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segunda-feira, 3 de junho de 2013

Os números de "carne e osso"...

Os números foram retirados de um estudo realizado pela Federação dos Bancos Alimentares contra a Fome, a ENTRAJUDA e a Universidade Católica Portuguesa (CESOP). O estudo inquiriu 3.880 pessoas carenciadas, entre Setembro de 2012 e Janeiro de 2013, através de 388 instituições de solidariedade social que as apoiam. A taxa de resposta foi de 62.4%.
São a expressão de como está a vida de milhares de portugueses, atingidos pelo desemprego, por rendimentos do trabalho baixos, sem esquecer os mais velhos com pensões reduzidas. É mais um alerta para a necessidade de as políticas de austeridade protegerem os mais vulneráveis, não ultrapassando a fasquia da crueldade.
Graças à rede capilar de instituições de solidariedade social que enfrenta também muitas dificuldades, os recursos são menores e os pedidos de ajuda são maiores, muitas pessoas e famílias são amparadas com bens de primeira necessidade e com o calor humano de quem trabalha para ajudar o próximo e minorar o seu sofrimento.
Da sociedade civil, e em particular do terceiro sector, espera-se mais ainda, mas a sua capacidade de responder às necessidades sociais impostas pela crise não pode desvincular o Estado das suas responsabilidades para com os mais vulneráveis.
A campanha do Banco Alimentar realizada este fim de semana correu bem, os portugueses foram generosos e quiseram participar. Era  previsível que a deterioração da situação económica das famílias tivesse reflexo nas suas possibilidades de contribuir.
Aqui fica a "estatística" da vida de muitos protugueses a quem a crise empurrou para a pobreza e privação:
- Em 52% dos agregados familiares o valor total auferido por mês é inferior ao salário mínimo nacional – 23% das famílias auferem menos de 250€, 52% menos de 400€ e 26% mais de 500€.
- Em 32% dos casos o rendimento provém do trabalho, 40% dos casos o rendimento provém de pensões.
- 26% diz ter tido falta de alimentos ou sentido fome alguns dias por semana, nos seis meses prévios ao inquérito, 14% refere que tal aconteceu pelo menos um dia por semana.
- 39% passou um dia inteiro sem ingerir quaisquer alimentos, por falta de dinheiro. Em 2010 eram 27%. A situação agravou-se em 12%
- Apenas 23% dizem ter dinheiro para comprar comida até ao final do mês. Em 2010 este valor era de 47%. A situação agravou-se em 24%.
- 72% sente-se só muitas vezes ou às vezes. A família assume-se como a principal fonte de ajuda, procuram a família essencialmente para ajuda alimentar ou financeira.
- 51% dos casos recorre às instituições de solidariedade social. Quem o faz caracteriza-se por ter um rendimento mais baixo, por ser mais velho e por ser reformado ou desempregado. 83% dos casos recebem ajuda alimentar.
- 82% respondem que hoje se sentem pobres. Em relação a 2010 este sentimento de pobreza subiu 10%.
- 17% dizem que nunca foram pobres, 50% já passaram por situações de pobreza anteriormente e 34% sempre se sentiram pobres. São os jovens que se sentem mais pobres.
- Relativamente às causas da pobreza, 48% atribuem a pobreza a razões associadas à sociedade – desemprego e baixos rendimentos - e 37% ao fatalismo, isto é, atribuem a pobreza ao destino.

6 comentários:

Carlos Sério disse...

Notícia em rodapé na RTPI : 46% da população deixou de comprar medicamentos por falta de dinheiro.
É simplesmente assustador.
Será que os verdadeiros sociais democratas não são capazes de fazer parar estes cegos, surdos e fanáticos governantes?

Pedro disse...

pois...
..dê-se então palavra aos que á minima critica nos apelidam de "crescimentistas"...
...aqueles que perante o evoluir da situação, recorrentemente louvam o Governos e os "sucessos" da politica "au-histerica".

É que os numeros deste estudo, que apresentam, são mesmo concretos e teem impacto directo na vida de pessoas, sim, pessoas mesmo de carne (cada vez menos) e Osso (cada vez mais).

Isto não são numeros de "ratings" ou "avaliações externas" que para alem da especulação intrinseca aos mesmo...teem um impacto não só longincuo com por vezes até pura e simplesmente abstracto.

Perante a dureza da realidade, dê-se a palavra aos que a aplaudem e louvam ...

Carlos C disse...

Caro Carlos Serio e Pedro
Por conversa não se vai lá, esses continuam no alto do pedestal a mandar "postas de pescada". Bom, bom seria pegar neles, despoja-los das mordomias e coloca-los em igualdade de circunstancias com os que deram origem a estes números. Era vê-los saltar a grade.

Paulo Pereira disse...

Este é o resultado de mais de 20 anos de politica de moeda forte e de conversão ao neoliberalismo do PSD e do PS.

A desindustrialização dos anos 90 foi acompanhada do aumento da despesa publica que disfarçou o desastre economico durante 10 anos.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caros Comentadores
Chegámos onde chegámos porque não fomos capazes de fazer de maneira diferente, as prioridades que fomos estabelecendo mostram agora como nos enganámos. Precisamos de fazer ajustamentos e de mudar de vida rapidamente. Querer corrigir os défices e excessos de que padecemos em três anos - o que já não vai ser possível - provoca custos de socialização que nos devem questionar sobre a sua razoabilidade. Não há limites? Quais são? A “cura” está a matar muitos doentes…

Paulo Pereira disse...

O deficit publico está nos 6% e não sai dai desde 2011.

O deficit externo já está anulado há 12 meses, mas o governo anda a leste e segue a cartilha neoliberal radical de atacar o deficit publico de qualquer maneira custe o que custar.

Ou é ignorãncia ou irresponsabilidade.