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quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Provincianismo

  • «É verdade, eu sou um provinciano, eu fiz-me sem pedir autorização a ninguém. Não tenho aliados entre os intelectuais portugueses da esquerda aristocrática» - José Sócrates, Primeiro-Ministro de Portugal em entrevista dada ao Libération, Dezembro de 2007.
  • Respondendo aos sectores que acusaram o Governo de ter descurado as questões nacionais por se ter dedicado no segundo semestre desta ano à Presidência Portuguesa da UE: «É uma visão provinciana ultrapassada. Seria uma grave irresponsabilidade se o Governo não colocasse a Presidência da UE no centro das suas preocupações» - José Socrates, Secretário-Geral do PS num discurso de balanço no jantar de Natal do Grupo Parlamentar ontem, 19 de Dezembro de 2007.
  • "O sindroma provinciano compreende, pelo menos, três sintomas flagrantes: o entusiasmo e admiração pelos grandes meios e pelas grandes cidades; o entusiasmo e admiração pelo progresso e pela modernidade; e, na esfera mental superior, a incapacidade de ironia. Se há caracteristico que imediatamente distinga o provinciano, é a admiração pelos grandes meios. Um parisiense não admira Paris; gosta de Paris. Como há-de admirar aquilo que é parte dele? (…) O amor ao progresso e ao moderno é a outra forma do mesmo caracteristico provinciano. Os civilizados criam o progresso, criam a moda, criam a modernidade; por isso lhes não atribuem importância de maior. Ninguem atribui importância ao que produz. (…) O provinciano, porém, pasma do que não fez, precisamente porque o não fez; e orgulha-se de sentir esse pasmo. Se assim não sentisse não seria provinciano. É na incapacidade de ironia que reside o traço mais fundo do provincianismo mental. Por ironia entenda-se, não o dizer piadas, como se crê nos cafés e nas redacções, mas o dizer uma coisa para dizer o contrário. A essência da ironia consiste em não se poder descobrir o segundo sentido do texto por nenhuma palavra dele, deduzindo-se porém esse segundo sentido do facto de ser impossivel dever o texto dizer aquilo que diz. (…).
    O provincianismo vive da inconsciência; de nos supormos civilizados quando o não somos, de nos supormos civilizados precisamente pelas qualidades por que não o somos.
    " - Fernando Pessoa, 1928

5 comentários:

Tonibler disse...

ehehe, grande post!

Paulo Porto disse...

Um post em cheio.

Só mais uma, do mesmo Fernando Pessoa, e também a propósito: " A tragédia mental de Portugal é que [...] o nosso escol é estruturalmente proviciano."

António Viriato disse...

Debaixo desta aparente humildade socrática, ao declarar-se provinciano, esconde-se uma incontida vaidade, uma enorme presunção de deslumbrado com o brilho de tantos holofotes, nos palcos sumptuosos que pisa e por onde se passeia embevecido, no meio de muita vacuidade, igualmente deslumbrada e envaidecida.

Como todos os provincianos profundos, ei-lo todo airoso, inebriado com tanta vénia e salamaleque, convencido da imaginada importância que o momento lhe consente.

Veio bem a propósito o belo texto de Pessoa, que, em boa verdade, aplica-se a muitos outros actores que, com igual presunção, contracenam com Sócrates neste vasto teatro da política nacional e europeia, bem mal representada, como vamos vendo e, pelo facto, amargamente pagando.

É, por isso, urgente preparar alternativas, que, por enquanto, ainda não se enxergam.

Anthrax disse...

Ah grande Fernando Pessoa! :)

Sempre actual.

António Fiúza disse...

o mais provinciano é o luís lopes (presidente da cpn do psd)