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terça-feira, 11 de novembro de 2008

A avaliação-opinião de um comentador do 4R

Nos últimos dias, publiquei aqui no 4R dois posts sobre a avaliação dos professores, Avaliação da manifestação e Avaliação Trapalhona.
Permito-me, com a devida vénia ao Dr. Arnaldo Madureira, ilustre, competente e dedicado professor, e também autor de um Blog, transcrever o seu lúcido, oportuno e esclarecedor comentário ao primeiro daqueles posts.
Quando não se sabe se este método de avaliação é bom, mau ou assim-assim, é preciso ser prudente nas opiniões.Não se pode saber que reacção teriam os professores a outro modelo de avaliação, mas sei que este é absurdo e justifica-se a oposição dos professores. Estou certo que, se os distintos postador e comentadores conhecessem as fichas de avaliação que as escolas estão a aprovar, sob as orientações legais e políticas do governo, concordariam que esta avaliação é redundante e desnecessária.Por outro lado, os professores não querem ser avaliados por pares. Não sei se quereriam ser avaliados por superiores hierárquicos, nem se quereriam estar integrados numa organização hierárquica, mas sei que não querem ser avaliados por pares. Nem sequer é pelos pares, é por pares. A divisão em professores e professores titulares está a agravar a reacção dos professores. Os professores titulares, cuja maioria nem sequer tem funções para exercer, são uma espécie de felizes contemplados num sorteio administrativo irracional em que nenhuma competência foi verificada. Não se iludam, porque não aconteceu nada parecido com um doutoramento, um concurso para assistentes hospitalares, para professores associados ou catedráticos, ou qualquer outra prova de mérito.Quanto às consequências da avaliação há muita coisa absurda. Por exemplo, diz o Estatuto da Carreira que o professor que tiver uma pontuação global superior a 9 em 10 é excelente. Mas, contraditoriamente, também diz que só os melhores 5% é que são excelentes. Então, como é? Volta-se atrás na avaliação para classificar pior os professores, de modo que só 5% tenham classificação superior a 9? Diz-se a um professor, tu és excelente, mas não podes ser excelente, porque só 5% é que podem ser excelentes?Também não sei como os professores reagiriam a outras quotas de progressão profissional, mas sei que este modelo está todo errado, é um absurdo total e que este governo é de uma incompetência, de uma arrogância e de um autoritarismo intoleráveis.Compreendo que é necessário distinguir os bons dos menos bons professores e que os professores não devam estar concentrados nos últimos escalões, mas há formas competentes e inteligentes de o fazer. Não é o caso deste modelo.Finalmente, muitos dos países europeus cujos resultados educativos admiramos muito nem sequer têm avaliação de professores com a formalidade que o nosso desgoverno quer impor.Na minha opinião os professores dão o flanco num ponto: ninguém sabe o que querem , só se sabe o que não querem. Por isso, mesmo sabendo que têm razão, também sei que não é possível ganhar a simpatia da opinião pública.
É possível, sim, digo eu, se os Sindicatos fossem arejados, abandonassem o linguarejar estereotipado de há cem anos e esclarecessem o que está em causa. Assim...

15 comentários:

jotaC disse...

Caro Drº Pinho Cardão:
Peço desculpa por esta invasão aparentemente fora do contexto do post, mas não resisto ao desejo de divulgar este artigo que acabei de receber agora por correio electrónico.
Provavelmente, haverá alguns de V. Exas. que já o conheciam, no entanto nunca é demais relê-lo, acho eu...

"Eduardo Prado Coelho, antes de falecer (25/08/2007), teve a lucidez de nos deixar esta reflexão, sobre nós todos, por isso façam uma leitura atenta.

Precisa-se de matéria prima para construir um País

Eduardo Prado Coelho - no Público

A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve.

E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada.

Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de um país.

Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.

Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.

Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ....e para eles mesmos.

Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.

Pertenço a um país:

- Onde a falta de pontualidade é um hábito;

- Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.

- Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os esgotos.

- Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.

- Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é 'muito chato ter que ler') e não há consciência nem memória política, histórica nem económica.

- Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser 'compradas', sem se fazer qualquer exame.

- Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar.

- Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.

- Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.

Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.

Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.

Não. Não. Não. Já basta. Como 'matéria prima' de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.

Esses defeitos, essa 'CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA' congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte...

Fico triste.

Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada...

Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.

Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve Sócrates e nem servirá o que vier. Qual é a alternativa?

Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?.

Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa' não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados!.

É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...

Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.

Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro...

Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos:

Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e, francamente, somos tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.

Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO. E você, o que pensa?.... MEDITE!"

EDUARDO PRADO COELHO

Tonibler disse...

Sendo físico, o Arnaldo Madureira coloca as coisas noutro nível mas, no entanto, é uma conversa de professor e eu gostava de colocar a conversa do ponto de vista do cidadão.

E visto do cidadão, acho que não há grande conversa. Das duas uma, ou nós (nação) conseguimos gerir um quadro de professores ou não conseguimos gerir um quadro de professores. Para gerirmos um quadro de professores arranjamos um governo que elegemos para gerir esse quadro de professores. É mau? É aquele que os 10 milhões escolheram.

Agora, aceito o argumento de que os 10 milhões não conseguem escolher alguém capaz de gerir o quadro de professores ou que, como é a minha opinião, que ESTE quadro de professores é ingerível. Então, deixa-se de ter um quadro de professores e passa a haver uma rede de escolas one gerem elas os professores(avaliam, contratam, despedem, subcontratam, matam, esfolam, o que quiserem...).

Agora, não vejo nenhuma terceira via nem me parece que, passados 30 anos da mesma conversa, seja decente tentarem convencer-nos (nação) de que o ensino de produção pública é viável ou que existe uma forma escondida de gerir o quadro de professores.

Clara Carneiro disse...

É exactamente isto, jotaC!
Eu todos os dias me "olho ao espelho"...e há dias em que não fico nada satisfeita!!!

Dr Pinho Cardão, inteiramente de acordo consigo, este tema é, actualmente e mais do que nunca um enormíssimo barril de pólvora...que bom seria que este assunto fosse explicado de forma sucinta e clara, diria "silogística" para que TODOS percebesse-mos.
A situação e o ambiente que neste momemto se vive no ensino é, para mim, (perdoem-me os economistas)a maior e mais grave preocupação que qualquer governo deveria assumir.

Clara Carneiro disse...

"percebesse-mos"....as minhas desculpas!!!

Arnaldo Madureira disse...

Do ponto de vista do cidadão há boas políticas e más políticas. O cidadão pode julgar que esta política é má. Ou boa. Eu acho que é má, como professor empregado do Estado que sou e como cidadão.

Quanto à sugestão de cada escola gerir o seu próprio quadro de professores, é possibilidade que também já admiti e escrevi muitas vezes. É claro que todo o sistema de escolas seria muito diferente do que é.

Henrique Pereira dos Santos disse...

A discussão a que tenho assistido à volta deste assunto deixa-me perplexo porque uma grande parte das opiniões seguem, sem dificuldade, a linha de argumentação governamental: a oposição dos professores é apenas uma reacção ilegítima de uma corporação que se está nas tintas para os seus alunos (e, já agora para o contribuinte).
Eu não percebo nada de gestão e não sou professor.
Tenho quatro filhos, bons e maus alunos, bem e mal comportados, que andaram no ensino público e privado, em função das suas características, das circunstâncias e do que achámos melhor para eles em cada momento.
Encontrei, no público e no privado, bons e maus professores mas nas escolas privadas, nas que conheci, há de maneira geral um projecto de escola e a autonomia necessária para o levar a cabo.
Nas melhores públicas também há, em função de um delicado exercício de força e diplomacia por parte de professores especialmente preparados que conseguem fazer uma escola apesar do Ministério.
Das que foram usadas pelos meus filhos a que melhor retratava isso foi quase liquidada pelo Ministério (Rainha D. Amélia).
As minhas duas filhas mais velhas fizeram o 12º ano nos Estados Unidos, a terceira, não o tendo feito, corre o mundo atrás de uma carreira desportiva internacional, com miúdas da mesma idade, isto é, em idade escolar.
Tenho por isso algum termo de comparação entre as escolas portuguesas e não portuguesas.
Não tenho dúvidas de que os alunos médios do ensino público em Portugal, no secundário, estão bem mais preparados que os alunos médios dos liceus americanos, no sentido em que sabem mais coisas. Não sei se estão mais bem preparados no sentido em que são mais bem formados, que é mais difícil de avaliar.
Faz-me confusão que se usem argumentos tão simplistas como o rácio professor aluno.
Dizem que são oito alunos por professor e não sei se é muito ou pouco.
Basta ver que os professores têm 22horas de aulas por semana e os alunos 30 e tal para se perceber imediatamente que tem de haver um rácio menor que o de um professor por turma. Basta pensar nos apoios aos alunos com necessidades educativas especiais, que chegam a precisar de um professor dedicado, para percerber como o rácio pode diminuir ainda mais. Basta pensar que há professores que desempenham outras funções na escola para além de ensinar, como gerir a escola, ter cargos pedagógicos, ter chefias de turma, gerir a biblioteca, etc., para se perceber que discutir este rácio não faz sentido sem perceber que funções desempenham estes professores.
Nos Estados Unidos cada aluno tem um tutor na escola. Não sei se é obrigatoriamente um professor mas se não for, o rácio de pofessor aluno pode crescer porque está lá alguém para fazer a função de suporte de tudo o que não é lectivo.
Não tenho dúvidas de que os professores defendem, entre si, soluções completamente antagónicas sobre as questões de gestão das escolas, como não podia deixar de acontecer num universo de 140 000 pessoas.
Mas quando a esmagadora maioria reaje da forma como está a reagir é prudente para quem está de fora de ter opiniões prudentes: não é possível haver as manifestações que houve apenas com base na defesa de privilégios corporativos.
Também eu achei que havia coisas absurdas que não poderiam ser verdade e só podiam ser empolamento por parte dos professores. Mas quando verifiquei descobri que muitas das regras são impensáveis e absurdas.
Sei por experiência própria que para este Ministério faltar para ir a um campeonato do mundo representar Portugal é o mesmo que ir faltar para ir jogar bilhar no tasco da esquina. Garanto, é exactamente o mesmo e é tratado exactamente da mesma maneira. Eu também não acreditava.
Convençam-se, os que não têm tempo de ir ver o que se passa nas escolas, o absurdo descreve mal o que por lá vai.
Ao menos lembrem-se de que quando se perde uma guerra a responsabilidade nunca é dos soldados, é sempre dos generais.
E centralizado como é o nosso sistema de ensino, só há generais na cinco de Outubro e nas escolas privadas, com a diferença de que a estes últimos os pais pedem responsabilidades de forma muito directa.
Aos outros, aos da cinco de Outubro (e não podendo retirar responsabilidades à equipa ministerial é bom não esquecer que não são apenas eles os generais da cinco de Outubro) como se podem pedir responsabilidades?
henrique pereira dos santos

Bartolomeu disse...

Seria necessário que houvessem avaliações de professores se por ventura se pensasse o ensino como forma de aproveitar, direccionar e potênciar as aptências individuais de cada professor e de cada aluno?
Vejamos: Cada um de nós sente que tem uma aptÊncia natural para determinadas áreas culturais, laborais, sociais, desportivas, etc. Contudo, raras vezes, desenvolve a sua actividade nesse campo. A maior parte das vezes, o cidadão comum só tarde descobre possuir essas aptências, alguns, muitos, nunca chegam a descobrir, muitos têm uma existência aperreada, devido ao facto de serem "obrigados" uma vida inteira a funcionar em áreas que colidem frontalmente com as suas aptidões naturais. Ora digam-me os meus prezados co-comentadores se não seria mais proficuo para o cidão e para a sociedade se se desse "uso" aos pedo-psicólogos que só conseguem emprego nos call center ou em caixas de supermercado e, colocados em infantários e escolas primárias, fizessem um acompanhamento psico-técnico das crianças, tentando desde tenra idade direccionar-lhes o ensino para áreas que naturalmente têm mais facilidade em assimilar? Seria muito provávelmente uma forma de conseguir melhorar o aproveitamento escolar dos jovens e até de motivar os professores, que estimulados pelos resultados veriam o seu esforço melhor compensado. Insistir em avaliações que à partida parecem estapafúrdias, oferecendo em simuktâneo e de bandeja, formação académica a crianças que mais tarde, chegando a altura de concorrer ao mercado de trabalho, não sabem escrever uma letra ou fazer uma conta, não sabem falar sequer, ou expressar um pensamento coerente, em troca de objectivos abstractos impostos por países onde a realidade do ensino não tem nada a ver com a de cá, parece-me um absurdo, que toda a gente teima em querer impor.

Arnaldo Madureira disse...

Artigo 46.o
Sistema de classificação
1—A avaliação de cada uma das componentes de
classificação e respectivos subgrupos é feita numa
escala de avaliação de 1 a 10, devendo as classificações
ser atribuídas em números inteiros.
2—O resultado final da avaliação do docente corresponde
à classificação média das pontuações obtidas
em cada uma das fichas de avaliação e é expresso
através das seguintes menções qualitativas:
Excelente—de 9 a 10 valores;
Muito bom—de 8 a 8,9 valores;
Bom—de 6,5 a 7,9 valores;
Regular—de 5 a 6,4 valores;
Insuficiente—de 1 a 4,9 valores
.
3 — Por despacho conjunto dos membros do
Governo responsáveis pelas áreas da educação e da
Administração Pública são fixadas as percentagens
máximas para a atribuição das classificações de Muito
bom e Excelente
, por escola não agrupada ou agrupamento
de escolas, as quais terão por referência os
resultados obtidos na avaliação externa da escola.

Este é um exemplo da estupidez da avaliação que decorre do estatuto. Estou mesmo a ver o governo dizer às escolas: "Eh, pá! Baixem aí as classificações dos professores, porque não poder haver tantos excelentes e muito bons!"
Se o governo não fosse tão estúpido, não teria associado menções qualitativas às classificações e as menções qualitativas só apareceriam depois das decisões das quotas. Assim, o que vai acontecer é que muitos professores vão ser excelentes na classificação e deixar de ser excelentes por causa das quotas.

Tonibler disse...

O problema, caro Madureira, é que há 30 anos que as políticas são más e, curiosamente ou não, são todas resultado da vontade popular. Portanto, a única política boa é aquela que não é, ou seja, entrega-se a gestão das escolas a quem saiba e se responsabilize pelos resultados. Mas isso implica acabar com o quadro público de professores, coisa que, tenho uma leve suspeita, levará 150 mil professores ao Marquês de Pombal.

Rui Fonseca disse...

Jota C,

O texto que refere não foi escrito por EPC. Circulou há cerca de 3anos na Internet com autoria atribuida a EPC, que negou a paternidade.

Aliás, qualquer leitura atenta conclui que EPC nunca escrevaria aquilo.

Rui Fonseca disse...

Caro Pinho Cardão,

Percebo que o competente e dedicado professor Arnaldo Madureira:

1 - Entende que é necessário conhecermos o sistema de avaliação para nos pronunciarmos sobre a manif dos professores. Quem não conhece, "deve ser prudente nas opiniões", isto é, não deve pronunciar-se sobre a manif.

Há nesta afirmação uma contradição.
Se cento e tal mil professores vieram manifestar-se para a rua, não estarão convencidos os cento e tal mil que todos os outros portugueses que os viram nas ruas e nas televiões, os ouviram nas rádios, os leram nos jornais, estão suficientemente informados para opinar sobre o método de avaliação.

É evidente que não estão.

Os cento e tal mil, ao sairem para a rua, pretendem dizer aos portugueses que não aceitam as regras do ministério e querem forçar a ministra a recuar.

Quais são essas regras, poucos portugueses sabem, para além dos professores.

Ora não podem, honestamente, querer os cento e tal mil professores pretender que os portugueses os apoiem na sua luta depois de lerem as regras do sistema de avaliação que, pelos vistos, é complexo.

Assim sendo, os portugueses terão de formar a a sua opinião segundo parâmetros de avaliação que cada um é livre de escolher.

Eu escolho um bem simples: O governo tem uma legitimidade que
lhe foi assegurada democraticamente e, consequentemente, pode introduzir processos de avaliação dos funcionários desde que estes não firam as leis da República.

Porque se o processo é ilegal existem os tribunais para poder avaliar a a ilegalidade, porventura a insconstitucionalidade até, da decisão ou da forma como está sendo executada.

É assim que funcionam as democracias.

2 - Quanto aos outros aspectos, nomedamente a questão das densidades, que tem sobretudo a ver com as promoções automáticas,
percebo a indisposição do senhor professor mas, com o devido respeito, ele não tem razão.

Arnaldo Madureira disse...

Sr Rui Fonseca
Uma eleição não é um passe para um governo fazer o que lhe apetece.
Quando Mário Soares apelou à indignação contra o governo de Cavaco Silva, o senhor concordou?
A contradição é sua, que tanto diz que a avaliação é muito boa, como diz que não a conhece.
Não entendo como é que se pode aprovar ou desaprovar seja o que for que se desconhece. Eu não consigo ter opinião conclusiva sobre o que desconheço.
A que densidades se refere?
Qual é a indisposição com as promoções automáticas que julga que eu tenho?

Arnaldo Madureira disse...

Caro Tonibler
Tenho de dar o meu braço a torcer. Discutir com um físico é outra coisa, não desfazendo no economista Pinho Cardão, que é uma das pessoas mais íntegras que conheço.
Como sabe, porque já discutimos isso antes, temos coincidido nas opiniões sobre a autonomia das escolas, com o que isso implica relativamente à contratação dos profesores. Nesse caso, a minha opinião não coincidiria com a dos tais 150000.

Pinho Cardão disse...

Caro Arnaldo Madureira:

Torção e torcer deve realmente ser coisa da física dos materiais!...
Mas dar o braço a torcer, quando outros têm razão, é também uma qualidade moral inestimável, e é uma virtude tê-la. O Ministério da Educação não a tem, pelos que vamos vendo e ouvindo e sentindo.
Mas também é bom termos homens de uma só fé, de um só querer, de antes quebrar que torcer, como dizia Sá de Miranda. Homens e mulheres de carácter, que saibam o caminho e não torçam pelos atalhos que dêem mais jeito!...
O Ministério pensa que o atalho fácil é o caminho certo e pensa que não torcer para o caminho certo lhe dá carácter. Troca tudo por troca com nada!...
Por último, caro Arnaldo Madureira, agradeço-lhe as palavras: economista sou, pelo diploma e tento comprová-lo no dia a dia; quanto à integridade, não me preocupo em comprová-la, mas persisto em que ela me acompanhe sempre em todos os actos da vida. Muito obrigado!...

Fartinho da Silva disse...

Para todos os cegos e para todos aqueles que teimam em mostrar a sua cegueira em relação a esta matéria:

"Tenho 48 anos e sou professor do ensino secundário há quase 26. Sou professor titular de Filosofia, não estou sindicalizado, não me recordo de ter faltado ao trabalho, mesmo em dias de greve, e não costumo participar em manifestações – nem sequer participei nas duas últimas grandes manifestações de professores, se bem que tenha pena de não o ter podido fazer. Nunca me passou pela cabeça ter outra actividade profissional, mesmo ganhando mais do que os 1850 euros que, após todos estes anos, recebo no final do mês.

Sei que para ensinar bem os meus alunos tenho de continuar a estudar, a ler e a aprender. Como costuma dizer um amigo meu, Desidério Murcho, para se ensinar bem até à letra C é preciso dominar as matérias até pelo menos à letra M: é preciso um grande à vontade e um bom domínio do que se ensina para se antecipar dificuldades dos alunos, para se responder a dúvidas inesperadas, para se encontrar o exemplo certeiro, para indicar as leituras adequadas, etc. Isto exige uma grande preparação e uma actualização permanente do professor, além de um ambiente de trabalho tranquilo e estimulante. Até porque são as deficiências científicas que originam, na maior parte da vezes, as situações pedagogicamente mais desagradáveis.

Infelizmente, os escassos estímulos que ainda poderiam existir nesse sentido parecem pertencer ao passado. As escolas transformaram-se, de há dois anos para cá, numa balbúrdia constante e num verdadeiro pesadelo burocrático em que ninguém parece entender-se. E, com muita tristeza minha, vejo os livros de filosofia que todas as semanas encomendo na Amazon ou outras livrarias acumular-se sem quase ter tempo para os folhear. Preparar aulas decentemente é algo que também deixei de fazer, caso contrário nem sequer vida familiar poderia ter. Não fosse o caso de os alunos estudarem por um manual que conheço de cor – porque sou um dos seus autores – e as aulas seriam um completo improviso. Comparar o que se tem passado nas escolas nos últimos dois anos com a barafunda gerada com o atraso da colocação de professores no tempo do ministro David Justino é como comparar um episódio infeliz com a própria infelicidade. E o ministro David Justino caiu por causa disso.

Creio poder dizer, sem qualquer exagero nem arrogância, que conheço melhor do que a senhora ministra o que se passa nas escolas, pois há 25 anos que passo a maior parte da minha vida nelas. Ora, nunca, mas mesmo nunca, houve tanta confusão e um ambiente tão pouco adequado ao ensino e à aprendizagem como o que se verifica actualmente.

Perguntar-se-á: o que ando então a fazer o tempo todo para deixar de preparar as minhas aulas como deve ser? A resposta poderia ser dada até pelo meu filho, apesar de ainda ser criança: além das aulas, passo os dias em reuniões intermináveis para entender o sentido do terrorismo legislativo com que se tolhem e intimidam os professores. Na verdade são muito mais as horas que tenho gasto a reunir por causa da avaliação do que com aulas. E o pior ainda nem sequer chegou. Como avaliador de oito colegas, terei de inventar mais 36 horas para assistir a aulas suas, além das reuniões preparatórias que tenho de fazer com cada um deles e dos quilos de papelada para preencher. De resto, na minha escola os professores irão passar o ano a assistir às aulas uns dos outros, pois somos 165 professores, o que dá cerca de 500 aulas assistidas por ano. Além disso, terei de preparar tudo para o meu avaliador – um colega de Economia que não tem culpa de nada e que fará certamente o seu melhor – poder assistir às minhas aulas de Filosofia.

Que o novo modelo de avaliação é inútil e ineficaz já o provou definitivamente, sem o querer, a senhora ministra. Diz ela repetidamente que esta avaliação é absolutamente necessária para a qualidade do ensino e para a melhoria dos resultados. Porém, anunciou com grande pompa ao país que os resultados melhoraram no último ano, o que acabou por ser reforçado com a divulgação dos resultados dos exames nacionais. Só que esta apregoada melhoria da qualidade e dos resultados verificou-se ainda antes de o modelo de avaliação produzir qualquer efeito. Logo, fica provado que a avaliação não é uma condição necessária para a melhoria da qualidade e dos resultados. O que leva então a ministra a dizer que a avaliação é absolutamente necessária?

Os responsáveis pelo actual ministério da educação parecem, talvez inconscientemente, querer pôr em prática o cenário tenebroso descrito por George Orwell em "Mil Novecentos e Oitenta e Quatro", em que a catadupa de despachos, decretos regulamentares, documentos orientadores, ordens de serviço, instruções superiores, recomendações, etc., frequentemente incoerentes – vale a pena dizer que acumulo em casa mais de mil fotocópias sobre avaliação, que me foram entregues na escola –, são a tradução quase literal do "Big Brother is watching you" da 5 de Outubro. A obsessão do ministério por controlar tudo e todos até ao mais pequeno detalhe está bem patente no modelo de fichas de avaliação que impõe às escolas e aos professores (parece que a ideia é a de que, entre tanta coisa pedagogicamente inane, sempre há-de haver uns quantos aspectos em que o avaliado vai falhar, de modo a não atrapalhar as escassas cotas disponíveis para progressão na carreira). E o mais irónico é que, quando se encontram incoerências e impasses nas instruções oriundas do ministério, a ministra deixa o problema para as próprias escolas com o argumento de que lhes quer dar autonomia na construção dos seus instrumentos de avaliação. Não é, pois, surpreendente que os professores se sintam desorientados, cansados, chantageados e até insultados. Isso acaba naturalmente por se reflectir na sua prática lectiva e os alunos notam bem a diferença quando o professor dá as aulas cansado.

Mas o pior de tudo é que o modelo de avaliação fabricado na 5 de Outubro não vai permitir distinguir os bons dos maus professores, ao contrário do que a senhora ministra alega. Talvez seja até pior do que a completa ausência de avaliação, premiando arbitrariamente alguns dos maus e castigando cegamente muitos dos bons. Se assim não fosse, que razões teriam os bons professores que desfilaram na manifestação de sábado para lá estarem? Ou será que os mais de cem mil são todos maus ou simplesmente estúpidos? Os professores sentem-se compreensivelmente ameaçados porque o modelo, além de burocrático, como convém ao Big Brother, obedece a uma espécie de pensamento único pedagógico: há um dogma pedagógico subjacente a que todos têm de aderir, tal como se emanasse do Ministério da Verdade orwelliano. Esse dogma é o da pedagogia do eduquês: são os resultados a qualquer preço, é a inovação a martelo, são as “estratégias de ensino-aprendizagem” como se o professor fosse o aprendiz (também o é, mas noutro sentido). Enfim, é a avaliação do portfólio e dossiê do professor para ver se ele tem o seu caderno diário em ordem, infantilizando uma actividade em que, pelo contrário, se exige autonomia e auto-confiança.

De resto, não é preciso muita atenção para ser confrontado com essa novilíngua do eduquês que, de há muitos anos para cá, tem caracterizado o Ministério da Verdade. Só que agora passou a ter uma força imparável, pois vai ser a destreza no uso dessa novilíngua a determinar se o professor é dos bons ou dos maus. Esta é, sem dúvida, a avaliação do pior eduquês em todo o seu esplendor. É um enorme passo para a asfixia intelectual dos professores e para a sua menoridade profissional. E é a negação da desejável diversidade pedagógica, transformando os professores em meros instrumentos de uma cadeia de produção em série e impedindo os alunos de se enriquecer no contacto com diferentes estilos e metodologias.

Mas o que realmente importa no desempenho do professor é, respeitando os alunos e os seus direitos, ensinar-lhes e ajudá-los a aprender o que é suposto aprenderem, recorrendo às concepções pedagógicas que muito bem se entender. É relativamente fácil apurar se o professor soube realmente ensinar e se os alunos conseguiram realmente aprender, independentemente da metodologia usada e das concepções pedagógicas em jogo, desde que os seus alunos realizem no final do percurso exames bem concebidos. E se se ponderarem os resultados dos exames comparando-os com a média de cada disciplina nas respectivas escolas, estamos muito próximos de um sistema de avaliação muito mais justo, simples, eficaz e dignificante para todos. Claro que para isso era preciso haver mais exames, além de melhores programas e de mais formação de professores, coisas que não parecem interessar minimamente a senhora ministra.

Assim, tudo indica que quando a senhora ministra afirma totalitariamente que ou se aplica o seu modelo ou não há outro, só pode estar a fazer chantagem, o termo que utiliza para descrever o comportamento dos sindicatos junto dos professores, como se os professores fossem idiotas. A verdade é que neste momento já não são os sindicatos a comandar os professores, mas os professores a empurrar os sindicatos, de tal modo que os próprios sindicatos já não estão em condições de cumprir o acordo assinado há meses com o ministério. De nada serve, portanto, ao primeiro-ministro apontar o dedo ao incumprimento dos sindicatos. Se estes tivessem representado devidamente os professores, nunca teriam de voltar agora atrás com a palavra. Por isso, não vale a pena recorrer a fantasias e negar uma realidade muito crua: a insistência do governo no actual modelo está a degradar como nunca o sistema educativo nacional e a pôr em causa o normal funcionamento das escolas. E esta ministra ficará seguramente na história como a maior desgraça que se abateu nos últimos tempos sobre a educação em Portugal. Isso só ainda não é mais notório porque os efeitos das políticas educativas só se tornam evidentes passados vários anos. Por isso é arrepiante ver a senhora ministra insistir – contra tudo e contra todos os que, em Portugal, já alguma vez revelaram interesse pelas questões da educação – numa teimosia própria de mentes obstinadas e dogmáticas. E é também por isso um imperativo de justiça desobedecer a esta lei arbitrária e injusta, sobre uma questão de tão grande importância. Chama-se a isto desobediência civil e foi isso que fizeram em diferentes circunstâncias Gandi, Luther King, Bertrand Russell e muitas das referências cívicas e culturais do nosso mundo. É ilegítimo não cumprir a lei, diz a senhora ministra sem se aperceber que está a ser redundante. Pois é, é ilegítimo não obedecer à senhora ministra, pois foi ela que fez a lei. Mas terá mesmo de ser.

*Professor titular de Filosofia da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, de Portimão"

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http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1349637 , 12/11/2008.