1. No turbilhão de comentários político-económicos, nomeadamente dos opinion-makers com vínculo contratual ao politicamente correcto bem como dos políticos profissionais agora em registo de quase histeria, passou praticamente despercebida uma sábia questão hoje suscitada por um dos economistas que, em minha opinião, tem revelado mais sagacidade na análise da situação nacional, o Dr. Vítor Bento...
2. ...que, muito singelamente, se interrogou: se os empresários (vulgo “patrões”) têm toda a liberdade para aumentar os salários que pagam aos seus trabalhadores, nomeadamente àqueles que auferem o salário mínimo, porque razão estão esperando que seja o Governo, o Estado em suma, a decidir esse aumento?
3. A questão parece ter toda a pertinência quando se ouve dizer que os representantes das confederações estão disponíveis para apoiar o aumento do salário mínimo nacional, juntando-se assim às confederações sindicais (estas com toda a lógica, uma vez que a demagogia, eregida a instrumento de trabalho quase obrigatório, já é desculpável)...
4. Com efeito, se os representantes patronais estão sendo sinceros, e se o aumento é assim tão oportuno, porque “carga de água” haverão as empresas associadas nas suas confederações de aguardar pelo aumento legal do salário mínimo nacional se dele não precisam para efectuarem os aumentos que muito bem entenderem?...
5. ...porque razão as Confederações Patroniais não dirigem já uma Carta-Circular aos seus associados, convidando-os a procederem a esse aumento sem mais demora, sem esperarem pela alteração da disposição legal?
6. Trata-se de um enigma muito curioso, que diz bem do grau de irrealismo e demagogia que hoje se instalou na discussão destes temas...muito provavelmente, se dirigissem aos seus associados a tal Carta-Circular, os responsáveis patronais arriscavam-se a receber em resposta numerosas missivas bem pouco simpáticas, algumas porventura com comentários bem abrasivos...
7. ...assim preferem habilmente atirar o odioso para cima do Governo que, queimado por 100 ou queimado por 500, já tanto faz! Mas que exemplo de coerência e de boas-práticas!
30 comentários:
Caro Tavares Moreira,
O aumento do salário minimo obriga todas as empresas a aumentarem os salários, mantendo um "level-playing-field" entre todas elas.
Impede por isso um ciclo vicioso de baixa de salários continuada, nas funções de menor especialização.
Foi por isso que se inventou o salário minimo.
Sim! Por que será que os "patrões" não o aumentam se uma grande parte de "empresários" paga acima desses mesmos salários mínimos? Tampouco sei ou reconheço se é para queimar ou não. Mas, uma família de dois elementos, um só salário mínimo, será que vivem com dignidade?
Deixe lá...!
Se termina dizendo que "preferem habilmente atirar o odioso para cima do Governo "...
seguindo um "exemplo de coerência e de boas-práticas!"
é caso para coerentemente responder:
"Não sejam piegas..." pois que "ai aguentam, aguentam!"
(...o governo "liberal" diz que não, e os empreserios dizem que sim! malandros dos empresários, sempre a tramar o Governo! é que devem ser mesmo mauzinhos!)
O acordo entre confederações patronais e sindicais permite-nos assistir à concretização de um objectivo do Estado Corporativo: a conciliação dos interesses do capital e do trabalho.
Quarenta anos após a morte política de Salazar !
Só falta proporem a reposição do Ministério das Corporações !
Caro Tavares Moreira,
Uma dos objectivos do salário ser o mínimo admissível, é que ele não fique abaixo disso ou seja abaixo do valor minimamente justo a cada momento.
Todos os «patrões» são livres de aumentar. O que não são livres é de contratar (uma vez que é ilegal diminuir salários, por enquanto...) a preços de trabalho abaixo do ordenado minimo. E com o desemprego que há por aí, e quando vemos o MAIOR empregador nacional privado a preconizar baixos salários, o perigo de dumping é real.
Não sei o que é mais demagogo, se os tais comentadores que fala, ou se aqueles que nunca precisando sequer de salário, passam a vida a opinar sobre o que os outros ganham. Nesse aspecto comunas e certa classe endinheirada, que nem são empresários, nem são gestores, nem se sabe muito bem o que são, têm como passatempo falar do ordenado dos outros. Uns falam dos ordenados dos ricos achando que eles deviam ganhar menos, outros falam do ordenador dos pobres, achando que eles deviam.... ganhar menos.
curiosidades.
Eu nunca percebi quem é que faz parte dessas associações patronais. Sei que os jornais lhes chamam "os patrões" mas nunca conheci nenhum que fizesse parte, nem nunca percebi que as pessoas que aparecem fossem patrões de alguém. Um pouco como o Carvalho da Silva, parece que era electricista quando começou a representar os trabalhadores e, 500 mil desempregados depois, já era professor universitário mas não consta que nesse período intermédio tenha sido trabalhador de alguma coisa. O Rocha de Matos não consta que seja patrão de alguma coisa deste que a sistel foi para os japoneses há 20 anos...
Quanto ao salário mínimo, não está baixo. Mas não me parece que precise de descer ou subir 5 euros. O nível a que está, mais ou menos uns pós, parece cumprir com a função.
o rectângulo nunca conheceu um estado tão corporativo
os patrões são os mesmos que recusaram a tsu
deve ser para ouvir sempre a cassete do não que convocam o intelectual da cgtp, uma viola num enterro
parecem que esperam por um tio Adolfo
Vindo este comentário de economistas é um espanto, não saberem porque é que tem de ser legislado. Deixo aqui esta explicação:
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2013/03/e-que-tal-regressar-aos-bancos-da.html
Caro Paulo Pereira,
A questão não é essa, de saber para que serve o salário mínimo.
Aliás essa sua noção do level playing field é muito curiosa, pois havendo empresas em situações de enorme disparidade quando às condições de exploração, invocar o level playing field neste caso é absolutamente extraordinário...
Mas enfim, por ser do Porto e um cavalheiro habitualmente bem disposto, está perdoado!...
Caro Carlos C,
A resposta à questão que coloca no final do seu comentário depende de muitos factores (nomeadamente se existem rendimentoa de outras fontes que não o trabalho) mas, em qualquer caso, não é o tema deste Post.
Caro Pedro,
Se conseguir ser um pouco mais explícito nas suas considerações, a comunidade agradece...
Caro António Pires,
Com mais um esforçozinho, de razoável intensidade, lá chegaremos, certamente!
Caro Carlos Monteiro,
Importa-se de repetir? Descupar-me-á a interrogação, mas o que diz tem alguma relação com o teor e sentido deste Post?
Caro Tonibler,
Confesso que partilho algumas das suas dúvidas...
Cara Isabel Costa,
O espanto que manifesta é retribuido em dobro/triplo/quádruplo, etc, pois a questão que coloquei tem muito pouco ou mesmo nada a ver com o que refere!
Se as empresas para aumentar salários tivessem necessidade de um diploma legal...
Caro Tavares Moreira,
Creio que o meu comentário corresponde ao tema que lançou. Repetir não valerá a pena. Basta ler outra vez.
O que os austeristas germanófilos perseguem, é a aplicação no país, de modo rápido e eficaz, do cardápio neoliberal. Eles estão contra o salário mínimo por considerarem tal coisa uma “intervenção abusiva do Estado no mercado de trabalho”.
Milton Friedman (um dos seus principais teóricos) afirma que “se há desemprego então deverão reduzir-se os salários. Se esta diminuição dos salários não é capaz de gerar emprego, então é preciso continuar a baixar os salários”. Para que os salários possam baixar, devem desaparecer os Sindicatos, já que estes não permitem que haja uma “livre” contratação da mão-de-obra, impedindo que o valor da força de trabalho se fixe pelas leis de mercado. Se os Sindicatos fazem subir o salário, isto leva a reduzir o nível de emprego.
São estes os objectivos inconfessados destes autênticos depredadores sociais. O resto é conversa fiada.
Nesta lógica, permitam-me a ironia, e no caso português, pelos vistos, ” para que os salários possam baixar, devem desaparecer não apenas os Sindicatos”, mas as próprias Confederações Patronais.
São uns cómicos estes fósseis da ortodoxia.
Caro Carlos Monteiro,
Fiz o que me sugeriu, fui reler o seu comentário mas o resultado é o mesmo: nihil, não consigo vislumbrar a ligação ao que consta do Post que escrevi.
Na dúvida, todavia, deve prevalecer o esclarecido conteúdo do seu comentário, pelo que o melhor será esquecer o Post se não se importa.
Só existem duas explicações racionais.
Ou as confederações patronais não representam quaisquer patrões.
Ou os patrões que representam têm margem para aumentar os salários mais baixos, e têm interesse em que os concorrentes que não tem margem para o fazer saiam do mercado.
De qualquer das formas, são um estranho aliado dos sindicatos estes patrões, que claramente não valorizam os seus empregados o suficiente para lhes pagar mais que a concorrência.
Caro Tavares Moreira,
Mais esclarecedor não sei ser...
Caro Carlos Monteiro,
Lá diz o velho e sábio ditado: El que dá lo que tiene, a más no está obligado...
Uma verdade de sempre.
Cordiais cumprimentos.
“Só existem duas explicações racionais”.
Não, há uma outra. Os patrões e as confederações patronais sabem que sem procura não há produção. Coisa que não entra na cabeça dos austeristas germanófilos.
Caro Tavares Moreira,
Em geral as empresas "boas" que se associam em associações e confederações são favoráveis ao um salário minimo condigno porque impede empresas "más" de pagarem salários demasiado baixos.
As empresas "boas" estão conscientes de que é dos salários que vem a maior parte do poder de compra que permite pagar os produtos e serviços que as empresas vendem e assim estão conscientes que os salários não devem baixar e se possivel devem subir.
Caro Tavares Moreira, já que estamos na troca de cromos:
"A carapuça é uma espécie de barrete ou capuz de forma cónica e remonta ao período da Inquisição, em que os condenados eram obrigados a vestir trajes ridículos para comparecer aos julgamentos. Além de usarem uma túnica com o formato de um poncho, precisavam de colocar sobre a cabeça um chapéu longo e pontiagudo, conhecido como carapuça. Daí a expressão “enfiar a carapuça” ou “enfiar o barrete“.
Caro Carlos Monteiro,
Brilhantíssimo! Admirável! Parabéns!
Obrigado.
Enfim, este azedume, esta manifesta irritação destes austeristas germanófilos, face à concordância dos patrões quanto ao aumento do salário mínimo, tem por base o total desconhecimento da realidade económica do país. Não compreendem que o drama actual dos patrões não é lograrem ou não obter maiores lucros, (onde se colocaria a questão do salário mínimo) mas a da própria sobrevivência dos seus negócios. Compreendem os patrões que sem Procura não há comércio ou produção. E, que qualquer aumento de salário fomenta a Procura.
Mas, uma tal constatação não entra na cabeça dura dos austeristas germanófilos. Têm uma fé inquestionável na Lei de Say, e isso lhes basta. Mesmo que o mundo se arruíne à sua volta. Para eles o caminho traçado é o correcto e, custe o custar, tem que seguir em frente.
Caro Paulo Pereira,
Muito boa essa dicotomia entre empresas boas e as ouras, as primeiras supostamente pertencentes aos universos associativos ou confederativos...
Mais uma razão para que eu não perceba de todoa razão pela qual - estando os dirigentes associativos ou confederativos de acordo quanto ao aumento do salário mínimo, com o ainda há poucos dias tornaram público - não tomam eles a inciciativa de recomendar aos seus associados esse aumento, não ficando à espera de uma medida governamental para eles perfeitamente dispensável?!
Aqui há gato escondido, meu Caro...
Tanto quanto sou capaz de perscrutar as mentes galanteadoras destes mentores empresariais, eles fingem estar de acordo com a medida porque sabem que o Governo não a vai tomar...e assim julgam poder ficar nas melhores relações "com Deus e com o diabo", como se dizia nos meus tempos de juventude!
Estranha forma de vida!
Caro Tavares Moreira,
As leis inventaram-se para serem universais e não permitirem que alguns abusem da boa vontade dos outros.
No caso do salário minimo é o mesmo.
O que é muito interessante é que como dizia há uns dias atras, a vantagem deste neoliberalismo radical da UE é que poderá conseguir que os povos se vacinem contra esta ideologia por muito anos, tal como aconteceu entre 1946 e 1979.
Caro Paulo Pereira,
Diabos me levem se conseguir entender o seu último comentário!
Mas que confusão, perdoe-me este desabafo, entre produção legislativa e decisões que são do foro exclusivamente empresarial!
E que tem isto a ver com neoliberalismo da UE ou da Coreia do Norte, meu Deus?!
O Senhor já corre o risco de qualquer dia nem conseguir dormir a pensar em neo-liberais que o perseguem a todo o instante!
Caro Tavares Moreira,
Tem razão, os neoliberais radicais que mandam na UE tiram-me parte do sono e do sossego, é que me enerva pensar que a nossa riqueza está dependente dessa gente perigosa.
A questão do salário minimo é um dos pilares do neoliberalismo, por isso a ligação que fiz.
As teses neoliberais, baseadas na economia neoclassica e austriaca, juram a pés juntos que se os salários baixarem o desemprego diminui !!!
E isto são teses perigosas para quem gosta de ganhar dinheiro como eu !
Caro Paulo Pereira,
Deixe-me dizer-lhe, à guisa de comentário amigo, que a sua última preocupação, no plano pessoal, obviamente, deve ser o salário mínimo!
Não creio que seja pelo valor fixado a esse salário que o Senhor vai ganhar mais ou menos dinheiro! Ou será?
Caro Tavares Moreira,
A preocupação sobre o salário minimo tem a ver com o avanço do tal "programa neoliberal" na UE e no Mundo em geral.
Baixar os salários empobrece toda a sociedade, e numa sociedade mais pobre é mais dificil ganhar dinheiro.
É o velho debate Keynes vs Hayek.
Caro Paulo Pereira,
Não creio que Keynes e Hayek fossem ignorantes ao ponto de gastar algum tempo a discutir um assunto como a necessidade de uma intervenção legislativa para que as empresas que o pretendam fazer aumentem mesmo os salários - mínimos, médios ou máximos...
Só mesmo em Portugal e neste tempo de confusão absolutamente generalizada...
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