver o mundo e as madames foram Às compras"