Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

PIB: previsão para 2008 desafia lei da gravidade...

Foi esta semana notícia, um tanto ou quanto calada, que o Governo português resolvera manter a previsão de crescimento do PIB para 2008 em 2,2% (e em 2,8% para 2009) o que representa uma significativa aceleração do ritmo de crescimento estimado para este ano - 1,8%.
A Espanha, ao contrário, prevê uma desaceleração, de 3,8% em 2007 para 3,0% em 2008.
A Zona Euro também espera uma desaceleração, de 2,6% este ano para 2,0% em 2008, anunciou há dias o BCE.
A OCDE espera igualmente uma desaceleração do crescimento na respectiva área, que abrange todas as economias mais desenvolvidas, com uma projecção ainda mais baixa para a zona Euro (1,9%).
O mesmo tinha feito, nas previsões do Outono, o FMI.
Concluímos assim que as previsões de crescimento económico entre nós passaram agora para o plano dos actos de fé: queremos acreditar que o crescimento económico vai acelerar, ele tem de acelerar, e pouco importa o que possa vir a acontecer nas economias dos nossos parceiros económicos, nomeadamente no nosso principal parceiro comercial, a Espanha.
Mais interessante ainda é a justificação avançada para tão arrojada previsão: “este padrão de crescimento reflecte, EM PARTE, os efeitos das reformas estruturais que têm contribuído para a criação de um ambiente mais propício ao investimento e à competitividade”.
É caso para se dizer que se só reflecte “EM PARTE” - o que faria se reflectisse na totalidade...teríamos o PIB crescendo 3 ou mesmo 4%?
Estamos assim perante um acto de magia – de um conjunto de factores que os demais países e as instituições internacionais entendem susceptíveis de conduzir a um abrandamento na zona Euro, nós conseguimos extrair um crescimento mais elevado: matérias-primas (petróleo, em especial) e bens alimentares mais caros, forte valorização do Euro, restrições financeiras.
Mas é também um desafio à lei da gravidade, pois enquanto as forças da “gravidade económica” nos deveriam arrastar para baixo, nós conseguimos, num assomo de heroicidade, resistir-lhes e até ganhar um impulso ascendente.
Vamos a ver no que tudo isto vai dar...
Estou convencido, todavia, que não haverá grande problema.
Na altura própria - mesmo que a “gravidade económica” acabe por nos obrigar a cumprir a sua lei - não faltarão os laboriosos media exaltando os resultados conseguidos, quaisquer que eles sejam...e “nós” (todos menos 1 ou 2) já nem nos recordaremos destas previsões...

14 comentários:

Tonibler disse...

Por acaso ainda ontem vinha na rua a pensar que bem me andam a fazer as reformas estruturais que até me senti compelido a investir em força. A educação fortalecida em qualidade com as recentes alterações estruturais, os fundos libertos pela redução de impostos imposta pelo controlo da despesa, a segurança social estabilizada com uma gestão profissional, a justiça estruturalmente acelerada pela reformas,...Enfim, todos estes feitos conseguidos por este governo de que nos podemos orgulhar e que certamente vão levar a um crescimento económico apreciável. Isso e o crescimento na criação de unicórnios...

André Tavares Moreira disse...

Típico e ao bom estilo José Sócrates. Faz estas grandes revelações muito encapotadas. Pergunto-me se o Documento único automóvel, o cartão único, os pagamentos por internet, etc. são mudanças estruturais ao ponto de provocar tal impacto positivo no crescimento da economia portuguesa. A desastrosa mudança do Código de Processo Penal, essas sim provocará aumentos, mas na criminalidade! Para muito pior, mas isso sim, foi uma mudança estrutural.
Já na altura do escândalo EP que passou debaixo dos nossos olhos sem nos termos insurgido suficientemente( eu e os meus futuros sucessores vamos pagar essa asneirada bem cara), tentou encapotar anunciando-o por alturas do Tratado de Lisboa.

Já imagino a capa do Laborioso DE : " Constâncio: Os factores económicos internacionais mudaram inesperadamente o que faz a revisão do crescimento baixar."

ou porque não um discurso do Primeiro afirmando " O compromisso do meu Governo em atingir os 2.2% de crescimento para este ano, foi afectado devido à conjuntura internacional." Por outras palavras, não demos ouvidos a quem sabe mais e a culpa não é nossa. O PS sempre foi especialista em lavar mãos de uma forma muito súbtil.
Será uma questão de tempo. E como tudo em que Socrates põe a mão, será uma questão de
MARKETING!!

Saudações Republicanas

Rui Fonseca disse...

Caro Tavares Moreira,

Se me permite, partindo dos mesmos pressupostos que parecem caracterizar a conjuntura económica, nomeadamente na Europa no próximo ano, eu faria uma apreciação diferente das previsões do governo português para a evolução da nossa economia em 2008.
.
Lamentavelmente, a economia portuguesa tem estado a divergir nos últimos 5 anos da média da União Europeia. Temos perdido passada quando devíamos ter recuperado. A um crescimento relativamente animador do conjunto da União Europeia, e, particularmente, dos países da zona Euro, correspondeu uma divergência preocupante da economia portuguesa.

E (quase) todos disseram: Não pode ser! E o PR apelou: Não nos podemos conformar!

Ora, se houve divergência é porque o efeito de gravidade não se fez sentir. Se tal tivesse acontecido, isto é, se as economias que circulam à volta do euro numa órbita mais próxima, e da União Europeia, obedecessem à lei da gravidade, a economia portuguesa não teria ido dar uma volta errática.

O que aconteceu, e isso foi sublinhado por muitas entidades, foi a superação dessa força gravítica por uma outra, de sinal contrário, mais forte: as ineficiências do aparelho produtivo em geral e da administração pública em particular. Aquilo que no jargão político se passou a chamar de "falta de reformas estruturais".

Portanto, penso eu, se a economia portuguesa divergiu pela negativa em consequência "da falta de reformas estruturais", mas se precisa urgentemente de convergir,
não pode esperar por uma boleia cíclica para ganhar mais andamento. Do que precisa é que "as
necessárias reformas estruturais" sejam, realmente, as necessárias e as necessárias estejam a resultar
já em 2008.

Temos, portanto, salvo melhor opinião, que nos preocupar com as reformas. Porque é delas que pode resultar a retoma da convergência.
A conjuntura externa é um dado que não podemos influenciar.

Depois, se o Governo está demasiado optimista nas suas previsões e falha, o optimismo pode sair-lhe caro em ano próximo das eleições. Deveríamos, sim, criticá-lo se jogasse à defesa para prevenir dissabores.

Resumindo: Penso que deveremos ser exigentes para com o Governo e isso não passa por criticar-lhe as previsões optimistas. Passa por exigir-lhe previsões que vão de encontro aquilo que deve ser feito: colocar a economia portuguesa nos carris do comboio europeu.

Tavares Moreira disse...

Caro Tonibler,

Se me permite um conselho, evite ter esses pensamentos na via pública, por 3 razões elementares:
- Alguma das novas câmaras de vídeo poder surpreende-lo a cogitar e isso vir a ser considerado actividade suspeita...
- Distrair-se e atravassar uma passadeira por baixo de um automóvel dos furiosos...
- Esquecer-se da principal obrigação que é a de pagar seus impostos...

Caro Rui Fonseca,

Há muitos muitos anos, era eu ainda um jovem liceal, ouvi uma declaração de um dirigente político da época, Dr. César Moreira Baptista, que muito me intrigou.
Dizia ele, num almoço ou jantar de homenagem ao então bem conhecido Almirante Henrique Tenreiro, que entre as qualidades do homenageado que mais gosto lhe dava lembrar, naquela ocasião, era a sua "capacidade de fé".
Na altura, a verdura dos anos - teria eu meus 14 ou 15 anos - não me deixou perceber o alcance daquela afirmação.
Mas ao ler este seu Post, ao fim de tantos anos fez-se luz - que bem entendo finalmente as palavras do Dr. Moreira Baptista!
O que mais admiro em si, meu caro Rui Fonseca, além da muita consideração que sabe merecer-me, é esta sua inquebrantável "capacidade de fé"!
Bem haja, em nome de todos nós, os de pouca fé!

caro André,

Meu amigo está com uma veia anti-socrática que até arrepia...será da juventude e dos ares da Praça do Império?

Rui Fonseca disse...

Caro Tavares Moreira,

O meu bom Amigo desculpe-me voltar
ao assunto mas não me parece que tenha, ao longo do meu comentário, ter dado indicação de qualquer profissão de fé.

O que eu referi foi que nenhuma previsão optimista do género daquela que fez o Governo nos pode causar problemas. O contrário, sim.

Se o Governo se limitasse a um crescimento percentual idêntico ao
previsto para a média da União Europeia, o que deveríamos dizer?
Que era insuficientei, que por aí não iríamos lá. Aliás, países como a República Checa e a Eslovénia, que já nos ultrapassaram, e outros do conjunto dos novos membros não vão, seguramente, conter-se dentro dos limites do crescimento médio.

Por que é que nós nos havemos de conter?

Se vamos ou não conseguir ( e esse é que é o problema, o governo, este ou outro qualquer não resolve tudo) já é tema para outra apreciação.

Se o Governo vai arranjar depois desculpas de mau pagador, também é outra questão. O que poderemos abordar, então, não é apenas a capacidade subtil do Governo para as arranjar desculpas mas a amnésia ou distracção da Oposição em não as denunciar cabalmente.

Tavares Moreira disse...

Caro Rui Fonseca,

Entrando então no tema que propõe, diga-me lá o meu Amigo que razões substantivas podemos alinhar - as adjectivas podemos dispensar bem - para aceitar uma previsão de crescimento em Portugal em aceleração quando os nossos principais parceiros vão desacelerar?
Com o formidável nível de endividamento ao exterior que acumulamos e continuamos insanamente a acumular, acha que pode ser pela procura interna que a economia portuguesa pode descolar das demais?
Acha isso sensato ou apenas possível?
Se não for assim e porque assim não poderá ser, onde vamos buscar os factores de crescimento - vamos sonhar que "conquistamos" a economia de Angola e aumentamos as nossas exportações para lá 5 ou 6 mil por cento em 2008, ultrapassando a Espanha e transformando Angola no nosso principal parceiro?
Tem alguma outra solução mágica que me possa explicar?
É que fora deste quadro de hipóteses temíveis ou simplesmente inverosímeis não encontro resposta...mas pode ser que a capacidade de fé do meu Amigo me permita enxergar algum horizonte mais cor-de-rosa...

Pinho Cardão disse...

Caro TMoreira:
Para o Governo, simplisticamente, o PIB terá o aumento que for necessário para suportar o défice no valor previsto.
Aumenta 2%, 2,5% ou 3% consoante a necessidade!...
Depois, logo se verá!...

Rui Fonseca disse...

Caro Tavares Moreira,

Não tenho nenhuma veleidade de apontar fundamentos para um crescimento económico percentualmente superior à média dos nossos parceiros. O que referi foi que me parece bem que o Governo seja minimamente ambicioso e se comprometa com metas que possam fazer recuperar a economis portuguesas no sentido da convergência.

E daí, as reformas necessárias.

Seria fastidioso aqui abordar o numeroso elenco de reformas que reconhecidamente têm de ser implementadas para atrair o investimento estrangeiro, por exemplo.

Desde logo, a Justiça. A funcionar da forma como funciona a garantia frouxa do cumprimento dos contratos tem sido apontada como um dos factores que contraria a atracção dos investidores. Vai o Governo avançar com alguma medida que altere substancialmente o quadro jurídico que envolve as empresas?

Talvez não.

Vai o Governo reduzir a despesa do Estado de forma a tornar possível a redução da carga fiscal?

Talvez não.

Vai o Governo alterar a Legislação do Trabalho?

Talvez não.

Mas são, do meu ponto de vista, estas e outras questões com que vale a pena confrontar o Governo.

No fundo, as perguntas que o meu Amigo me coloca são aquelas que eu acho com as quais o Governo deve ser confrontado.

Dito de outro modo: Se o Governo afirma que o crescimento económico vai ser de 2,2% em 2008 e 2,8% em 2009 penso que não devemos dizer-lhes: É impossível.

Tem de ser possível, sim senhor, e agora digam lá como é que vocês, Governo, vão conseguir isso.

Só com fé não vamos lá.

Tavares Moreira disse...

Rui Fonseca, não me leve a mal este comentário, mas o meu Amigo continua situado, dogmaticamente, no plano da fé...
Acredita que vale a pena confrontar o Governo com as questões que enuncia?
Alguma vez poderemos acreditar que as respostas do Governo a essas questões servem para alguma coisa? Têm algum vislumbre de consistência ou de sinceridade?
Já alguma vez assistiu aos debates na A.R.?
Acha esclarecedores as respostas do Governo a propósito de qualquer tema, por mais sério que se apresente?
E acha possível a Oposição, atacada tão duramente pela tripanossomiase enfrentar o Governo com questões bem fundadas?
E mesmo que a Oposição, nalgum intervalo de lucidez, questione o ºMinistro sobre questões pertinentes ou incómodas o PM não responde ou muda de assunto e os prestimosos media concluem sempre que foi o PM quem ganhou o debate?
Como quer o meu Amigo chegar a algum lado com o enunciado destas questões?
A dialéctica, como método de fazer crescer a economia, também me não convence, meu Caro...
Com franqueza, Rui Fonseca, vamos ser realistas por uma vez...e perceber que o "wishful thinking", em lugar de constituir um factor de encorajamento ou de motivação para conseguir objectivos mais ambiciosos funciona, isso sim, como método para iludir os bem intencionados e alimentar os laboriosos media.
E parece-me que disto não sairemos tão cedo...
Olhe que o Pinho Cardão é capaz de estar mais perto da verdade...

Rui Fonseca disse...

Caro Tavares Moreira,

Desculpe-me abusar da sua paciência, mas se a Oposição está atacada tão duramente pela tripanossomiase, o Governo faz orelhas moucas e os media dão ao rabo perante o Governo, ainda assim,
do meu humilde ponto de vista, não devemos dizer-lhe "Não vais conseguir!"

Devemos exigir-lhe: "Tens de conseguir!"

Porque se esta atitude não os irá fazer mover uma palha, a primeira, certamente, que também não.

Salvo melhor opinião.

Tavares Moreira disse...

Caro Rui Fonseca,

Finalmente convergimos! "Essa atitude não os iré fazer mover uma palha": 100% de acordo!
E a primeira também não: 100% de acordo!
Sabe, meu Caro, faltam-nos cá cidadãos como o Eliot Spitzer, bastante resistentes à tripanossomiase - mas teriam que ser em número razoável...um só seria cilindrado em poucas horas...

PA disse...

A pergunta:

Como é que um banqueiro visto como inatacável durante décadas pôde, em apenas meio ano, perder uma das maiores batalhas da sua vida?

A resposta:
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1313817

Dava um bom post ....
:-)))) .... desculpe o desafio, Caro Tavares Moreira.

Os meus cumprimentos.
Bem haja.

Tavares Moreira disse...

Cara Pezinhos n'Areia,

Esse tema - e outras com ele relacionados - fica para daqui a uns meses, se não se importa.
Espero que não sejam muitos...e prometo colocar um post bem escaldante, pode estar certa...
Espero resistir até lá.

PA disse...

Caro Tavares Moreira, com o devido respeito, permita-me que ironize !

Haveria algo de melhor, do que um post escaldante, neste momento em que, tão baixas temperaturas se fazem sentir nesta nossa Pátria Lusitana ???....:-)))))

En passant ...

De facto, eu é que não resisti, a cometer este pequeno assédio, de lhe sugerir o tema. Tenho de aprender a controlar-me melhor.

A figura em causa, suscita-me imensa curiosidade. É uma personalidade enigmática.

Mas a História renascerá das cinzas.
A seu tempo ...

os meus cumprimentos.