Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Cuidados paliativos, necessários mais ainda tão distantes...


A nossa Amiga, ainda jovem, Mãe de três filhos pequenos, sofre de doença incurável e progressiva. Ao longo de meses lutou contra a doença e lutou pela vida, escondeu o seu sofrimento, sofrendo na intimidade, resistiu crescentemente às más notícias mas sem nunca se deixar abater perante as solicitações e a graça dos seus filhos, sempre acreditou que a vida não lhe pregaria a partida de uma morte anunciada. E assim, a família e os amigos também acreditaram que a sua força de vontade, a ajuda da medicina e um pouco de sorte a trariam de volta a uma vida normal.
É tocante e reconfortante para nós, um grupo de amigos - que estamos bem de saúde ou que porventura estando menos bem vivemos na esperança de a medicina e a vontade de viver tudo resolver pelo melhor - querer e poder ajudar a tornar possível a prestação de cuidados paliativos a alguém que nos é Querido, que em fase terminal da vida merece morrer com dignidade. Ajudando a nossa Amiga ajudamos também a minorar o sofrimento da família mais próxima.
O hospital em que está internada não presta cuidados paliativos, incluindo em regime de apoio domiciliário, e não tem condições para os proporcionar ainda que alguém de forma remunerada ou voluntariamente o pudesse fazer. A segurança social não prevê qualquer apoio em relação a estes cuidados de saúde.
Esta é uma lacuna grande do nosso sistema de saúde. Uma lacuna humanitária perturbadora, que não atende às necessidades físicas, psicológicas, sociais e espirituais dos doentes e das suas famílias em situação de doença grave e progressiva, normalmente acompanhada de intenso sofrimento.
Mas a nossa Amiga - a mesma “sorte” não terá a maioria dos doentes que sofrem de doenças oncológicas e neurológicas degenerativas, muitos deles acabando por morrer sós e perdidos num hospital – vai para casa, para junto dos filhos e das suas coisas, vai ser assistida 24 horas por profissionais de cuidados paliativos, vamos poder visitá-la. Na sua casa e junto dos seus, o alívio do sofrimento e a serenidade vão, explicaram os médicos, substituir o desespero e a solidão.
Imagino que o fim da vida de uma pessoa jovem que tinha pela frente muita vida para viver deve ser um tempo de grande complexidade, em que tudo à sua volta é posto de repente em causa. Se formos capazes de nos colocar no lugar de quem assim está, o que será sempre um exercício muito difícil e imperfeito, compreendemos que tudo deve ser feito para que a derradeira caminhada seja feita com dignidade.

3 comentários:

Bartolomeu disse...

Mesmo quando encurtado é sempre longo e muitas vezes penoso o caminho que nos conduz de regresso a casa.
http://www.youtube.com/watch?v=lGs5wQo4ar0&feature=related
Não será a vida e o mundo, um sonho onde nos tornamos por vezes sonâmbulos?
Serão a solideriedade e o sentimento de amor pelo próximo, breves e fugudios momentos de vigilia no meio desse imenso sonho?

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
A vida é um sonho. Do sonho também faz parte a compaixão, sempre difícil, de nos colocarmos no lugar de quem sofre para podermos ajudar.
Há muito tempo que não ouvia os Supertramp em Dreamer. Obrigada pela lembrança.
Caro Paulo
Obrigada pelo endereço. É um livro para ler com tempo.