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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Défice 2010: não será altura de ajustar para 4,6% PIB+ "delta esqueletos"?

1.Já vamos na 2ª revisão do défice do Sector Público Administrativo (SPA) de 2010, dos 7,3% do PIB iniciais (celebrados pelo Governo em tom de vitória, não esquecer) para os 9,1% actuais - e poderemos ainda ter mais revisões - mas já ninguém recorda que o défice de 2010 teve a ampara-lo uma gigantesca “bengala” que foi a transferência dos activos do Fundo de Pensões da PT para a Segurança Social (SS).
2.Essa operação de cosmética contabilística – que em 2011 começa a funcionar ao contrário, gerando um encargo para a SS de € 160 milhões se não estou em erro - rendeu ao Orçamento de 2010 uma receita extraordinária de cerca de 1,6% do PIB, o que quer dizer que sem a sua contribuição o défice do SPA em 2010 teria sido, pelas contas actuais (ainda não definitivas...), de 10,7% do PIB!
3.Este dado é de grande importância, não por qualquer especulação jornalística mas por uma razão bem séria: é a partir desse valor que se deve aferir o grau de esforço exigido para atingir a meta orçamental que o Governo decidiu estabelecer para 2011 que é, como se sabe, de 4,6% do PIB.
4.Com efeito, o esforço de ajustamento do défice não poderá contar este ano com nova nacionalização de fundos de pensões - não só por falta de “matéria-prima” para o efeito mas também porque os mandatários dos nossos credores (vulgo Troika), que vão definir as metas financeiras para os próximos 4 anos (2011-2014) desconsideram esse tipo de soluções cosméticas...
5.Sendo assim, cabe perguntar: será possível passar, de um ano para o outro, de um défice de 10,7% do PIB – pelo menos, falta saber se haverá mais correcções – para um défice de 4,6%?
6.Eu direi que possível é, mas o risco de não cumprir tal meta é quase FATAL.
7.Basta atentar no que se está a passar na Grécia, que no primeiro ano de aplicação do programa de ajustamento orçamental após a ajuda recebida em Maio de 2010 tem uma derrapagem não inferior a 1% do PIB...
8.A Grécia propunha-se reduzir o défice de 15% do PIB em 2009 – depois da descoberta de uma “vala comum” de esqueletos que levaram o défice para o dobro das estimativas iniciais – para 9,4% do PIB em 2010, ou seja uma redução de 37%...e não vai conseguir, o que lhe está a causar um sério transtorno com os juros a 2 anos em 24%.
9.Nós (o Governo, claro está), como somos "valentões" - irresponsáveis, será mais ajustado – propomo-nos reduzir de 10,7% do PIB (pelo menos, resta saber se há mais “esqueletos”) para 4,6% ou seja uma contracção de 57%!
10.Parece-me que, para evitar males maiores, que adviriam de um incumprimento logo no 1º ano de aplicação do programa, seria da mais elementar prudência convencer a Troika a ajustar o objectivo do défice para 2011, passando a usar a expressão 4,6%+”delta esqueletos”...não concordam?

6 comentários:

José Braz Baptista disse...

Caro T. Moreira:
Na verdade trata-se de uma analise nao-standard. Vejamos:
"Em 1960. o logico americano Abraham Robinson apercebeu-se de que a recta real IR admitia uma nova interpretaçao, deveras curiosa, a recta *IR nao-standard: cada numero podia ser traduzido, nao como um ponto concreto, mas como uma nuvem de pontos." (in Contar e Fazer Contas de Eurico Nogueira et al).

Sera que, sem que ninguem se aperceba, aquele cujo nome nao pode ser pronunciado esta a utilizar analise nao-standard?

Tonibler disse...

Confesso que o governador do Banco de Portugal tornou-se hoje o primeiro responsável que me deu esperança de ir votar.

Tavares Moreira disse...

Caro José Braz Baptista,

Abraham Robinson desenvolveu a sua teoria sobre uma base de calculo infinitesimal...aqui estamos a contemplar uma realidade algo distinta, quiçà oposta, de um défice orçamental sem limite aparente, a caminho das estrelas...
Talvez a astronomia nos possa dar um contributo válido para a exegese do fenómeno orçamental português, quem sabe?

Caro Tonibler,

Refere-se ao Governador actual, em funções? Pode dar-me o link, se for possivel ou outra referência?

Suzana Toscano disse...

Caro Tonibler, eu também não ouvi mas quero mesmo ir ver esse link que o Tavares Moreira lhe pede!
Caro Tavares Moreira, esse seu contributo para o léxico da troika parece-me fantástico, delta esqueletos é mais original que "buraco negro"...

Eduardo Freitas disse...

Caro Dr. Tavares Moreira,

Ouvi, de raspão, umas frases bem acutilantes por parte do Dr. Carlos Costa que não admitiam outra interpretação que não fosse a de visar os actuais locatários do poder. Deixo este link que creio atestar o que afirmo e que foi, "sanitariamente", esquecido pelos jornais digitais.

Tavares Moreira disse...

Cara Suzana,

"Delta esqueletos", a acrescer a 4,6% do PIB em 2011, tem a vantagem, entre outras porventura, de combinar a expressão (por extenso)de uma letra do alfabeto grego, delta, muito utilizada no cálculo diferencial e infinitesimal, com a expressão anatómica esqueletos.
Esta última adquiriu, por mérito próprio, um significado muito grande em sede das finanças públicas portuguesas...
Ou seja, os esqueletos produzem um diferencial positivo sobre o défice orçamental, com a vantagem de não afectar o carácter virtuoso das contas públicas portuguesas nem beliscar a epopeia governamental no capítulo da gestão orçamental!
O défice objectivo contiuna a ser 4,6%, o resto é apenas culpa dos esqueletos e do delta.

Car Eduardo F,

Muito obrigado pelo link, palavras duras e verdadeiras como punhos, as do Governador...
Percebo melhor agora a reacção de muito mal disfarçado incómodo do Governo...acusaram o toque, e de que maneira!