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sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

O País do Governo e o “Nosso País” (II)

Desde a apresentação do Orçamento do Estado para 2008, em meados de Outubro último, o Governo tem-se desdobrado em declarações sobre a recuperação da economia portuguesa e de como a situação tem vindo a melhorar a olhos vistos. Tentando até, penso eu, aproveitar o facto de a Presidência Portuguesa da União Europeia (que agora termina) ter inegavelmente corrido bem.

Um dos pontos mais altos destas acções de propaganda governamental foi a mensagem de Natal do Primeiro-Ministro do passado dia 25 de Dezembro.

Dessa comunicação ao País destaco, acima de tudo, o contentamento do Engenheiro Sócrates quanto à evolução das estatísticas do mercado do trabalho.

Dizia o Primeiro-Ministro que ainda não se conseguiu inverter a tendência de subida do desemprego – mas que a subida é cada vez menor, e que isso é um sinal menos negativo e de inequívoca recuperação da nossa economia.

Mas o que levou o Engenheiro Sócrates a embandeirar em arco foi o facto de, desde o início desta legislatura e até ao 3º trimestre de 2007 (inclusive), terem sido criados 105.9 mil empregos – e vale a pena recordar a promessa, feita durante a campanha eleitoral de 2005, de criar 150 mil novos postos de trabalho até 2009.

Ora, acontece que desde que este Governo iniciou funções (1º trimestre de 2005), houve um aumento do número de desempregados em 31.8 mil (a taxa de desemprego subiu de 7.5% para os actuais 7.9%), pelo que o acréscimo de emprego resulta única e exclusivamente do aumento da população activa, que passou de 5.5070 milhões no 1º trimestre de 2005 para 5.6447 milhões no 3º trimestre de 2007 (uma subida de 137.7 mil indivíduos).

Não creio que esta tendência se possa manter, e por isso acho muito pouco provável (infelizmente para todos) que os tais 150 mil novos empregos possam ser criados até 2009, até porque as perspectivas mostram uma estabilização da taxa de desemprego em redor dos actuais valores durante os próximos 2 anos.

Mas o pior é que, desde que este Governo tomou posse, houve uma destruição de 167 mil postos de trabalho onde as qualificações são mais elevadas: em dirigentes e quadros superiores, profissionais intelectuais e científicos, e técnicos de nível intermédio. Segundo o INE, eram 1.37 milhões no 1º trimestre de 2005, mas desceram agora para 1.205 milhões, ou uma quebra de 12%, que fez diminuir o peso deste tipo de empregos de 27% para 23% do total. Assim, o emprego cresceu exclusivamente em sectores que exigem pouca qualificação (cafés, restaurantes, serviços de limpeza, call centers, serviços de venda, etc.), que acrescentam pouco valor e criam relativamente menos riqueza.

Ou seja, a nossa economia procura cada vez mais qualificações pouco elevadas – o contrário do que devia acontecer, e indicia que não será em breve que o nosso crescimento económico irá acelerar como se desejaria… Mas sobre este facto, não ouvi uma única palavra ao Primeiro-Ministro…

E, afinal, não era este Governo que apostava fortemente na qualificação dos portugueses, tanto que até tinha prometido um “choque” ou “plano tecnológico”, tão querido pelo Ministro da Economia?... Por onde andará esse choque, que ninguém o vê?...

Não percebo, pois, como é que é possível mostrar contentamento e regozijo com esta situação. É mais um caso em que ao país de fantasia do Governo se contrapõe o… país real, o “nosso” país – onde as notícias são, infelizmente, bem sombrias…

2 comentários:

Anónimo disse...

Custa-me a perceber como, de um modo geral, toda a gente aceita de mão beijada a ideia de que, durante a presente legislatura, já foram criados 106 000 postos de trabalho. Sugiro-lhe por isso a leitura do que escrevi no meu blog a propósito da mensagem de Natal do primeiro-ministro e que veja com atenção o gráfico com a evolução do emprego nos últimos anos em Portugal.
Á de Moura Pina
http://abrasivo.blogs.sapo.pt

invisivel disse...

Pois é: com essa do choque é que ele nos tramou a todos!

E o mais grave ainda é que não se vislumbra quem vai desligar a corrente que tantos choques está a causar-nos!
Só não percebo é porque tantos comentadores e políticos, até da oposição,consideram que que ELE fez um grande trabalho na presidência europeia! Será que era suposto que não o fizesse?
Bem, o melhor é fazer o que o ex-PR Jorge Sampaio fazia aos bombeiros: condecorava-os por terem feito um bom trabalho, isto é, por combaterem os incêndios...