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segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

O País do Governo e o "Nosso País" (I)

Das componentes da procura, o investimento tem sido a pedra no sapato do Governo Socialista.

A ténue recuperação económica tem assentado, sobretudo, nas exportações mas, para que o crescimento económico seja mais forte e, especialmente, sustentável e duradouro, não há volta a dar-lhe: só com o investimento tal será possível.

No entanto, a informação que nesta área tem sido conhecida deixa muito a desejar, quer no que toca ao investimento global, quer no investimento estrangeiro. Por mais que o Governo tenha tentado pintar outro cenário.

Vale a pena atentarmos nas declarações do Primeiro-Ministro no debate do Orçamento do Estado para 2008: “(…) só de investimento directo estrangeiro foram, em 2006, EUR 5.2 mil milhões, um aumento de 82% face ao ano anterior. No segundo trimestre de 2007, o investimento já cresceu 1.6% face ao trimestre homólogo (…)”.

Ora, no que diz respeito ao investimento estrangeiro, já na altura, os dados do Banco de Portugal mostravam que, no período de Janeiro a Agosto de 2007, ele tinha descido 26.3% face ao mesmo período de 2006… Um esquecimento conveniente do Primeiro-Ministro, não acha, caro leitor? Mas pior: os dados oficiais entretanto divulgados mostram uma queda homóloga ainda maior nos primeiros 9 meses do ano: 31.5%, que trouxeram o investimento estrangeiro para os níveis de… há 5 anos atrás!

Entretanto, um estudo da conhecida empresa de consultoria Ernst & Young revelou que, face a 2006, triplicou o número de investidores estrangeiros que tem a intenção de se deslocalizar de Portugal: 7% no ano passado contra 20% em 2007. Será porque Portugal está mais atractivo?!…
E quanto ao investimento total, depois de nove trimestres consecutivos em queda em termos homólogos (desde o início de 2005 até ao primeiro trimestre de 2007), no segundo trimestre deste ano entrou-se em território positivo (0.4%), o que, à primeira vista parece ter sido consolidado no terceiro trimestre, em que se registou uma subida homóloga de 4.2%.

Porém, uma análise mais fina dos dados do INE permitem descobrir que o salto no investimento no terceiro trimestre de 2007 tem a ver, essencialmente, com a compra de aviões (o que é pontual) e o crescimento intenso das vendas de veículos ligeiros de passageiros para rent-a-car (associado à alteração, em Julho, da tributação automóvel). Desta forma, nada me surpreenderia se os trimestres que se seguem mostrassem, infelizmente, uma nova regressão do Investimento. E, consequentemente, do crescimento económico, até porque as perspectivas para a Europa e, mesmo a economia mundial, são menos positivas do que há uns meses atrás.

Assim se vê como de um lado se tem o discurso de fantasia do Primeiro-Ministro; do outro os números e os relatórios que mostram uma realidade que, em alguns aspectos, até é mais sombria do que em 2006.

Temos mesmo dois Países: o do Governo, saído de um "conto de fadas", e o "nosso País", em que a realidade é, infelizmente, bem diferente... para pior.

3 comentários:

Tavares Moreira disse...

Caro Miguel Frasquilho,

Podemos pelo menos esperar um acréscimo "musculado" do investimento em estradas para 2008...agora que, segundo o Ministro da pasta na semana passada, essa despesa deixa de ter qualquer impacto no défice orçamental!
Assim, o País será mais próspero, com o crescimento do nº de kms de estrada/habitante e crescerá o emprego de...ucranianos, moldavos, cabo verdeanos, norte africanos e de outros imigrantes.

Anónimo disse...

Não, Miguel, este também não é o "nosso" País. Ambicionamos bem melhor!

Anónimo disse...

O 4R tem, entre outras virtudes, a de disponibilizar informação rigorosa e séria.
Sou gerente de 2 pequenas empresas e contacto com empresas e investidores no dia a dia e a sensação que tenho revela uma dependência enorme do investimento externo.

Este investimento tem as suas flutuações de entradas e saídas de capital e utiliza apenas critérios de rentabilidade. É naturalmente um investimento instável. Cá dentro “secamos” a economia para alimentar a máquina do estado.

Este diagnóstico é óbvio, é um lugar comum, mas quando avançamos para as soluções é que a porca torce o rabo.

Quando saímos deste impasse? Alguém que aponte uma luz ao fundo do buraco.